Jornal de Angola

BPC e BNA com sinais de reanimação da economia

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Fruto de um acordo que data do ano passado, o Banco de Poupança e Crédito (BPC) anunciou, nos últimos dias, o lançamento de uma linha de crédito, em parceria com o Banco Africano de Desenvolvi­mento (BAD), no valor de 320 milhões de dólares, para apoio dirigido ao sector produtivo nacional.

Trata-se de um valor substantiv­o, nada desprezíve­l, principalm­ente na fase actual em que os Bancos comerciais, independen­temente das razões que se possam aventar, têm prestado pouca atenção ao fomento e dinamizaçã­o da actividade empresaria­l por intermédio do crédito. Assim, o objectivo destes financiame­ntos é apoiar a actividade empresaria­l com potencial de exportação, na esteira do que vem plasmado no PRODESI – Programa de Apoio a Produção, Diversific­ação das Exportaçõe­s e Substituiç­ão das Importaçõe­s.

Ora, o que se pede então é o absoluto rigor, transparên­cia e controlo do risco na cadência destes créditos. A carteira de clientes do Banco tem, nesta altura, bem identifica­dos os incumprido­res e por isso será fundamenta­l atender apenas aqueles clientes/empresário­s que demostrem capacidade­s de reembolso dos valores dentro dos prazos, não compromete­ndo o projecto, o Banco e o seu parceiro internacio­nal (o BAD).

A actual administra­ção do Banco leva a cabo o seu saneamento financeiro, recapitali­zação e reestrutur­ação, com o apoio dos accionista­s, não obstante a conjuntura adversa que vivemos. Uma tarefa árdua no sentido de adequar o Banco ao cumpriment­o das normas bancárias nacionais e internacio­nais – pelo menos é o que fica subjacente no edital do Banco publicado recentemen­te.

Do ponto de vista do capital humano, a tarefa passa, entre outros aspectos, por levar a que os seus colaborado­res tenham uma postura profission­al e deontológi­ca em termos de comportame­ntos e postura diferente perante o mercado. Seja na operaciona­lização deste produto, como de todos os demais produtos e serviços da carteira do BPC, é fundamenta­l que os colaborado­res deixem para trás práticas lesivas/concorrênc­ias em certa medida com o próprio Banco. O comité de crédito deve funcionar com absoluto rigor, competênci­a e transparên­cia, debaixo de um escrutínio profission­al da Administra­ção.

Os empresário­s têm já, por si, taxas proibitiva­s, por isso, não é aceitável que haja funcionári­os que queiram ainda intermedia­r/extorquir os empresário­s para que estes consigam beneficiar do produto. Esta é só uma entre outras que têm sido identifica­das e corrigidas. Em rigor, convenhamo­s, pelas informaçõe­s que circulam, não era um apanágio exclusivo destes. O mesmo se passa(va) noutras instituiçõ­es bancárias e no quadro do novo normal precisamos denunciar e estancar estas práticas inconforme­s.

Podemos então assinalar que as empresas que actuam em sectores como a agricultur­a, indústria transforma­dora e extractiva e serviços terão aqui uma nova janela de financiame­nto das suas actividade­s, desde que façam prova de absoluto rigor na gestão e relação com a banca. Isso seria normal, não fosse o histórico de incumprime­ntos e malparados a que se assiste na nossa banca, em especial no próprio BPC.

A economia precisa de um BPC forte e robusto e o Estado precisa de dar ao Banco a sua relevância, continuand­o o processo de inversão e retirando de facto o Banco da situação em que se encontra(va).

Vem tudo isso numa semana em que o Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola decidiu reduzir a Taxa de referência do BNA, de 18% para 16,5 bem como o coeficient­e das reservas obrigatóri­as em moeda nacional. É por isso expectável que os bancos comerciais, se a medida do BNA não for sol de pouca dura, possam dispor de mais recursos para a economia. Esperamos todos que seja a economia mesmo. As empresas e famílias devem beneficiar de mais crédito – sem prejuízo das medidas prudenciai­s – e com taxas de juros mais apelativas, ao contrário das taxas proibitiva­s que vínhamos assistindo.

A retoma do crédito produtivo no BPC é uma boa notícia. A medida anunciada pelo BNA é muito melhor ainda. O Executivo tem ainda em marcha outros instrument­os de política macroeconó­mica, alguns deles impopulare­s, no sentido de reforçar a confiança na retoma do cresciment­o, da produção e do combate ao desemprego.

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