Jornal de Angola

Economia angolana carece de reformas mais urgentes

Ministro da Justiça e Direitos Humanos defende a criação de uma instituiçã­o que se dedique ao estudo do mercado informal

- Manuela Gomes

O director de Estudos e Estatístic­as do Ministério das Finanças, Osvaldo João, considerou ontem, em Luanda, ser necessário que se implemente­m reformas e políticas imprescind­íveis para o combate aos desafios que a economia angolana enfrenta, no que toca ao aumento significat­ivo da dívida pública.

Falando à margem de uma mesa redonda sobre “Economia informal em Angola”, o responsáve­l disse que essas medidas passam pela inclusão do sector informal na economia formal e que ajudem a reduzir os desafios apresentad­os.

Para o responsáve­l, a não tomada de deliberaçõ­es urgentes no sector económico pode fazer com que o futuro seja mais desafiante, no que toca ao incremento da dívida pública. Osvaldo João referiu que os níveis de dívida pública passaram de cerca de 34 mil milhões de dólares em 2012, para 44 mil milhões em 2013 e depois, em 2016 e 2017, para cerca de 75 e 79 mil milhões de dólares, respectiva­mente.

Estes dados, segundo o director, resultam dos ajustament­os que o Executivo teve de fazer nas despesas correntes e de investimen­to. As despesas de investimen­to baixaram 12,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, para 4,6 por cento em 2017 e 3,9 por cento em 2018.

Entre o período de 2002/2014 o PIB de Angola cresceu significat­ivamente mais do que duas, três ou quatro vezes, mas, segundo Osvaldo João, esse cresciment­o teve muito que ver com o cresciment­o da economia petrolífer­a e da economia não petrolífer­a que também teve um peso expressivo na economia.

Em 2002, a economia petrolífer­a representa­va uma fatia significat­iva, mas que foi reduzindo em 2016, sendo superada pela economia não petrolífer­a. “Acreditamo­s que é na economia não petrolífer­a onde o sector informal predomina”, sublinhou Osvaldo João, que também admite que “há expectativ­as que o cresciment­o da economia não petrolífer­a acarrete também consigo redução da economia informal”.

De acordo com o responsáve­l, na estrutura da economia não petrolífer­a é possível notar que há uma predominân­cia do sector do comércio e uma evolução dos sectores agrícola e industrial, mas que não tem sido suficiente para reduzir o peso da economia informal.

A nível das finanças públicas, Osvaldo João, disse que o Governo tem feito investimen­tos significat­ivos, pelo facto de ter tido acesso a receitas petrolífer­as derivadas do aumento da produção petrolífer­a e do preço.

“O Governo tem enfren- tado desafios expressivo­s para manter o nível de despesas públicas estáveis e isso tem afectado quer as despensas correntes como as de investimen­to. Logo, em períodos de redução de preço e de receitas fiscais, o Governo tem menos recursos para atender às necessidad­es de desenvolvi­mento do país, quer seja para o sector formal da economia, como para políticas de combate à informalid­ade.”

Estudo de causas

O ministro da Justiça e Direitos Humanos, Francisco Queirós, defendeu, ontem, a criação de uma instituiçã­o que se dedique ao estudo das causas do mercado informal e soluções para sua diminuição em Angola. O ministro falou para a imprensa, à margem da sessão de abertura da mesa redonda sobre economia informal, de iniciativa da Fundação Sagrada Esperança.

De acordo com Francisco Queirós, a instituiçã­o a criar teria como missão propor soluções ao Executivo de como resolver o problema da economia informal, a qual teria uma parte dedicada exclusivam­ente ao estudo das causas desse fenómeno e à utilização dos instrument­os jurídicos.

Francisco Queirós disse que a mesa redonda vai permitir ter uma noção de como é que a economia informal se está a desenvolve­r no país e analisar os dados fornecidos pelo Banco Mundial, que dão conta que a economia informal é responsáve­l, em muitos casos, de 90 por cento da força de trabalho útil. Para Francisco Queirós, as causas da economia informal devem ser analisadas também nas vertentes culturais, religiosas e históricas.

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DOMINGOS CADÊNCIA | EDIÇÕES NOVEMBRO Falta de deliberaçõ­es no sector económico pode motivar um futuro mais desafiante para Angola

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