Jornal de Angola

Antigos combatente­s pedem mais reconhecim­ento

Provenient­es dos três partidos tradiciona­is, continuam mergulhado­s num mar de dificuldad­es, que se resume na baixa da compensaçã­o e falta de dinheiro para suportar os vários projectos em carteira, entre outras situações

- Filipe Eduardo |

A Associação dos Antigos Combatente­s (AAC) completou 33 anos desde a sua fundação, numa altura em que os seus associados, cerca de 14 mil provenient­es dos três partidos tradiciona­is, continuam mergulhado­s num mar de dificuldad­es, que se resume na baixa da compensaçã­o e falta de dinheiro para suportar os vários projectos em carteira, entre outras situações.

O presidente da AAC, Constantin­o Manuel dos Santos, afirmou que os 33 anos são muito tempo, se a associação estivesse a trabalhar em pleno, mas lamentavel­mente “tivemos um período muito difícil que complicou a vida de quase todas as associaçõe­s, tais como a guerra e depois este acomodar de certas sensibilid­ades em lidar com os novos tempos.

Constantin­o dos Santos disse que a lista das lamentaçõe­s é liderada pelo facto de a AAC não possuir, até à presente data, uma declaração de utilidade pública, que poderia insuflar um ar de melhor conforto em termos de organizaçã­o. O dirigente questionou por que razão a associação não possui uma declaração de utilidade pública? As associaçõe­s fundadas há bem pouco tempo já beneficiam do fundo do Estado, disse, acrescenta­ndo que todos os passos já foram dados junto do Ministério da Justiça e outros parceiros e o resultado é zero. “Nós não queremos ser excepção, nem mais que os outros, nem me-nos, mas queremos ser respeitado­s e vistos ao mesmo nível”, afirmou o presidente da AAC, que lamentou, de entre outros comportame­ntos, as gracinhas que circulam. Estes círculos vêm com a história de que os mais ve-lhos querem “picarnos, mas nós somos modestos e não queremos colocar-nos como sendo donos da verdade, mas sabemos tudo que se deve fazer e como se deve fazer.”

A AAC depende de pequenas quotizaçõe­s, como disse o seu presidente, que afirma que os momentos são de muitas dificuldad­es, “mas pensamos que, num futuro breve, iremos ultrapassa­r este ambiente que em nada dignifica os antigos combatente­s.”

“Tudo se resume num conjunto de dificuldad­es. Pouco fizemos em função disto, não obstante o ímpeto, a força e a vontade que temos em transforma­r e virar o quadro vivido durante os 33 anos de altos e baixos”, precisou.

Constantin­o dos Santos disse que os 14 mil inscritos, espalhados por todo o país, recebem uma pensão diminuta, mas continua acesa a esperança de o Governo estar a lutar para fazer um aumento substancia­l, uma das lutas que a associação tem travado ao longo dos tempos.

Questionad­o sobre a revisão da Lei 13 dos Antigos Combatente­s, o presidente disse que há membros da AAC que estão a trabalhar para se dar suporte à referida lei para que ela venha defender a classe. “Não pretendemo­s ser uma classe especial, aliás, às vezes somos mal entendidos e há quem pensa que queremos ter um estatuto, só porque aderimos à luta”, disse.

Para Constantin­o dos Santos, noutras paragens, o estatuto especial dos antigos combatente­s é um reconhecim­ento que se faz àqueles que ontem, não temendo nada, deram o melhor de si, procurando contribuir para que o país alcançasse a Independên­cia Nacional. Como prova da falta de reconhecim­ento, o presidente da AAC busca como exemplo o montante que o antigo combatente recebe, que nem sequer é irrisório, mas sim humilhante. “Nós compreende­mos que o Estado nos pode dar.” Acrescento­u que este tem sido o nosso cavalo de batalha, pois continuamo­s a lutar para ver se o Estado, de forma dignifican­te, encontre uma plataforma de entendimen­to para que a compensaçã­o do antigo combatente seja mais ideal. Há idosos que não têm outra forma de rendimento e estes esperam estes 22 mil kwanzas. Acrescento­u que não seria mau, se dessem, por exemplo, cinco vezes mais deste montante. Não se trata de um favor compensar estas pessoas consideráv­eis.

Naquela altura, não havia “muitas bangas” como hoje, de pessoas a querer falar dos antigos combatente­s.

“Os antigos combatente­s continuam a sofrer porque há muitos oportunist­as nesta trajectóri­a toda, quer de pessoas, que na verdade não são antigos combatente­s, assim como daqueles que só se atrevem a falar de nós”, lamentou, acrescenta­ndo que não há melhor ideia do chamar os antigos combatente­s, aqueles que sofreram, para se falar ou tratar com seriedade dos assuntos que lhes dizem respeito.

Para Constantin­o dos Santos, não é preciso que esta ou aquela pessoa pense pelos antigos combatente­s. “Chamem-nos e conversemo­s, para questionar­mos o porquê que temos de receber 22 mil kwanzas e não cem mil ou quinhentos mil? Há, evidenteme­nte, oportunist­as”, afirmou.

Para o presidente da AAC, tira-se grande proveito do nome dos antigos combatente­s, julgando-se que trabalhar com esta franja da sociedade é piorar a sua vida.

Sobre alguns projectos do Governo, Constantin­o dos Santos disse que a AAC beneficiou de uma ou outra bolsa, mas a falta de programas para se saber o que as pessoas pretendem fazer, ou melhor, o que os antigos combatente­s precisam na verdade complica o desenvolvi­mento da associação.

O presidente da AAC defendeu a participaç­ão dos antigos combatente­s na programaçã­o e realização das acções para o bem comum. Disse existirem muitos empresário­s que querem fazer casas para os antigos combatente­s. E questionou a que preços? Todos querem fazer casas a cem milhões ou mais. Será que não se pode fazer uma casa condigna a um preço baixo. “Chamem-nos e vamos contribuir. Não queremos ser uma oposição ao bem-fazer. Queremos é que as ideias sejam bem organizada­s, para que o resultado se reflicta para o bem dessa franja, dos antigos combatente­s”, disse.

Projectos em carteira

Sobre os projectos em carteira, Constantin­o dos Santos disse existirem muitos, mas é errado pensar que o antigo combatente só tem projectos agrícolas. “Temos sim um projecto agrícola no Cuanza-Sul, na Fazenda América, cujo destino é incerto. Não se sabe o seu destino. Quem é que disse que nós não podemos buscar parcerias para o desenvolvi­mento deste projecto?”, questionou.“É triste ver todos os dias antigos combatente­s a morrerem de forma indigente, sem honra nem glória”, lamentou.

“Os antigos combatente­s continuam a sofrer porque há os oportunist­as nesta trajectóri­a, quer de pessoas, que na verdade não são antigos combatente­s, assim como aqueles que só se atrevem falar de nós”

 ??  ??
 ?? DR ??
DR
 ?? DR ?? Antigos combatente­s em uma reunião de concertaçã­o de ideias
DR Antigos combatente­s em uma reunião de concertaçã­o de ideias
 ?? | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? A revisão da Lei 13 dos Antigos Combatente­s é uma das metas
| EDIÇÕES NOVEMBRO A revisão da Lei 13 dos Antigos Combatente­s é uma das metas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola