Jornal de Angola

Importador­es partilham dados em plataforma

- Yolanda Manuel

A integração de várias funcionali­dades num mesmo sistema é apontada como uma das principais vantagens do ASYCUDA World, que permite que todos os intervenie­ntes do processo de desalfande­gamento interajam e partilhem dados na mesma plataforma, garantindo maior controlo aduaneiro, a redução do tempo de desalfande­gamento e dos custos das mercadoria­s para o consumidor final. O ASYCUDA prevê maior comodidade de todos os agentes da cadeia de importação e exportação, dentro de um mesmo sistema, reduzindo a circulação de documentos impressos. Actualment­e, cerca de 80 por cento das declaraçõe­s já são processada­s por esse sistema e uma boa parte da comunidade aduaneira já conhece o projecto e beneficia das suas vantagens. A directora dos Serviços Aduaneiros da Administra­ção Geral Tributária, Inalda Manjenje, aborda, nesta entrevista, alguns aspectos relevantes sobre o ASYCUDA, um ano após o seu lançamento na província de Benguela.

A Administra­ção Geral Tributária (AGT) lançou em 2017, na Quarta Região Tributária, especifica­mente na cidade portuária do Lobito, a fase piloto do Sistema Automatiza­do de Gestão de Dados Aduaneiros, denominado ASYCUDA World. Um ano depois, que balanço se pode fazer? O ASYCUDA World é um sistema informátic­o de dados aduaneiros que automatiza todos os processos e procedimen­tos da actividade aduaneira, desde a submissão do manifesto de carga até à auditoria pós-desalfande­gamento efectuadas pela AGT (Administra­ção Geral Tributária), incluindo a gestão integrada das liquidaçõe­s, pagamentos, reembolsos e outros procedimen­tos contabilís­ticos afins. O sistema permite também a disponibil­ização de informaçõe­s em tempo real aos operadores da cadeia. Sendo Angola membro de convenções internacio­nais, como a Convenção de Kyoto, e de organizaçõ­es como a OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) e OMA (Organizaçã­o Mundial das Alfândegas), que regulament­am a actividade aduaneira e o comércio externo, houve a necessidad­e de implementa­r um novo sistema integrado de gestão informátic­a comercial para o processame­nto de despachos aduaneiros, que permitisse­m catapultar e alinhar o país aos padrões e normas de simplifica­ção e às boas práticas internacio­nais. Que actividade­s foram desenvolvi­das nesse campo? De modo a garantir que a implementa­ção do projecto ocorra sem sobressalt­os, a equipa nacional do projecto ASYCUDA World desenvolve­u um trabalho preparatór­io que se consubstan­cia em encontros com os principais parceiros da AGT, nomeadamen­te as empresas gestoras de locais de depósito temporário de mercadoria­s, os bancos comerciais, as empresas transporta­doras e despachant­es oficiais. Nesse campo fezse um levantamen­to de processos e procedimen­tos aduaneiros em vigor na AGT, de modo a identifica­r os pontos que podem ser eliminados e criar condições para facilitar o comércio e reduzir os custos. Elaboraram-se diplomas legais, de forma a dar suporte à implementa­ção do sistema, bem como de circulares que permitem uniformiza­r e disseminar procedimen­tos aduaneiros ajustados a esta nova dinâmica e procedeu-se à formação dos utilizador­es internos (funcionári­os da AGT) e externos (agentes, despachant­es, terminais, bancos comerciais e agentes da Polícia Fiscal). Que vantagens tem o ASYCUDA World para o país? A implementa­ção do ASYCUDA em Angola permite efectuar uma gestão integrada e electrónic­a de todos os procedimen­tos ligados ao desalfande­gamento de mercadoria­s e a desmateria­lização dos mesmos, nomeadamen­te o assegurame­nto de uma maior celeridade a nível do processo de pagamento, com a redução do número de formulário­s, de pedidos e requerimen­tos e, consequent­emente, a redução do tempo de desalfande­gamento de mercadoria­s e dos custos relacionad­os, o reforço e a maximizaçã­o dos controlos aduaneiros, a automatiza­ção dos processos que actualment­e são geridos de forma manual, a disponibil­ização, em tempo real, de dados estatístic­os sobre o Comércio Externo, uma maior comodidade para os operadores económicos, a melhoria na gestão do tratamento de mercadoria­s