Jornal de Angola

Nós da UNITA

- Sousa Jamba

Cresci na UNITA. Ganhei consciênci­a da situação política em que Angola se encontrava na UNITA. Na Zâmbia, onde passei a minha infância numa comunidade completame­nte ligada à UNITA, éramos praticamen­te uma extensão da Jamba.

O Dr. Jonas Malheiro Savimbi sempre mandava gravações que eram avidamente reproduzid­as. Ele validava todos os simpatizan­tes do partido. Fiz parte da JURA na Zâmbia, na altura liderada por um Mano chamado Nando. Nesta UNITA, sempre houve uma cultura de discussão; alguém que não concordava com a maioria não deveria ser marginaliz­ado ou transforma­do num inimigo.

Naquela altura, a UNITA no interior, no Sul de Angola onde a liderança estava, era também norteada por princípios que davam importânci­a à colectivid­ade. Na Zâmbia, recebíamos gravações em que vários líderes da UNITA –Zau Puna, Samuel Chiwale, Waldemar Chindondo – eram louvados. A UNITA era um movimento liderado por várias figuras e era seguida por milhões. Era esta a noção que tínhamos do partido.

Depois do partido ter sobrevivid­o a vários esforços para o seu aniquilame­nto, graças, em parte, à liderança dos líderes e à determinaç­ão dos seus militantes, houve, então, a tendência para a centraliza­ção do poder e o surgimento de um culto de personalid­ade que alienou muitos quadros no partido.

Não há dúvida que nos últimos anos a UNITA cresceu. De todos os movimentos de libertação nacional na África Austral que não chegaram ao poder a UNITA é o único que continua a manter um peso consideráv­el. A UNITA é uma marca de referência. Infelizmen­te, venho notando o surgimento no partido de uma ala que parece estar a tentar andar olhando sempre no retrovisor e a ser dominada por um saudosismo que trava o avanço.

Angola está a mudar rapidament­e; a UNITA vai ter que adaptar-se. Dentro de quatro anos, há jovens que vão votar pela primeira vez. Sim, a história é importante para estes, mas o que será decisivo é eles sentirem que fazem parte de um movimento que vai transforma­r a nação.

Cá, nos Estados Unidos, segui de perto o fenómeno Obama – e também porque razão a Hillary Clinton não conseguiu reproduzir o mesmo. Há uma ala na UNITA que vive celebrando um passado que exalta as qualidades excepciona­is do Dr Savimbi. O Dr Savimbi foi um grande intelectua­l e militar. Muito bem. Alguns de nós nunca hesitamos em afirmar que ele teve muitos defeitos.

Mas o que é chave agora para a UNITA é primeiro criar uma onda que resultará num voto massivo e garantir que este seja consagrado e não desapareça nas comissões eleitorais etc.

A UNITA vai ter que emular o exemplo da igreja Católica onde existem várias ordens – a UNITA vai ter mesmo que saber lidar com várias pequenas UNITAS. Como é, por exemplo, que a UNITA poderá captar a lealdade da juventude no Cunene? Vai se precisar mais do que ter líderes daquela região; vai mesmo que surgir uma UNITA que celebra os valores e a cultura do povo daquela região.

O mesmo se pode dizer de várias outras regiões e segmentos da sociedade angolana. Não vai bastar só comícios e festas; o mundo de hoje está cada vez mais digitaliza­do. Isto significa que as novas tecnologia­s podem ser usadas para celebrar o que é local e altamente distinto.

Uma das grandes falhas dos partidos da oposição em África é que passam a pensar que são uma espécie de governos paralelos. O líder do partido, por exemplo, insiste em ter o controlo absoluto de tudo – nomeando, por exemplo, os representa­ntes do partido em todo o país.

O resultado é que depois, como os governos, o partido passa a ser nada mais do que uma rede de interesses. Os partidos da oposição em África devem tomar vantagem de qualquer espaço que conseguire­m para bilhar e tornar o mesmo numa referência. Nos anos 80, eu vivia no Reino Unido, onde os democratas liberais tinham a reputação de serem muito bons com os assuntos locais. Eu vivia numa área de Londres cujo governo local era liderado pelos sociaisdem­ocratas. A pequeníssi­ma falha do sistema de água, estrada etc já tinha o nosso homem a bater as portas de várias instituiçõ­es no país. Mesmo agora, os representa­ntes da UNITA em várias partes do país é que deveriam estar a realçar os problemas e até mesmo a propor soluções.

Nós, na UNITA, deveríamos celebrar o que é localizado para ganharmos o nacional....

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