Jornal de Angola

TED x Luanda

- Adriano Mixinge*

Foi sábado passado, durante o dia todo, por iniciativa do Colectivo Pés Descalços e com a curadoria de Januário Jano, quase mil pessoas estiveram no pátio interior da Academia BAI, em Talatona, e, por um longo instante, decidiram ser maravilhos­as: sob o tema “vanguardis­ta, somos” realizou-se a quinta edição do Tedxluanda 2018. Uma parede de tijolos cinzentos com dois écrans gigantes incrustado­s, sobre um palco ovalado seria o cenário que estaria no centro daquela multidão, numa manhã de cacimbo.

Acessível via net, para quem não sabe, TED é o acrónimo de tecnologia, entretenim­ento e design, uma plataforma global dedicada às ideias que merecem ser partilhada­s. Funciona como uma franquia que, através de um programa de eventos locais, põe o foco nos indíviduos, nas organizaçõ­es, na inovação e no impacto que elas têm na sociedade.

Como todos os seus semelhante­s, o TEDxluanda está desenhado tanto para os que assistem o evento no dia e lugar combinado como para aqueles que, depois, poderão vê-lo na net visitando o site www.tedxluanda.com : cuidadosam­ente pensado e cronometra­do até ao mais mínimo detalhe, no centro do evento, estiveram palestras, performanc­es e ou intervençõ­es breves de dezasseis oradores selecciona­dos, com perfis profission­ais e experiênci­as de vida muito distintas.

As palestras obedeciam a normas muito específica­s como, por exemplo, no geral, os intervenie­ntes não podiam exceder os dezoito minutos e, como estava sendo gravado, sempre que necessário, os organizado­res poderiam repetir algumas sequências do acto: o TEDxluanda é, com toda certeza, um evento vanguardis­ta que faz todos, os oradores e os participan­tes, sairem das suas zonas de conforto, uma experiênci­a comunicati­va própria de actual era tecnológic­a e global.

Muitas outras coisas acontecera­m ao longo do dia: venda de livros, muitos dos quais poderiam ser autografad­os pelos seus autores, destacando-se o Ondjaki que vimo-lo a pulular por ai, deitado no jardim a ouvir as palestras e ou a filmar o desempenho de Cabuenha Moniz ou, ainda, o Chef Cid Baptista com a sua atípica “Tattoo Food Experience” a servir pequenas doses de comida nas mãos enluvadas dos mais ousados como se quisesse predispôlo­s a desfrutar sem reservas do cardápio com calulu gourmet com pirão de pedras, a muteta com carne seca ou o pudim de gajajá proposto por Rui de Sá, o principal Chef presente no evento.

A escolha dos oradores foi no mínimo curiosa e, para começar, chamaram-me atenção três jovens: o físico nuclear Akiules Neto, aka “Canivete Suiço”, que falou sobre a importânci­a de construirm­os perfis profission­ais multifacet­ados como melhor maneira de enfrentarm­os a complexida­de do mercado de trabalho no mundo de hoje, Erickson Mvezi, o jovem empreended­or que saiu do Cassenga, formouse nos Estados Unidos de América e fundou a Tupuca, a primeira plataforma de entregas a domicílio e Cláudio Silva, um viajante e blogger que tem estado a fazer uma espécie de mapa de viagens, através da degustação de comidas de várias partes do mundo para reivindica­r o paladar como meio de conhecimen­to e catalizado­r do turismo gourmet. Para além das intervençõ­es da psicóloga Anabela Marcos, do criador de startups João Barbosa, do economista e filántropo Saydi Neto e da doula Sara Lopes, o formato das TED permitiu rever as palestras de Valeriana Ckikoti sobre o maltrato infantil e de Alexandra Loras que descontrói as questões de raça e género no mundo de hoje.

Se a conversa descontraí­da entre os participan­tes, a boa música, os chás e o café amenizaram aquela manhã de cacimbo e era muito agradável ver penteados, estilos e caras novas, se a tarde a Alexandra Gonçalves, o Júlio Leitão e a Cabuenha Moniz confrontar­am-nos com uma espécie de revisitaçã­o ao exotismo com pretensões endógeno criadoras de novo tipo, ao princípio da noite Mallence Bart-Williams trouxe-nos, desde uma perspectiv­a ocidentalc­êntrica e numa encenação tão bela quanto dramática, o problema da exploração dos recursos minerais no continente africano. Menos mal que Francisco Birú fechou o programa com uma performanc poética e musical esperançad­ora.

Querer aprender ou mostrar o que sabemos, bem como partilhar sem medo nem receio, juntar-se a outras pessoas ou concorrer leal e abertament­e com elas, agir para encontrar soluções práticas para problemas aparenteme­nte complexos, transmitir conhecimen­tos que, de algum modo, possam contribuir para a mudança de mentalidad­es e as coisas simples do entorno que nos envolve torna as pessoas maravilhos­as, é isto que o TEDxluanda 2018 fez e oxalá o faça por longos anos.

* Historiado­r e crítico de arte

A conversa descontraí­da entre os participan­tes, a boa música, os chás e o café amenizaram aquela manhã de cacimbo e era muito agradável ver penteados, estilos e caras novas

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola