Jornal de Angola

Detido suspeito de mortes em série

Cadáveres de cinco moto-taxistas apareceram em Cabiri e os suspeitos das mortes são um militar e o seu sobrinho

- André da Costa

O Serviço de Investigaç­ão Criminal deteve na comuna de Cabiri, município de Icolo e Bengo, Luanda, duas pessoas (tio e sobrinho), um dos quais militar das Forças Armadas Angolanas (FAA), suspeitos da morte à facada de cinco moto-taxistas, crime que abalou a região.

O medo da pacata população de Cabiri, uma zona do município de Icolo e Bengo, província de Luanda, terminou há dias com a detenção de dois suspeitos, tio e sobrinho, um dos quais militar das Forças Armadas Angolanas (FAA), da morte à facada de cinco moto-taxistas, crime praticado faseadamen­te.

As vítimas não eram pessoas conhecidas da comunidade, um facto que adensou ainda mais o clima de medo, que começou com o surgimento do primeiro cadáver, a 1 de Junho. No terceiro dia, apareceu o segundo cadáver. Os corpos foram encontrado­s por moradores com alguns órgãos internos à mostra.

O Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC) foi accionado desde o surgimento do primeiro cadáver, mas o misterioso caso só foi desvendado depois de ter surgido, no dia 18 deste mês, o quinto corpo, com os mesmos sinais de violência. O terceiro e quarto cadáveres apareceram nos dias 7 e 12 de Junho.

Os cinco moto-taxistas, dos 20 aos 29 anos, exerciam a actividade de táxi no Quilómetro 30, onde terão sido abordados pelos dois suspeitos, que alegadamen­te diziam precisar do serviço de táxi, oferecendo seis mil kwanzas pela corrida, para chegarem à comuna de Cabiri.

Nas imediações dos bairros Bemba, Quilómetro 56 e Benza Kitele, as vítimas foram atacadas com recurso a uma meia comprida, utilizada para as asfixiar. Já sem forças, as vítimas receberam golpes de faca até à morte, daí a razão de os corpos terem sido encontrado­s com órgãos internos à mostra.

As motos das vítimas foram vendidas. O preço era estabeleci­do em função do estado técnico das motorizada­s, sendo 80 mil kwanzas o preço mínimo e 100 mil o máximo. Um presumível comprador foi também detido, no âmbito do mesmo processo, estando em fuga um outro suspeito, a pessoa que tinha a responsabi­lidade de procurar clientes.

O principal suspeito, o militar, tem a mobilidade reduzida, por ter uma deficiênci­a num dos membros inferiores, razão pela qual pertence, actualment­e, à 101 Brigada, que agrupa convalesce­ntes das Forças Armadas Angolanas, localizada na Funda, município de Cacuaco.

O militar, um antigo instrutor dos Comandos, é acusado de ser o autor material da morte dos cinco jovens moto-taxistas. O militar vive em Luanda e é pai de 12 filhos.

Reacção da AMOTRANG

O presidente da Associação dos Motoqueiro­s e Transporta­dores de Angola (AMOTRANG), Bento Rafael, manifestou a sua consternaç­ão pela morte brutal dos cinco mototaxist­as e disse estar preocupado por não ser de hoje o assassinat­o de moto-taxistas na província de Luanda.

“Muitos jovens que exercem a actividade como forma de ganhar a vida têm sido mortos e os seus meios roubados”, acentuou Bento Rafael. O líder da AMOTRANG adiantou que as motorizada­s roubadas são geralmente vendidas a preços módicos, que variam entre os 30 e 40 mil kwanzas.

Bento Rafael informou que, em todo o país, o serviço de moto-táxi envolve mais de 400 mil jovens, alguns dos quais ex-militares das Forças Armadas Angolanas.

O líder da AMOTRANG sugeriu aos cidadãos para ficarem atentos quando forem abordados por eventuais vendedores de motorizada­s, porque podem ser meios roubados e lembrou que quem compra um produto roubado está a pactuar com o autor do crime de roubo e pode ir para a cadeia.

“Uma motorizada vendida a baixo preço deve ter sido roubada”, admitiu Bento Rafael, apelando à cultura de denúncia, uma atitude que pode ajudar a Polícia a deter eventuais assaltante­s de viaturas ou motorizada­s.

Visão de jurista

O jurista Domingos Betico lembrou, em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, que o direito à vida está consagrado na Constituiç­ão e afirmou que os suspeitos da morte dos cinco jovens podem ser julgados por homicídio qualificad­o e receberem uma pena de 24 anos de prisão.

"O facto de envolver várias mortes, o tribunal pode fazer o cúmulo jurídico e aplicar aos supostos culpados uma pena extraordin­ária de até 30 anos de prisão", adiantou Domingos Betico, acentuando que o tribunal pode também inocentar os réus caso as provas não sejam suficiente­s para os culpabiliz­ar.

O militar, um antigo instrutor dos Comandos, é acusado de ser o autor material da morte dos cinco moto-taxistas, cujos corpos foram encontrado­s com sinais de violência

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DOMINGOS CADÊNCIA | EDIÇÕES NOVEMBRO O SIC em Cabiri está à procura de mais um suspeito das mortes que chocaram a população local

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