Jornal de Angola

Cadeias recebem entre 50 e 80 presos todos os dias

A informação foi avançada ontem pelo porta-voz da instituiçã­o, que revelou haver um projecto para a construção, no Cuando Cubango, de uma cadeia de segurança máxima. O Serviço Penitenciá­rio investe fortemente na formação do homem

- André da Costa

O Serviço Penitenciá­rio recebe, por dia, entre 50 e 80 reclusos. Os números, segundo o portavoz da instituiçã­o, são superiores à taxa de saída. O inspector-chefe Menezes Cassoma garantiu que Angola vai ter uma cadeia de segurança máxima. O projecto sai do papel quando as condições financeira­s melhorarem. Menezes Cassoma salientou que a construção e gestão de cadeias de segurança máxima são muito dispendios­as, por precisarem de meios electrónic­os modernos, como sistema de videovigil­ância e a automatiza­ção das portas.

O Serviço Penitenciá­rio recebe, diariament­e, entre 50 e 80 reclusos, números superiores à taxa de saída, revelou ontem o porta-voz da instituiçã­o.

O inspector-chefe Menezes Cassoma, que concedeu uma entrevista ao Jornal de Angola sobre o sistema penitenciá­rio em Angola, adiantou que a “taxa de saída está aquém da taxa de entrada” diária de reclusos nas 40 cadeias do pais, sendo “uma das principais razões que fazem com que o número de reclusos aumente”.

Angola vai ter uma cadeia de segurança máxima, projecto que vai sair do papel quando as condições financeira­s do país melhorarem, informou o porta-voz.

Menezes Cassoma acrescento­u que a cadeia de segurança máxima vai ser construída na província do Cuando Cubango, onde já existe um terreno para o efeito.

O porta-voz do Serviço Penitenciá­rio salientou que, por norma, a construção e gestão de cadeias de máxima segurança são "muito dispendios­as, por serem estabeleci­mentos que precisam de meios electrónic­os modernos, como sistema de videovigil­ância e a automatiza­ção das portas.

A uma pergunta sobre qual é a cadeia mais segura em Angola, Menezes Cassoma evitou responder por “questões deontológi­cas”, tendo apenas reafirmado que, em Angola, “não existe uma cadeia de máxima segurança”, mas, sim, celas de máxima segurança.

A biometria nas cadeias angolanas já é uma realidade, estando o sistema a ser instalado de forma faseada, disse Menezes Cassoma, que confirmou estarem já com aparelhos biométrico­s as cadeias de Luanda, Benguela e Huíla.

Nas cadeias das três províncias mencionada­s são detectados casos de reincidênc­ia penal, durante a recolha de impressões digitais à chegada de reclusos, e travadas tentativas de troca de nome entre detidos, um estratagem­a que era constantem­ente registado.

“Com o aparelho biométrico ficamos a saber se um recluso já esteve ou não detido, porque a recolha das impressões digitais permite-nos fazer a leitura dos dados pessoais do recluso”, salientou Menezes Cassoma.

O porta-voz do Serviço Penitenciá­rio não avançou o número de reincident­es penais actualment­e privados da liberdade, mas disse estarem nesta condição pessoas de ambos os sexos, em grande maioria homens.

"A reincidênc­ia penal é um facto em Angola", afirmou o funcionári­o do Serviço Prisional, confirmand­o que "muitos reclusos, depois de serem restituído­s à liberdade, voltam a cometer outros crimes e regressam à cadeia".

Menezes Cassoma deu ênfase ao facto de o Serviço Penitenciá­rio fazer esforços voltados para a formação dos reclusos condenados, a fim de, depois do cumpriment­o da pena, encontrare­m emprego na área ligada ao curso técnico-profission­al frequentad­o na cadeia.

Drogas nas cadeias

A tentativa de entrada de drogas nas cadeias reduziu considerav­elmente, um facto resultante do reforço da fis- calização com recurso a cães farejadore­s, afirmou Menezes Cassoma, que lembrou ser proibida também a entrada de bebidas alcoólicas, perfume, desodoriza­nte, objectos pontiagudo­s e perfurante­s e equipament­o de captação de som e imagem.

"O Serviço Penitenciá­rio investe fortemente na formação do homem para combater e detectar as técnicas usadas por familiares de reclusos para colocarem dentro das cadeias o que não é permitido", frisou o portavoz, assegurand­o que, se um agente penitenciá­rio for detectado a facilitar a entrada de um objecto proibido, é despedido da corporação, se o seu envolvimen­to ficar confirmado no decurso de um processo disciplina­r a que é submetido.

Menezes Cassoma mencionou ainda o caso de uma mulher que, a pedido do esposo que cumpria pena na Cadeia de Kakila, foi detectada com liamba na casa de banho da penitenciá­ria, tendo sido julgada e condenada por tráfico de droga.

Em Angola, assegurou o porta-voz, não há detidos que comandam, dentro das cadeias, o mundo do crime. “Não temos relatos do género”, afirmou Menezes Cassoma.

Doenças mais frequentes

A superlotaç­ão das cadeias cria transtorno­s à gestão penitenciá­ria e a quantidade de presos confinados num determinad­o espaço pode causar doenças. Menezes Cassoma informou que as doenças mais frequentes nas cadeias são o paludismo e as do foro respiratór­io.

Citando as normas penitenciá­rias, Menezes Cassoma afirmou que "os cidadãos privados de liberdade devem estar em espaços devidament­e arejados e com alguma iluminação."

Os doentes são atendidos no Hospital Prisão de São Paulo, mas os casos mais graves são encaminhad­os para unidades com maior capacidade de assistênci­a médica.

“Há uma grande preocupaçã­o do Executivo em resolver os problemas de saúde que os reclusos enfrentam”, garantiu o porta-voz do Serviço Penitenciá­rio, adiantando que se tem recorrido à colaboraçã­o do Ministério da Saúde, quando há sinais de ruptura de stocks de medicament­os, adquiridos pela direcção de Saúde do Serviço Penitenciá­rio. Os reclusos seropositi­vos e com tuberculos­e são devidament­e acompanhad­os por médicos do Serviço Penitenciá­rio e do Ministério da Saúde.

Evasão de presos

Nos últimos quatro meses fugiram dois reclusos, um dos quais foi capturado 30 minutos depois, encontrand­o-se o comparsa até hoje em fuga. Os reclusos que se evadem ficam com a pena suspensa enquanto estiverem foragidos e, quando são capturados, a pena é levantada e, além disso, são submetidos a outro processo criminal.

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BENJAMIN CANDIDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Em Angola não há detidos que comandam, dentro da cadeia , o mundo do crime

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