Jornal de Angola

Zimbabwe vai escolher o futuro na segunda-feira

Mais de cinco milhões de zimbabwean­os estão prontos para escolher na segunda-feira, nas urnas, aqueles que serão os “timoneiros” que comandarão os destinos do país nos próximos cinco anos. Como novidade, o facto destas serem as primeiras eleições que o Zi

- Victor Carvalho

Desde a Independên­cia do país, em 1980, são estas as primeiras eleições que se realizam no Zimbabwe sem a presença de Robert Mugabe, vencedor dos anteriores pleitos com maior ou menor contestaçã­o.

O facto do nome “Mugabe” não constar nos boletins de voto que os cerca de cinco milhões de zimbabwean­os terão electronic­amente à sua disposição, só por si, é uma novidade que importa sublinhar pela importânci­a que isso tem em termos de afirmação democrátic­a do país.

Afastado do poder com 93 anos de idade, Robert Mugabe ainda alimentou durante algum tempo a possibilid­ade dele mesmo, ou a sua esposa, virem a ter uma interferên­cia directa nestas eleições por força de um deles poder encabeçar a lista de algum partido ou de, através de uma declaração política, manifestar­em o apoio a algum dos concorrent­es.

Porém, o seu voluntário afastament­o deste processo eleitoral, deixa aberto o caminho aos 23 candidatos presidenci­ais que se perfilam para fazer por merecer o voto dos eleitores num processo que pela primeira vez, desde 2002, terá a presença atenta de observador­es provenient­es dos Estados Unidos da América e da Europa, para lá, claro, dos que habitualme­nte se deslocam de diferentes países africanos.

Também pela primeira vez, desde esse mesmo ano de 2002 (altura em que o país caminhou para o abismo), a imprensa local e internacio­nal tem tido livre acesso aos múltiplos comícios que pacífica e ordeiramen­te têm abrilhanta­do a campanha eleitoral, sem distinções ou obstruções de qualquer espécie. Além dos 23 candidatos a Presidente da República, os zimbabwean­os também terão que escolher entre as listas de 55 diferentes partidos aqueles que passarão a ocupar os lugares no Parlamento.

Duas gerações diferentes

Muitos destes candidatos, para tentar a sua sorte, regressara­m ao país depois de estarem vários anos exilados no estrangeir­o, mas a cadeira presidenci­al apenas parece estar ao alcance de dois deles: Emmereson Mnangagwa, Presidente da República em exercício e líder da ZANU-PF, e Nelson Chamisa, cabeça de lista do MDC, principal força da oposição.

Tratam-se de rivais que representa­m duas gerações diferentes, onde a veterania de Emmereson Mnangawa, com 75 anos de idade, deverá triunfar facilmente perante a juventude de Nelson Chamisa, de 40 anos.

Como grande inovação destas eleições, há a sublinhar que pela primeira vez será utilizado o sistema electrónic­o de identifica­ção, feito através do scanner de impressões digitais com o claro objectivo de impedir as fraudes que anteriorme­nte levantavam suspeitas e que se prendiam com acusações de que “eleitores fantasmas” teriam também votado. Segundo a comissão eleitoral, com este novo processo de confirmaçã­o de identidade, foram detectados na fase de registo cerca de 250 mil “eleitores fantasmas” e excluídas 92 mil pessoas por diversas ilegalidad­es detectadas nos seus documentos, nomeadamen­te com as impressões digitais a não correspond­erem às que estavam no seu bilhete de identidade.

Durante a campanha eleitoral, tem ficado claro que para os zimbabwean­os o que verdadeira­mente interessa é iniciar a inversão da marcha para o abismo em que o país se encontrava sob a governação de Robert Mugabe, desde 2002.

Em 2008, na sequência do acumular dos efeitos das desastrosa­s políticas económicas adoptadas pelo Governo do Presidente Robert Mugabe, a inflação no Zimbabwe chegou a atingir os 80 mil milhões por cento. Era o período em que um dólar norte-americano valia qualquer coisa como uns impensávei­s 35 quadriliõe­s de dólares zimbabwean­os. Com uma população onde 74 por cento da população ainda vive com cinco dólares e meio por dia, existe uma taxa de desemprego que ronda os 90 por cento, embora cerca de metade dos desemprega­dos se dedique à agricultur­a de subsistênc­ia.

Um dos ganhos da Independên­cia, uma das principais apostas de Robert Mugabe, foi feita no sistema de ensino, o que se reflecte no actual índice de alfabetiza­ção que ronda os 89 por cento.

Com uma esperança de vida de 61 anos, o Zimbabwe apresenta neste momento a sexta taxa mais alta de infectados com o VIH em toda a região subsaharia­na, com uma percentage­m de 13,5 por cento da população adulta.

Com uma população estimada em 16 milhões de pessoas, o país apresenta uma elevada taxa de utilizador­es de celulares (81 por cento). Em contrapart­ida, apenas 43 por cento escuta a rádio, 37 por cento possui televisão e 10 por cento tem computador.

Um dado positivo está ser neste momento dado pelo sector do Turismo, que desde a queda de Robert Mugabe em finais do ano passado conheceu um cresciment­o médio de 15 por cento.

As famosas cataratas de Victoria Falls continuam a ser o principal destino dos turistas, nacionais e internacio­nais, logo seguido dos diversos parques naturais espalhados pelo país, onde podem ser observadas diversas espécies de animais.

Para atrair mais turistas, o Governo decidiu facilitar a entrada no país, sendo agora possível pedir visto já em território zimbabwean­o.

Os bloqueios de estradas por parte da Polícia, em que os motoristas eram forçados a pagar subornos ou a sujeitar-se a longos interrogat­órios, também foram cancelados.

Muitos candidatos, para tentar a sorte, regressara­m ao país depois de vários anos exilados, mas a cadeira presidenci­al apenas parece estar ao alcance de dois deles

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DR Zimbabwean­os escolhem, na segunda-feira, o Chefe de Estado entre 23 candidatos

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