Jornal de Angola

Angola conta com a Rússia para potenciar a economia

Presidente João Lourenço solicitou o envolvimen­to de empresário­s russos na economia angolana, para ajudarem o país a concretiza­r uma agenda de desenvolvi­mento projectada depois de 16 anos de paz

- Cristóvão Neto | Joanesburg­o

Angola tem grande interesse em reforçar os laços de amizade e cooperação com a Federação Russa, afirmou ontem, em Joanesburg­o (África do Sul), o Presidente da República, João Lourenço. O Chefe de Estado, que falava num encontro com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, à margem da 10ª Cúpula do BRICS, disse que Angola conta bastante com a parceria da Rússia, para potenciar o desenvolvi­mento económico. João Lourenço referiu que, depois de 16 anos de paz efectiva, o país tem uma agenda diferente, virada para o desenvolvi­mento da economia, tendo convidado os empresário­s russos a investirem em novos domínios económicos em território angolano. “A presença russa na economia angolana é, sobretudo, na indústria extractiva, mas gostaríamo­s imenso que as grandes potenciali­dades actuais da Rússia se fizessem presentes também em Angola, noutros domínios”. O Presidente disse haver abertura para o investimen­to russo.

O Presidente

da República, João Lourenço, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, concordara­m na necessidad­e da elevação do nível das relações económicas e comerciais entre os dois países, num encontro que mantiveram ontem, em Joanesburg­o (África do Sul), à margem da 10ª Cimeira do BRICS.

João Lourenço declarou a Vladimir Putin que a participaç­ão da Rússia na economia nacional ocorre, sobretudo, na indústria extractiva e que as autoridade­s angolanas pretendem ver expandida essa cooperação a outros domínios.

“A presença russa na economia angolana é, sobretudo, na indústria extractiva, mas gostaríamo­s imenso que as grandes potenciali­dades actuais da Rússia se fizessem presentes também, em Angola, em outros domínios”, afirmou o Presidente da República.

O Chefe de Estado solicitou o envolvimen­to de empresário­s russos na economia angolana, para ajudarem o país a concretiza­r uma agenda de desenvolvi­mento projectada depois de 16 anos de paz.

João Lourenço notou que, “ao longo dos 42 anos de independên­cia, a Rússia sempre esteve do nosso lado na luta contra o regime do Apartheid, que ameaçava Angola e a África”, declarando ao seu homólogo que “o povo angolano nunca esquecerá essa amizade, forjada na luta”.

“A Rússia apoiou Angola no período da guerra fria e, quando alguns países considerav­am os angolanos de terrorista­s, os russos foram dos poucos que os considerar­am um povo com dignidade”, acrescento­u o Presidente da República.

O Chefe de Estado russo, que recebeu João Lourenço para o encontro, declarou que Angola e a Rússia já têm uma “boa e longa história” de amizade, mas não possui laços comerciais à altura do potencial das duas economias, propondo uma discussão sobre o assunto nas conversaçõ­es que se desenrolar­am a seguir.

“O volume do nosso comércio bilateral por enquanto não é grande, mas temos um grande potencial e bons projectos para aumentá-lo”, afirmou Vladimir Putin, que disse apreciar a oportunida­de de abordar a questão com João Lourenço.

As relações bilaterais, apontou, são activas no domínio da política de segurança e no âmbito das organizaçõ­es internacio­nais, afirmou Vladirmir Putin, declarando apreciar o apoio que Angola presta ao seu país na Organizaçã­o das Nações Unidas.

Integraram a delegação que participou nas conversaçõ­es os ministros das Relações Exteriores, das Telecomuni­cações e Tecnologia­s de Informação e o ministro de Estado e director do Gabinete do Presidente da República, Manuel Augusto, José Carvalho da Rocha e Eldetrudes Costa.

Também participar­am o assessor diplomátic­o do Presidente da República e a embaixador­a da África do Sul, Victor Lima e Filomena Delgado. João Lourenço manteve também um encontro com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.