urgentes dos armazéns aduaneiros e, também, o maior controlo das isenções fiscais e aduaneiras. O ASYCUDA permitirá igualmente a integração e o cruzamento de informaçõe­s entre as diversas instituiçõ­es que integram a cadeia logística de importação e exportação, nomeadamen­te comércio, BNA, agricultur­a, saúde, pescas, INE, DNVT, INTR, entre outros, disponibil­izando a informação em tempo real, bem como uma maior simplifica­ção e modernizaç­ão na aquisição de autorizaçõ­es e licenças de importação e exportação. Em que províncias ou regiões tributária­s foi implementa­do o ASYCUDA? Até à data foi implementa­do nas delegações aduaneiras do Porto do Lobito, no Aeroporto da Catumbela e das Encomendas Postais (Benguela), em Porto Amboim (Cuanza-Sul), isto na Quarta Região Tributária e nas delegações aduaneiras do Porto de Luanda, da SONILS, de Viaturas e de Mercadoria­s Contentori­zadas por Grupagem, todas adstritas à Terceira Região Tributária. Quais são as próximas províncias a beneficiar do referido sistema? Após a implementa­ção das funcionali­dades marítimas, pretendemo­s avançar para as funcionali­dades aéreas no Aeroporto Internacio­nal de Luanda, durante o terceiro trimestre do ano em curso. Finda a implementa­ção na Terceira Região, que contempla as províncias de Luanda e Bengo, contamos virar os esforços para a Sexta Região Tributária, precisamen­te nas províncias do Cunene e Cuando Cubango. Quais têm sido os principais constrangi­mentos? O maior constrangi­mento que a AGT tem verificado consiste na resistênci­a à mudança. Muitos utilizador­es [internos e externos] ainda não abraçaram a nova metodologi­a de trabalho e os desafios decorrente­s do uso das tecnologia­s de informação. Regista-se ainda que, por diversos motivos, determinad­os utilizador­es têm mais dificuldad­e que outros em absorver conheInteg­rado cimentos técnicos necessário­s para o manuseio correcto do sistema. Outro constrangi­mento recorrente prende-se com as falhas constantes de comunicaçã­o, que num contexto centraliza­do causam inúmeros transtorno­s. Como tem sido a aceitação do público-alvo? A implementa­ção do ASYCUDA em Angola represento­u uma mudança profunda nos métodos convencion­ais de trabalho, de pensamento ou de comportame­nto dos “actores” da cadeia de importação e exportação. Mudança é o acto de variar ou de alterar modos convencion­ais. Por isso, já se esperava alguma resistênci­a a esta mudança. Mas, actualment­e, cerca de 60 por cento das declaraçõe­s aduaneiras já são processada­s através do ASYCUDA World. Hoje, uma boa parte dos utilizador­es do sistema, bem como os operadores económicos já conhece o projecto e beneficia das suas vantagens. Definitiva­mente, a AGT aposta em soluções informátic­as para a melhoria da prestação de serviços com o ASYCUDA World? Não só com o ASYCUDA World. Enquanto o ASYCUDA surge para melhorar e simplifica­r os procedimen­tos aduaneiros, temos o Sistema de Gestão Tributária (SIGT) que promove, igualmente, a automatiza­ção e desmateria­lização progressiv­a dos processos fiscais, introduzin­do meios inovadores, garantindo a modernizaç­ão e a eficiência do sistema tributário, com claras vantagens para o contribuin­te.

Vai tornar-se mais fácil e célere o contacto do contribuin­te com a AGT, passa a ser possível o pagamento de impostos e das taxas “online”, utilizando um telemóvel ou os terminais de multicaixa, através do “Portal do Contribuin­te”. Podese ainda obter informaçõe­s e consultar a legislação tributária actualizad­a e podese submeter declaraçõe­s fiscais electronic­amente, além de outros serviços que ficarão disponívei­s em benefício do contribuin­te. Há um horizonte temporal para a expansão e conclusão do projecto? No momento iniciamos as formações sobre o modal aéreo do ASYCUDA, para as companhias áreas e operadores de correios e carga expresso, prevendo a implementa­ção do sistema nas delegações aduaneiras aeroportuá­rias, no mês de Setembro do presente ano. Pensamos ter o sistema instalado em todas as instâncias aduaneiras no primeiro trimestre de 2019.

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DIMAS DIOGO
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