Jornal de Angola

Ministro do Território pede reorientaç­ão do debate

MAT defende reorientaç­ão do debate sobre autarquias Ministro da Administra­ção do Território e Reforma do Estado, Adão de Almeida, pediu mais contribuiç­ões da sociedade civil para questões sobre atribuiçõe­s e competênci­as das autarquias no domínio de secto

- Santos Vilola

O ministro da Administra

ção do Território e Reforma do Estado, Adão de Almeida, l a mentou o n t e m, e m Luanda, que o debate sobre o processo de implementa­ção das autarquias no país esteja centrado apenas na necessidad­e de serem criadas as condições para a institucio­nalização do poder local, descurando o que ele vai f a z e r e m c o ncre t o quando for institucio­nalizado em 2020.

Adão de Almeida afirmou que, no estádio em que se encontra o debate sobre o processo de auscultaçã­o sobre os diplomas que vão regular as autarquias que termina no dia 27 do mês em curso em Luanda, as preocupaçõ­es deviam ser alargadas a um aspecto bastante crucial, que é a dimensão, atribuiçõe­s e competênci­as a transferir para as autarquias.

Um destes exemplos, é a forma de implementa­ção gradual e sequencial, já previsto na Constituiç­ão da República aprovada em 2010, sobre a qual já não devia haver debate.

“Há algumas questões importante­s neste processo, provavelme­nte das mais importante­s, que menos têm sido abordadas, como saber qual é o espaço que vai ser aberto às autarquias nos domínios das atribuiçõe­s e competênci­as, por exemplo, na saúde, educação, etc.”, disse Adão de Almeida.

O ministro indicou igualmente que as contribuiç­ões ao debate estão a passar ao lado de uma questão muito sensível, que é a relação das autarquias (administra­ção local autónoma) com o Estado, que tem também órgãos da administra­ção local estadual.

Adão de Almeida considerou, por isso, que “é preciso preservar a autonomia local, o princípio de base orientador­a, mas também encont rarem- se mecanismos equilibrad­os de relaciona- mento entre as estruturas do Estado - e no nosso caso ainda há uma estrutura intermédia que é o governo provincial - e a autarquia local”.

Ontem, o ministro Adão de Almeida ouviu diferentes perspectiv­as de personalid­ades de áreas de especialid­ades que podem ajudar a promover o desenvolvi­mento local, que é o grande objectivo do Executivo com a implementa­ção das autarquias.

O ministro disse que o propósito em ouvir juristas, economista­s, sociólogos, historiado­res e especialis­tas de outras áreas é criar o potencial para o surgimento mais rápido e equilibrad­o do desenvolvi­mento local com a participaç­ão de todos.

“O objectivo era ouvir personalid­ades com especializ­ação em diferentes domínios e com intervençã­o pública notável. Queremos alargar os nossos horizontes através de pistas que estas pessoas podem dar”, disse.

O mini s t r o Adão d e Almeida declarou que, normalment­e, há tendência de uma maior concentraç­ão em aspectos, até notórios, eventualme­nte, de ordem financeira (finanças públicas) e administra­tiva (organizaçã­o administra­tiva), mas considera que não se podem descurar ligados a outros sectores específico­s, como sociológic­o e histórico, que podem ser fundamenta­is no processo de implementa­ção das autarquias.

Adão de Almeida abordou ontem, na s ede do Ministério da Administra­ção do Território e Reforma do Estado, as propostas de leis do pacote legislativ­o autárquico com personalid­ades da vida académica, política, económica e social do país, representa­ndo as mais diferencia­das tendências de opinião da sociedade.

Contribuiç­ões apresentad­as

O jurista Benja Satula disse que apresentou no encontro questões sobre as inelegibil­idades automática­s dos autarcas. A lei prevê que determinad­as pessoas não sejam elegíveis para as autarquias. É o caso de pessoas que tenham sido condenadas a uma pena de prisão superior a dois anos. “Chamei à atenção para o facto de a nossa legislação penal estar a ser alterada, os tipos de crimes também. Então, era necessário aumentar este limite de dois anos”, disse o jurista.

Benja Satula considerou fundamenta­l que as inelegibil­idades não sejam automática­s. “Uma pessoa só deve perder direitos políticos se for condenada por um crime no exercício de funções políticas. Se o crime não tiver a ver com o exercício de funções políticas, seria falta de cautela fazer com que ela fosse inelegível”, disse.

O penalista alertou que a reflexão sobre as autarquias ter de ser feita também sobre a figura do governador provincial (representa­nte do poder central na província). “Temos de saber, com as autarquias locais, qual será o lugar reservado aos governador­es provinciai­s, que fazem parte da administra­ção local estadual”, disse.

Outra questão fundamenta­l defendida pelo jurista, é a unificação das propostas de leis sobre a institucio­nalização das autarquias e a das atribuiçõe­s e competênci­as das autarquias. “Nessa equação, temos de ter em conta que podemos ter autarquias supra-municipais e infra-municipais, para permitir que, à medida em que as autarquias são supramunic­ipais, determinad­as pessoas vão adquirindo competênci­as e, depois, até desmembrar estas autarquias, já tenham competênci­as”, disse Benja Satula.

Para o sociólogo Paulo de Carvalho, a ideia de que as autarquias vão resolver todos os problemas é falsa.

“O modelo actual de centraliza­ção administra­tiva faliu, mas pensarmos que um outro modelo vai automatica­mente resolver os problemas é mentira”, disse.

“Devemos partir para este modelo de descentral­ização administra­tiva com os pés assentes no chão ao invés de pensarmos nos dividendos políticos que cada um quer tirar em relação a si próprio ou partido político”, referiu.

O sociólogo disse não ver no gradualism­o uma forma de tratamento desigual entre localidade­s do mesmo país. “Temos de ver que não existem condições actualment­e para que todas as localidade­s sejam autarquias, não apenas por razões financeira­s, mas também por razões de natureza antropológ­ica ou sociológic­a”, acrescento­u.

“Há algumas questões importante­s, provavelme­nte das mais importante­s, que menos têm sido abordadas, como as atribuiçõe­s e competênci­as no domínio da saúde, educação”

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Sociólogo Paulo de Carvalho e o jurista Benja Satula valorizam o processo de consulta pública para enriquecer as propostas
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VIGAS DA PURIFICAÇíOO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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