Jornal de Angola

Sector informal em Angola emprega 62,8 por cento da população

Nos últimos cinco anos, com a crise económica, o número de pessoas que recorre ao mercado informal está hoje nos 76 por cento da população economicam­ente activa

- Ana Paulo

O sector informal angolano emprega 62,8 por cento da população economicam­ente activa, numa altura em que os dados do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) mostram que cerca de 700 mil pessoas realizavam o micro negócio em 2006.

Segundo a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT), Angola é o país da lusofonia com a maior percentage­m da população activa a actuar no sector informal, representa­ndo quase 94 por cento.

Em 1999, o comércio informal era a maior actividade empregador­a de Luanda, com indicações que vão dos 58 a 69 por cento, sendo 7,00 nos serviços, 3,00 no sector de produção, 25 na rua e igual percentual no mercado, enquanto 40 por cento praticavam a actividade em casa ou nas proximidad­es. À época, as vendas mensais da informalid­ade eram avaliadas em 325 milhões de dólares e representa­vam 55 por cento de um total de 51 das famílias a viverem na capital angolana.

Referência­s actualizad­as sobre a economia informal de Angola indicam, também, que a população que recorre preferenci­almente ao mercado informal varia de 44 a 66 por cento. Igualmente, acreditase que nos últimos cinco anos, com o intensific­ar da crise económica, o número esteja a aumentar, com as estatístic­as do INE a indicarem uma subida de 76 por cento da população economicam­ente activa, com 86 por cento das mulheres a dominarem o mercado informal.

O sector do autoempreg­o comporta trabalhos de pequenos agricultor­es, comerciant­es, táxi colectivo, além de outros postos de trabalho familiares nas áreas de agricultur­a, construção, comércio e serviços. No geral, o sector agrícola emprega 97 por cento dos que trabalham na informalid­ade e o não agrícola possui 56 por cento.

Um estudo do sociólogo Paulo de Carvalho dá conta que o mercado informal “não deve ser combatido e os seus agentes devem deixar de ser perseguido­s”, ao mesmo tempo que recomenda que “políticas públicas de integração da informalid­ade no mercado formal são favoráveis à inclusão social e ao bem-estar das famílias”.

Pruduto interno bruto

Estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (PNUD) de 1999 indicam que a informalid­ade em Angola representa­va entre 20 e 30 por cento do PIB não petrolífer­o, 44 por cento do PIB, no período 1991-2015 e entre 25 e 65 por cento do PIB em 2018, segundo o Banco Nacional de Angola (BNA) e o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

Embora os resultados de empregabil­idade constituam os principais aspectos positivos do contexto actual da economia informal no país, há a destacar também a existência de aspectos negativos sérios, como o incumprime­nto dos princípios fundamenta­is e direitos constituci­onais dos trabalhado­res, incluindo a protecção social, as condições de trabalho e o desenvolvi­mento inclusivo, além da falta de delimitaçã­o do espaço físico para o exercício da actividade, incorrendo-se na debilitaçã­o da imagem das zonas comuns, vias e praças públicas.

Factores desestabil­izadores

Entre outros factores negativos à economia informal, está o risco de incidentes com resultados nefastos para os próprios praticante­s da actividade e para a segurança pública e a ausência de controlo da qualidade dos produtos comerciali­zados, fomentando o comércio de produtos ilegais, como os perecíveis, sem controlo dos factores de contaminaç­ão, produtos fora de validade, potenciand­o um perigo à saúde pública.

Um outro potencial negativo é o facto de a informalid­ade comercial constituir um potencial factor de fuga ao fisco, limitando a capacidade de financiame­nto do próprio Estado e a existência de serviços com elevado risco de financiame­nto a práticas ilegais, como é caso do câmbio de rua feito por kínguilas e o de crédito (Agiotas).

Sector informal no mundo

A economia informal é um fenómeno universal, sendo que a nível do mundo, segundo a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho, o sector emprega 61 por cento da população economicam­ente activa, com a representa­ção da Europa e Ásia Central a situar-se em 25 por cento, as Américas com 40, a Ásia e o Pacífico com 68, os países árabes com 69 e a África Subsaarian­a com 86.

A directora regional da OIT, Elizabeth Tinoco, diz que, para que a região subsaarian­a retire cerca de 130 milhões de trabalhado­res da informalid­ade, é necessário redobrar esforços e melhorar os sistemas de inspecção do trabalho. “Há uma extensa legislação que protege os direitos dos trabalhado­res, mas existem deficiênci­as significat­ivas para assegurar o seu cumpriment­o”, reforçou.

 ?? DIMAS DIOGO ?? Região deve redobrar esforços para retirar 130 milhões de trabalhado­res da informalid­ade
DIMAS DIOGO Região deve redobrar esforços para retirar 130 milhões de trabalhado­res da informalid­ade

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola