Detido suspeito de mortes em série
Cadáveres de cinco moto-taxistas apareceram em Cabiri e os suspeitos das mortes são um militar e o seu sobrinho
O Serviço de Investigação Criminal deteve na comuna de Cabiri, município de Icolo e Bengo, Luanda, duas pessoas (tio e sobrinho), um dos quais militar das Forças Armadas Angolanas (FAA), suspeitos da morte à facada de cinco moto-taxistas, crime que abalou a região.
O medo da pacata população de Cabiri, uma zona do município de Icolo e Bengo, província de Luanda, terminou há dias com a detenção de dois suspeitos, tio e sobrinho, um dos quais militar das Forças Armadas Angolanas (FAA), da morte à facada de cinco moto-taxistas, crime praticado faseadamente.
As vítimas não eram pessoas conhecidas da comunidade, um facto que adensou ainda mais o clima de medo, que começou com o surgimento do primeiro cadáver, a 1 de Junho. No terceiro dia, apareceu o segundo cadáver. Os corpos foram encontrados por moradores com alguns órgãos internos à mostra.
O Serviço de Investigação Criminal (SIC) foi accionado desde o surgimento do primeiro cadáver, mas o misterioso caso só foi desvendado depois de ter surgido, no dia 18 deste mês, o quinto corpo, com os mesmos sinais de violência. O terceiro e quarto cadáveres apareceram nos dias 7 e 12 de Junho.
Os cinco moto-taxistas, dos 20 aos 29 anos, exerciam a actividade de táxi no Quilómetro 30, onde terão sido abordados pelos dois suspeitos, que alegadamente diziam precisar do serviço de táxi, oferecendo seis mil kwanzas pela corrida, para chegarem à comuna de Cabiri.
Nas imediações dos bairros Bemba, Quilómetro 56 e Benza Kitele, as vítimas foram atacadas com recurso a uma meia comprida, utilizada para as asfixiar. Já sem forças, as vítimas receberam golpes de faca até à morte, daí a razão de os corpos terem sido encontrados com órgãos internos à mostra.
As motos das vítimas foram vendidas. O preço era estabelecido em função do estado técnico das motorizadas, sendo 80 mil kwanzas o preço mínimo e 100 mil o máximo. Um presumível comprador foi também detido, no âmbito do mesmo processo, estando em fuga um outro suspeito, a pessoa que tinha a responsabilidade de procurar clientes.
O principal suspeito, o militar, tem a mobilidade reduzida, por ter uma deficiência num dos membros inferiores, razão pela qual pertence, actualmente, à 101 Brigada, que agrupa convalescentes das Forças Armadas Angolanas, localizada na Funda, município de Cacuaco.
O militar, um antigo instrutor dos Comandos, é acusado de ser o autor material da morte dos cinco jovens moto-taxistas. O militar vive em Luanda e é pai de 12 filhos.
Reacção da AMOTRANG
O presidente da Associação dos Motoqueiros e Transportadores de Angola (AMOTRANG), Bento Rafael, manifestou a sua consternação pela morte brutal dos cinco mototaxistas e disse estar preocupado por não ser de hoje o assassinato de moto-taxistas na província de Luanda.
“Muitos jovens que exercem a actividade como forma de ganhar a vida têm sido mortos e os seus meios roubados”, acentuou Bento Rafael. O líder da AMOTRANG adiantou que as motorizadas roubadas são geralmente vendidas a preços módicos, que variam entre os 30 e 40 mil kwanzas.
Bento Rafael informou que, em todo o país, o serviço de moto-táxi envolve mais de 400 mil jovens, alguns dos quais ex-militares das Forças Armadas Angolanas.
O líder da AMOTRANG sugeriu aos cidadãos para ficarem atentos quando forem abordados por eventuais vendedores de motorizadas, porque podem ser meios roubados e lembrou que quem compra um produto roubado está a pactuar com o autor do crime de roubo e pode ir para a cadeia.
“Uma motorizada vendida a baixo preço deve ter sido roubada”, admitiu Bento Rafael, apelando à cultura de denúncia, uma atitude que pode ajudar a Polícia a deter eventuais assaltantes de viaturas ou motorizadas.
Visão de jurista
O jurista Domingos Betico lembrou, em declarações ao Jornal de Angola, que o direito à vida está consagrado na Constituição e afirmou que os suspeitos da morte dos cinco jovens podem ser julgados por homicídio qualificado e receberem uma pena de 24 anos de prisão.
"O facto de envolver várias mortes, o tribunal pode fazer o cúmulo jurídico e aplicar aos supostos culpados uma pena extraordinária de até 30 anos de prisão", adiantou Domingos Betico, acentuando que o tribunal pode também inocentar os réus caso as provas não sejam suficientes para os culpabilizar.
O militar, um antigo instrutor dos Comandos, é acusado de ser o autor material da morte dos cinco moto-taxistas, cujos corpos foram encontrados com sinais de violência