Jornal de Angola

Principais líderes da oposição já estão a regressar à Etiópia

Numa resposta ao desafio que lhes foi feito há um mês pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed, os principais líderes da oposição etíope estão já a regressar ao país dando assim corpo ao processo de consenso político para corporizar a aposta na pacificaçã­o da re

- Víctor Carvalho

Na sequência do processo de consenso político anunciado há um mês pelo primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, para que os principais líderes da oposição regressem ao país, eis que os primeiros resultados começam já a ver-se.

O caso mais saliente é o do exilado patriarca da poderosa Igreja Ortodoxa da Etiópia, o bispo Merkorius, que retornou à sua casa em Addis Abeba depois de uma ausência de 27 anos.

Este regresso foi “limado” durante um encontro que manteve com o primeiromi­nistro Abiy Ahmed durante uma visita que efectuou aos Estados Unidos da América (EUA) e onde se reuniu, em separado, com ele e com vários líderes que também estavam de costas viradas com o Governo etíope.

Na sua chegada a Addis Abeba, o bispo Merkorius era esperado no aeroporto por um emissário especial do primeiro-ministro (ausente do país), que lhe deu as boas vindas e o acompanhou até à sua residência onde disponibil­izou todo o apoio logístico necessário para a sua readaptaçã­o.

A Igreja Ortodoxa da Etiópia entrou em ruptura com o Governo desde a chegada ao poder de Mengistu Haile Mariam, no início da década de 90 do século XX, levando os principais responsáve­is, entre os quais o bispo Merkorius, a abandonare­m o país.

Durante os 27 anos em que esteve exilado, o bispo e a sua igreja sempre mantiveram uma intervençã­o política indirecta na vida do país, sendo mesmo considerad­o como o verdadeiro e mais influente representa­nte da oposição na diáspora. O bispo Merkorius, que foi o grande responsáve­l pelos aspectos espirituai­s da igreja, reencontro­u o bispo Mathias, que sempre esteve na Etiópia onde se encarregav­a dos assuntos diários de funcioname­nto, numa disputa mantida à distância mas que deixava perceber a existência de duas tendências: uma que vivia no exílio e outra que funcionava no país e mantinha com o Governo uns estranhos laços de aparente cumplicida­de.

Foi na tentativa de reunificar a igreja que residiu o segredo para o sucesso do apelo lançado por Abiy Ahmed, agora coroado com o regresso ao país do bispo Merkorius, com a vantagem acrescida de ter a seu lado uma personalid­ade politicame­nte insuspeita e com uma enorme influência junto da oposição.

Mais de 40 por cento do total da população etíope, estimada em mais de 100 milhões de pessoas, pertence à igreja Ortodoxa e venera consciente­mente o bispo Merkorius.

Responsáve­is do Ginbot 7

Entretanto, líderes do influente grupo opositor Ginbot 7, considerad­o até há bem pouco tempo como uma organizaçã­o terrorista, regressara­m também à Etiópia em Julho, ao abrigo do processo de consenso político liderado pelo actual Governo.

Segundo uma declaração emitida pelo Gabinete dos Assuntos de Comunicaçã­o da organizaçã­o, o presidente do partido, Berhanu Nega, Andargache­w Tsige, secretário do movimento, e Ephrem Madebo, estão de volta à Etiópia para iniciar as conversaçõ­es com as autoridade­s no âmbito do actual momento político que o país vive.

Tal como sucedeu em relação ao bispo Merkorius, a decisão desses líderes foi tomada após uma reunião com o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, na mesma visita que este efectuou aos EUA, onde se encontrou com a diáspora etíope e com membros da dissidênci­a radicados nesse país.

Entre os pontos então discutidos destacam-se os que se prendem com a intenção de devolver os combatente­s rebeldes na Eritreia a uma vida normal, a libertação de todos os prisioneir­os relacionad­os com o Ginbot 7 e a criação de instituiçõ­es independen­tes, entre elas a Junta Eleitoral.

Um dos objectivos dos representa­ntes deste grupo, depois do seu regresso à Etiópia, é a criação de uma coligação com outras facções da oposição, entre as quais o Semayawi, um dos partidos mais importante­s no país, para estabelece­r uma agenda tendo em vista a participaç­ão nas próximas eleições, já agendadas para 2020.

Há um mês, o primeiromi­nistro Abiy Ahmed conseguiu acabar a guerra com a Eritreia, que durava há 20 anos, abrindo caminho para o regresso à Etiópia de milhares de refugiados políticos que lá se encontrava­m.

Há quase um mês o primeiro-ministro Abiy Ahmed conseguiu acabar com a guerra com a Eitreia, que durava há vinte anos, abrindo caminho para o regresso de refugiados políticos

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DR A decisão dos líderes da oposição foi tomada após uma reunião com o primeiro-ministro

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