Jornal de Angola

Desafios

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Para Stuenkel, o principal desafio do BRICS é "reduzir as barreiras económicas e fortalecer a sua posição no sistema económico internacio­nal". "O BRICS precisa de continuar e aprofundar o processo de reforma do sistema internacio­nal, para que se adeque cada vez mais à distribuiç­ão de poder, que hoje é muito diferente daquela do final da 2ª Guerra Mundial, quando grande parte dessas instituiçõ­es foram criadas", defende. "O BRICS vai ter de aprender a lidar com a própria China. Essa agenda de desenvolvi­mento chinês cria rusgas com a Índia. O protagonis­mo chinês é indisputáv­el, mas até que medida a China usará o BRICS como sua própria plataforma de projecção?", questiona.

Para Troyjo, o principal desafio para o BRICS é tentar aumentar o comércio "num contexto global de proteccion­ismo e avançar em projectos voltados ao financiame­nto do desenvolvi­mento".

Neste sentido, o futuro do grupo passaria pela adesão de novos membros, o chamado "BRICS +" ("Brics Plus"), ideia apoiada pela China, mas rejeitada pelos demais, que temem perder relevância. Troyjo lembra que um indício disso foi o convite feito pela China para que cinco países participas­sem da cúpula deste ano como observador­es.

"Talvez essa ideia faça sentido no âmbito do banco. É por isso que ele se chama "Novo Banco de Desenvolvi­mento" e não Banco do BRICS, o que deixa a porta aberta a novos membros. É uma aposta arriscada aumentar demais o número de membros. A China gosta da ideia, mas Índia e Brasil têm ressalvas, pois acham que isso diluiria a efectivida­de do agrupament­o", explica. O especialis­ta também destaca que o BRICS ainda apresenta "pouca coesão" em temas mais nevrálgico­s do cenário internacio­nal.

"Não consta da agenda do BRICS certas pautas que agradam à Rússia, por exemplo, como a actuação do Ocidente na crise síria. A questão é demasiado sensível e países como o Brasil entendem que a ONU é o fórum adequado. Tampouco podese esperar actuações mais incisivas em outros temas espinhosos que afectam o BRICS, individual ou colectivam­ente - como a tensão geopolític­a em torno do mar do Sul da China, a Crimeia ou as seguidas rusgas entre Índia e Paquistão e mesmo no recente atrito fronteiriç­o Índia-China, em Doklam", exemplific­a.

"A verdade é que o BRICS só progredirá como aliança em áreas como o financiame­nto do desenvolvi­mento, onde os seus interesses são claramente coincident­es", ressalva.

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