TED x Luanda
Foi sábado passado, durante o dia todo, por iniciativa do Colectivo Pés Descalços e com a curadoria de Januário Jano, quase mil pessoas estiveram no pátio interior da Academia BAI, em Talatona, e, por um longo instante, decidiram ser maravilhosas: sob o tema “vanguardista, somos” realizou-se a quinta edição do Tedxluanda 2018. Uma parede de tijolos cinzentos com dois écrans gigantes incrustados, sobre um palco ovalado seria o cenário que estaria no centro daquela multidão, numa manhã de cacimbo.
Acessível via net, para quem não sabe, TED é o acrónimo de tecnologia, entretenimento e design, uma plataforma global dedicada às ideias que merecem ser partilhadas. Funciona como uma franquia que, através de um programa de eventos locais, põe o foco nos indíviduos, nas organizações, na inovação e no impacto que elas têm na sociedade.
Como todos os seus semelhantes, o TEDxluanda está desenhado tanto para os que assistem o evento no dia e lugar combinado como para aqueles que, depois, poderão vê-lo na net visitando o site www.tedxluanda.com : cuidadosamente pensado e cronometrado até ao mais mínimo detalhe, no centro do evento, estiveram palestras, performances e ou intervenções breves de dezasseis oradores seleccionados, com perfis profissionais e experiências de vida muito distintas.
As palestras obedeciam a normas muito específicas como, por exemplo, no geral, os intervenientes não podiam exceder os dezoito minutos e, como estava sendo gravado, sempre que necessário, os organizadores poderiam repetir algumas sequências do acto: o TEDxluanda é, com toda certeza, um evento vanguardista que faz todos, os oradores e os participantes, sairem das suas zonas de conforto, uma experiência comunicativa própria de actual era tecnológica e global.
Muitas outras coisas aconteceram ao longo do dia: venda de livros, muitos dos quais poderiam ser autografados pelos seus autores, destacando-se o Ondjaki que vimo-lo a pulular por ai, deitado no jardim a ouvir as palestras e ou a filmar o desempenho de Cabuenha Moniz ou, ainda, o Chef Cid Baptista com a sua atípica “Tattoo Food Experience” a servir pequenas doses de comida nas mãos enluvadas dos mais ousados como se quisesse predispôlos a desfrutar sem reservas do cardápio com calulu gourmet com pirão de pedras, a muteta com carne seca ou o pudim de gajajá proposto por Rui de Sá, o principal Chef presente no evento.
A escolha dos oradores foi no mínimo curiosa e, para começar, chamaram-me atenção três jovens: o físico nuclear Akiules Neto, aka “Canivete Suiço”, que falou sobre a importância de construirmos perfis profissionais multifacetados como melhor maneira de enfrentarmos a complexidade do mercado de trabalho no mundo de hoje, Erickson Mvezi, o jovem empreendedor que saiu do Cassenga, formouse nos Estados Unidos de América e fundou a Tupuca, a primeira plataforma de entregas a domicílio e Cláudio Silva, um viajante e blogger que tem estado a fazer uma espécie de mapa de viagens, através da degustação de comidas de várias partes do mundo para reivindicar o paladar como meio de conhecimento e catalizador do turismo gourmet. Para além das intervenções da psicóloga Anabela Marcos, do criador de startups João Barbosa, do economista e filántropo Saydi Neto e da doula Sara Lopes, o formato das TED permitiu rever as palestras de Valeriana Ckikoti sobre o maltrato infantil e de Alexandra Loras que descontrói as questões de raça e género no mundo de hoje.
Se a conversa descontraída entre os participantes, a boa música, os chás e o café amenizaram aquela manhã de cacimbo e era muito agradável ver penteados, estilos e caras novas, se a tarde a Alexandra Gonçalves, o Júlio Leitão e a Cabuenha Moniz confrontaram-nos com uma espécie de revisitação ao exotismo com pretensões endógeno criadoras de novo tipo, ao princípio da noite Mallence Bart-Williams trouxe-nos, desde uma perspectiva ocidentalcêntrica e numa encenação tão bela quanto dramática, o problema da exploração dos recursos minerais no continente africano. Menos mal que Francisco Birú fechou o programa com uma performanc poética e musical esperançadora.
Querer aprender ou mostrar o que sabemos, bem como partilhar sem medo nem receio, juntar-se a outras pessoas ou concorrer leal e abertamente com elas, agir para encontrar soluções práticas para problemas aparentemente complexos, transmitir conhecimentos que, de algum modo, possam contribuir para a mudança de mentalidades e as coisas simples do entorno que nos envolve torna as pessoas maravilhosas, é isto que o TEDxluanda 2018 fez e oxalá o faça por longos anos.
* Historiador e crítico de arte
A conversa descontraída entre os participantes, a boa música, os chás e o café amenizaram aquela manhã de cacimbo e era muito agradável ver penteados, estilos e caras novas