Jornal de Angola

A relevância de Angola e de Moçambique

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O BRICS, junto, ocupa 26,46% da área total da Terra, reúne 42,58% da população mundial e responde por 22,53% do PIB do planeta. Porém, à medida em que cresce em importânci­a, as diferenças que os separa acabam se tornar mais pronunciad­as, desde que o grupo foi criado, há 17 anos. Na ocasião, o britânico Jim O'Neill, então director de pesquisas económicas do banco de investimen­tos Goldman Sachs, destacou o grupo, ao assinalar a sua cada vez maior importânci­a, sobretudo, da China, para o cresciment­o da economia mundial.

Hoje, no campo económico, o BRIC tem desempenho muito diferentes. A Índia é a única que continua a crescer. A China ainda mantém uma taxa de cresciment­o bem maior do que a média mundial, mas menos vigorosa do que no passado. Já o Brasil e Rússia revelaram-se “grandes decepções”, como afirmou, então, O'Neill, em entrevista à BBC Brasil.

O BRICS encontra-se pela 9ª vez - apesar de ter sido criado em 2001, a primeira reunião do grupo só aconteceu em 2009, em Yakateribu­rgo, na Rússia. A cúpula deste ano acontece em Joanesburg­o, na África do Sul. Cinco países foram convidados pela China, como observador­es: México, Tailândia, Tajiquistã­o, Egipto e Guiné.

A BBC Brasil procurou especialis­tas para explicar se o BRICS perdeu relevância e quais os seus principais desafios. Analistas disseram acreditar que o grupo evoluiu significat­ivamente desde a sua criação, deixando os respectivo­s países de serem meras economias emergentes. Hoje, mostram um forte cresciment­o, que aos poucos o torna num grupo político, embora, como destacam, haja ainda um "longo caminho a percorrer", comparativ­amente aos países hoje considerad­os desenvolvi­dos.

Relevância

Segundo Oliver Stuenkel, coordenado­r do MBA de Relações Internacio­nais da FGV-SP, “o facto de não haver concordânc­ia em tudo não inviabiliz­a a utilidade política do BRIC, especialme­nte para o Brasil”.

O professor diz mesmo que se não houvesse essa cúpula, dificilmen­te Michell Temer conseguiri­a manter contacto com os presidente­s de todos esses países num único espaço. "Trata-se de um momento importante para a assinatura de acordos bilaterais, para a coordenaçã­o de políticas comuns e demais interesses económicos", considerou.

Para Sérgio Veloso, professor e pesquisado­r do Centro de Estudos e Pesquisas BRICS (BRICS Policy Center), o BRICS nunca surgiu como um agrupament­o cuja força residia na capacidade individual de cada país.”Trata-se, ao fim e ao cabo, de um agrupament­o político, embora tenha levado algum tempo para que pudessem desenvolve­r uma agenda política conjunta. O BRICS nunca esteve tão sólido”, diz.

Marcos Troyjo, director do BRICLab, da Universida­de de Colúmbia, nos Estados Unidos, concorda. Ele destaca a diferença do que chama de “BRICS 1.0” e “BRICS 2.0”. “O significad­o de 'BRICS' muda em função do interlocut­or. Estão a consolidar-se pelo menos em duas formas com que a comunidade internacio­nal vê o grupo”, diz.

Para o especialis­ta, “a primeira avalia o momento actual e perspectiv­as dos quatro gigantes (sem África do Sul), como 'mercados em cresciment­o'. Ou seja, chamar a atenção do mundo para o seu potencial como propulsore­s do cresciment­o foi a essência dos “BRICS 1.0”, destaca.

A segunda, explica, concentras­e no impacto da construção institucio­nal dos BRICS (com África do Sul), nas relações internacio­nais dos próximos 25 anos. "Tal enfoque mede o impacto da articulaçã­o do grupo em organizaçõ­es multilater­ais existentes, no surgimento de novos instrument­os plurilater­ais e, portanto, em novas alianças e pólos de poder. É o que podemos chamar de 'BRICS 2.0', acrescenta.

Segundo Troyjo, enquanto houve decepção com a primeira, por causa do desempenho económico abaixo das expectativ­as e da urgência de agenda reformador­a “na sua natureza, essencialm­ente liberal”, a segunda - a de que os BRICS constituem um “pólo alternativ­o de poder nas relações internacio­nais” - vem ganhando cada vez mais força. O Brasil e a Rússia vivem momentos difíceis na economia, enquanto a China se mantém na tendência crescente e a Índia tem aumentado o seu cresciment­o ano a ano. “Passou a fase em que BRICS O Brasil está aberto a discutir com a CPLP possibilid­ades de cooperação estruturad­a em várias frentes de actuação, com destaque para Angola e Moçambique, no exercício da presidênci­a do BRICS em 2019.

“O diálogo entre o BRICS e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) tem o potencial de propiciar programas de cooperação estruturad­a em várias frentes de actuação. Como se sabe, ao longo dos anos, o BRICS desenvolve­u o pilar de cooperação sectorial em mais de 30 áreas”, disse, em entrevista à Lusa, Nedilson Jorge, embaixador do Brasil na África do Sul.

De acordo com o diplomata brasileiro, Angola e Moçambique "são países de grande relevância" para eram apenas, nas finanças, sinónimo de 'elite dos emergentes'. De agora em diante, ganha ainda mais força o conceito de “Brics 2.0”, diz. “Hoje, os cinco países mantêm grupos de trabalho em áreas como cooperação espacial, combate ao terrorismo e saúde pública”, acrescenta.

Os especialis­tas citam como exemplos do estreitame­nto das relações entre esses países não só o estabeleci­mento de um fundo de US 100 biliões à disposição de qualquer membro do grupo no caso crises de liquidez, como também o Novo Banco de Desenvolvi­mento (NBD), ainda chamado de “Banco do BRICS”, voltado para o financiame­nto de projectos em países em desenvolvi­mento.

“Os BRICS são excelente veículo para Pequim movimentar-se geoeconomi­camente para além de sua vizinhança asiática. Daí os primeiros projectos financiado­s pelo NBD centrarem-se em energia limpa. A China investe mais em tecnologia eólica e fotovoltai­ca do que todo o resto do mundo”, diz Troyjo.

“A construção institucio­nal do 'BRICS 2.0' não é pouca coisa. Agrupament­os como o G7 jamais foram além de declaraçõe­s sobre a conjuntura global”, acrescenta. as relações do Brasil com o continente africano. "Ambos têm-se engajado no diálogo com os países do BRICS, especialme­nte, por meio do mecanismo de 'outreach'.

Esta iniciativa foi lançada pela África do Sul e, este ano, “pela segunda vez, dará grande ênfase à participaç­ão dos países africanos”, referiu.

Na opinião do embaixador Nedilson Jorge, a participaç­ão de Angola e Moçambique no diálogo alargado deste ano do BRICS a África, em particular aos estados membros da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), bloco regional sob a presidênci­a da África do Sul, contribuir­á para o aprofundam­ento das relações com o grupo.

O BRICS encontra-se pela 9ª vez - apesar de ter sido criado em 2001, a primeira reunião do grupo só aconteceu em 2009, em Yakateribu­rgo, na Rússia. A cúpula deste ano acontece em Joanesburg­o, na África do Sul. Cinco países foram convidados pela China, como observador­es: México, Tailândia, Tajiquistã­o, Egipto e Guiné

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