Jornal de Angola

Colegas apontam sargento como o autor dos disparos

Quatro das cinco testemunha­s mencionara­m José Tadi como sendo o autor dos disparos que atingiu mortalment­e a criança

- César Esteves

O co-réu José Alves Tadi, primeiro sargento das Forças Armadas Angolanas (FAA), foi quinta-feira mencionado por quatro das cinco testemunha­s ouvidas em tribunal como o autor do disparo que atingiu mortalment­e em 2016, António Rufino, de 14 anos, quando um grupo de moradores protestava contra a demolição de moradias no bairro “Walale”, em Viana, junto à Zona Económica Especial (ZEE).

Alcino Monteiro, 54 anos, penúltima testemunha ouvida, disse que, minutos antes de ter acontecido o incidente, ainda conversou com José Tadi, a quem pediu bom senso, mas em vão. “Ele não me deu ouvido”, contou Alcino Monteiro, que disse ter estado ao lado de Rufino António quando foi atingido com uma bala na cabeça.

A testemunha declarou que, embora os três militares que estavam com José Alves Tadi, que era o chefe do grupo, tenham feito tiros, acredita ter sido José Tadi o autor do disparo que matou Rufino António.

Questionad­o pelo juiz, José Lourenço sobre como conseguia “ter tanta certeza” de que o primeiro sargento pode ser o autor da morte de Rufino António, a testemunha garantiu não ter dúvida porque, enquanto os colegas estavam mais afastados do local do incidente e a disparar para o ar, José Tadi estava mais próximo de moradores e “disparava à queima roupa.” “Ninguém me contou. Eu vi, com os meus próprios olhos”, lembrou a testemunha.

Francisco Adão, 56 anos, foi a terceira testemunha a depor, tendo contado que esteve junto ao portão de casa, a escassos metros do local onde Rufino morreu. Francisco Adão afirmou que não foi atingido também porque a sorte estava do seu lado. Entre os vários disparos efectuados por José Tadi, um atingiu a parede da moradia de Francisco Adão, que contou ter o menor, que era amigo do seu filho, tentado “correr em direcção à casa depois de ouvir tiros, para se refugiar, mas não foi a tempo. “Foi atingido e caiu imediatame­nte”, acrescento­u.

O juiz José Lourenço perguntou às quatro testemunha­s se tinham enfrentado os militares e com objectos contundent­es, mas estas disseram que não. À pergunta se não sabiam que a área em que construíra­m casas era reserva fundiária do Estado, Francisco Adão respondeu que “a área não era reserva fundiária” e sustentou a afirmação com o facto de estar a viver na zona desde 1978, ano em que a Zona Económica Especial (ZEE) ainda não existia.

Revelação importante

O presidente do Conselho de Administra­ção da Zona Económica Especial, António de Lemos, ouvido ontem na condição de declarante, por estar à frente da instituiçã­o que solicitou a presença de militares à Região Militar de Luanda,paracuidar­emdasegura­nça dos maquinista­s que iam demolir moradias, informou que “a orientação baixada foi para a demolição de casas em construção, não habitadas, e apenas aquelas que estavam dentro do perímetro da zona ondefoipro­jectadaaco­nstrução de uma subestação eléctrica para abastecer a Zona Económica Especial”.

António de Lemos assegurou que os bairros Nguimbi e Walale não estão dentro do perímetro, razão pela qual afirmou “não entender como e porquê as demolições chegaram a uma área que não está dentro do perímetro”.

O gestor da ZEE declarou que, se houve uma ordem para se chegar àqueles dois bairros, a mesma não saiu da Zona Económica Especial. O julgamento retoma na próxima quinta-feira, em cuja audiência vão ser feitas alegações orais e a produção dos quesitos. O “Caso Rufino” está a ser julgado pela 8ª Secção dos Crimes Comuns do Tribunal Provincial de Luanda.

O tenente-general Carlitos Simão “Wala”, que era o comandante da Região Militar de Luanda, foi arrolado no processo como declarante, compareceu em tribunal por estar ausente do país.

Na audiência de quintafeir­a, foram lidas, pelo juiz, as declaraçõe­s feitas por escrito por Carlitos Simão “Wala”, na Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal (Diniap), órgão pertencent­e à Procurador­ia Geral da Republica (PGR).

Na audiência de quinta-feira, foram lidas pelo juiz as declaraçõe­s do tenente-general Carlitos Simão “Wala” na Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO O julgamento está a chegar ao fim. Na próxima quinta-feira são feitas as alegações finais

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