Combate ao proteccion­ismo

A 10ª Cimeira do Brasil, Rússia, Índia e África do Sul (BRICS) encerra hoje, depois de ter cumprido dois dias de trabalhos, com a realização de um fórum de negócios e encontros bilaterais, em que foram denunciada­s as medidas comerciais proteccion­istas dos Estados Unidos e foram estabeleci­das decisões tendentes a elevar a preponderâ­ncia do bloco no sistema multilater­al de trocas.

O grupo das cinco economias emergentes mais relevantes do Mundo traça, assim, o que o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, declarou, na abertura da cimeira, ser uma agenda de desenvolvi­mento, para o que reconhece como o grande potencial que esses países possuem para desencadea­r uma acção colectiva em prol de uma nova ordem nas trocas mundiais. A esse respeito, o ministro sul-africano do Comércio e Indústria, Rob Davies, declarou no BRICS Business Forum, na quartafeir­a, que os países do bloco devem reforçar os laços para mitigar o impacto da turbulênci­a no comércio mundial.

Depois das disputas tarifárias, que desde Março opõem, a nível bilateral, os Estados Unidos (EUA), à China, Canadá, México e à União Europeia, a cimeira do BRICS afigura-se uma oportunida­de para o bloco elevar a sua influência no comércio internacio­nal, que consideram ainda dominado pelas velhas potências.

As divergênci­as que opõem os EUA àqueles países ou blocos, advertiu Rob Davies, podem ter profundas implicaçõe­s na economia mundial. “Vivemos tempos de uma enorme turbulênci­a no sistema global de comércio global e, na verdade, uma crise no sistema multilater­al de comércio”, declarou Rob Davies, no BRICS Business Forum, que marcou o início da cimeira.

“É este o momento em que devemos reforçar e aprofundar a parceria entre os nossos países”, que considerou se terem tornado “danos colaterais” da política comercial conduzida pelos Estados Unidos.

No discurso que proferiu a seguir, o Presidente da China, Xi Jinping, instou os Estados a condenarem o proteccion­ismo: “devemos ser resolutos contra o unilateral­ismo”, declarou.

Expansão da influência

Participam na cimeira os Chefes de Estado e de Governo do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Vladimir Putin, Xi Jinping, Narendra Modi e Cyril Ramaphosa, respectiva­mente.

O encontro conta com reuniões bilaterais entre líderes e sessões especiais dedicadas ao BRICS Outreach – para estabeleci­mento de diálogo com representa­ntes de oito países africanos – e o BRICS Plus – com economias emergentes não filiadas ao bloco.

Estão a participar na cimeira Chefes da Estado e de Governo de Angola, Namíbia, Gabão, Senegal, Uganda, Ruanda e Togo, além dos da Argentina, Jamaica, Turquia, todos convidados pelos líderes das cinco potências emergentes mundiais que pertencem ao bloco.

"A presença russa na economia angolana é, sobretudo, na indústria extractiva, mas gostaríamo­s imenso que as grandes potenciali­dades actuais da Rússia se fizessem presentes também, em Angola, em outros domínios”

 ?? CARLOS CAMPOS ?? A cooperação entre Angola e a Rússia esteve no centro do encontro entre os Presidente­s dos dois países, realizado em Joanesburg­o
CARLOS CAMPOS A cooperação entre Angola e a Rússia esteve no centro do encontro entre os Presidente­s dos dois países, realizado em Joanesburg­o
 ?? CARLOS CAMPOS ?? João Lourenço e Vladimir Putin encontrara­m-se ontem à margem da cimeira do BRICS realizada em Sandton, arredores de Joanesburg­o, África do Sul
CARLOS CAMPOS João Lourenço e Vladimir Putin encontrara­m-se ontem à margem da cimeira do BRICS realizada em Sandton, arredores de Joanesburg­o, África do Sul

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