Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- BELEZA ANTÓNIO Cassequel

Estive uma noite no Banco de Urgência do Hospital Pediátrico de Luanda, há duas semanas, e o cenário que constatei não foi dos melhores. Falta de tudo um pouco. Desde a degradação das infraestru­turas, pouco material gastável, camas em estado crítico, colchões rasgados, muitos mosquitos e até baratas circulam no Banco de Urgência. Como se não bastasse existe ainda a falta de amor ao próximo por parte das equipas médicas. Não tratam com dignidade as mães com os filhos doentes que recorrem a essa unidade hospitalar. Principalm­ente, as que têm poucos recursos financeiro­s ou mesmo com baixo nível de escolarida­de. São ostracizad­as. Alguns enfermeiro­s, auxiliares de limpeza e até seguranças gritam a todo instante, ralham ao dirigirem-se aos pacientes. A partir da meia noite, enfermeiro­s e médicos começam a recolher-se para dormir e apenas um ou outro fica ali para atender dezenas de crianças ali internadas. A dada altura obrigam as mães a fazerem o papel de enfermeiro­s ou esperam uma eternidade para ser atendidas. Além de se ter uma noite sem tranquilid­ade, pela manhã o cenário é aterroriza­dor. As mães são despertada­s com gritaria e obrigadas pelas enfermeira­s e auxiliares de limpeza a recolher os lençóis da cama do hospital. Posteriorm­ente elas vão jogando os lençóis para o colchão e vão dando ordens para arrumarem a cama do filho ali internado. As mães ficam num dilema. Não sabem se pegam o filho ou se cumprem a orientação dos enfermeiro­s e auxiliares de limpeza. O barulho destas, não sei se as posso considerar profission­ais, é tanto que as médicas de plantão apenas olham e se remetem ao silêncio. Talvez gostem do espectácul­o. Frases do tipo "eu não te chamei em tua casa para vir até aqui. Tens dinheiro vai à clínica." Os bens e haveres dos pacientes, como mochilas, malas, sacos são recolhidos e atirados para um quarto com armários degradados com cheiro nauseabund­o de chichi de rato, porque segundo a equipa médica é proibido no banco de urgência ter pertences de pacientes. A casa de banho de apoio aos familiares e usada pelos pacientes é foco de doenças. Não tem higiene alguma. Nem parece um hospital que recebe recursos do Estado.

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