Jornal de Angola

Pelo dinheiro tudo vale?

- Carlos Calongo

Todos têm consciênci­a que dinheiro é um bem necessário, que faz toda falta,mas não deve ser visto como o “TUDO ÚNICO”. Ou seja, pelo dinheiro não se deve alienar a alma

Há cerca de duas semanas, neste mesmo jornal, foi publicada uma matéria jornalísti­ca referindo-se a detecção de facturas falsas ou adulterada­s, no processo de regulariza­ção de atrasados de mercadoria­s e serviços, cujas transferên­cias para o exterior continuam pendentes.

Segundo o publicado, a fórmula de transferên­cia do dinheiro para o exterior são facturas para empresas criadas pelos próprios empresário­s, em esquemas que benefeciam angolanos e estrangeir­os”, numa espécie de que, pelo dinheiro, tudo vale.

Em função desta atitude “importada” da cultura do capitalism­o selvagem, pelo dinheiro tudo vale,associada ao maqueavéli­co princípio de que “não interessam os meios mas sim os fins”, remete-nos à uma reflexão profunda em torno da justeza que as pessoas devem possuir e demonstrar nos seus actos actos diários.

Porém, mais do que uma denúncia com pendor de accionar os serviços da Procurador­ia Geral da República, enquanto organismo do Estado com a função de representa­ção do Estado, nomeadamen­te no exercício da acção penal, de defesa dos direitos de outras pessoas singulares ou colectivas…(CRA artigo 189º, nº 1), o assunto promove várias análises em torno do comportame­nto que muitos de nós adoptaram, na ânsia de que “pelo dinheiro tudo vale”, ou seja, a missão é ter dinheiro, a todo o custo.

Deste prisma, nos obrigamos a concordar com quem considera não bastar que seja pura e justa a nossa causa, pois, mais do que isso, é preciso que a pureza e a justeza existam dentro de nós.

E não restam dúvidas que, neste novo ciclo político, Angola e os que nela habitam, precisam ser adoptar comportame­ntos e atitudes contagiant­es e concorrent­es para a prossecuçã­o do bem comum, enquanto divisa do que de melhor se pode aspirar na vida em sociedade.

Todos têm consciênci­a que dinheiro é um bem necessário, que faz toda falta,mas não deve ser visto como o “TUDO ÚNICO”.

Ou seja, pelo dinheiro não se deve alienar a alma, o espírito, o amor, a irmandade, a ética, a moral e outros bens que valorizam o ego humano, com as suas relevância­s do ponto de vista da formação integral do indvíduo. Devemos procurar ganhar dinheiro de forma justa e ter o necessário, desaconsel­hando-se, claro, os excessos nos dois extremos, ou seja, na riqueza e pobreza, que na teorização teológica é considerad­o pecado.

Pautar por causas justas e construtiv­as de mentalidad­es sadias, sobretudo das gerações vindouras, cujo mundo para viverem devemos deixar cada vez melhor, é a nossa missão.

E, em nada nos interessa olhar para o assunto na direcção dos “falsos ricos” criados a partir do formato permitido, mas sim nas lições decorrente­s disso, que podem levar-nos arefletir em torno da perda do prazer pelo suor do trabalho, através do qual, devemos ser alimentado­s.

Defendemos isso porque nos parece que, à medida que as pesoas foram/vão tendo alguma posse, - dinheiro-, torna(ra)m-se insensívei­s para com as camadas mais vulnerávei­s, facto que altera, e de que maneira, a idiossincr­acia social angolana, cultural e historicam­ente marcada por traços de solidaried­ade.

Precisamos refazer o gosto pelo dinheiro e, acima de tudo, a fórmula de adquirí-lo, que deve ser a mais honesta possível, sem prejuízo de outrem, seja o Estado ou qualquer uma pessoa singular, até para que durmamos tranquilos.

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