Antigos combatentes pedem mais reconhecimento
Provenientes dos três partidos tradicionais, continuam mergulhados num mar de dificuldades, que se resume na baixa da compensação e falta de dinheiro para suportar os vários projectos em carteira, entre outras situações
A Associação dos Antigos Combatentes (AAC) completou 33 anos desde a sua fundação, numa altura em que os seus associados, cerca de 14 mil provenientes dos três partidos tradicionais, continuam mergulhados num mar de dificuldades, que se resume na baixa da compensação e falta de dinheiro para suportar os vários projectos em carteira, entre outras situações.
O presidente da AAC, Constantino Manuel dos Santos, afirmou que os 33 anos são muito tempo, se a associação estivesse a trabalhar em pleno, mas lamentavelmente “tivemos um período muito difícil que complicou a vida de quase todas as associações, tais como a guerra e depois este acomodar de certas sensibilidades em lidar com os novos tempos.
Constantino dos Santos disse que a lista das lamentações é liderada pelo facto de a AAC não possuir, até à presente data, uma declaração de utilidade pública, que poderia insuflar um ar de melhor conforto em termos de organização. O dirigente questionou por que razão a associação não possui uma declaração de utilidade pública? As associações fundadas há bem pouco tempo já beneficiam do fundo do Estado, disse, acrescentando que todos os passos já foram dados junto do Ministério da Justiça e outros parceiros e o resultado é zero. “Nós não queremos ser excepção, nem mais que os outros, nem me-nos, mas queremos ser respeitados e vistos ao mesmo nível”, afirmou o presidente da AAC, que lamentou, de entre outros comportamentos, as gracinhas que circulam. Estes círculos vêm com a história de que os mais ve-lhos querem “picarnos, mas nós somos modestos e não queremos colocar-nos como sendo donos da verdade, mas sabemos tudo que se deve fazer e como se deve fazer.”
A AAC depende de pequenas quotizações, como disse o seu presidente, que afirma que os momentos são de muitas dificuldades, “mas pensamos que, num futuro breve, iremos ultrapassar este ambiente que em nada dignifica os antigos combatentes.”
“Tudo se resume num conjunto de dificuldades. Pouco fizemos em função disto, não obstante o ímpeto, a força e a vontade que temos em transformar e virar o quadro vivido durante os 33 anos de altos e baixos”, precisou.
Constantino dos Santos disse que os 14 mil inscritos, espalhados por todo o país, recebem uma pensão diminuta, mas continua acesa a esperança de o Governo estar a lutar para fazer um aumento substancial, uma das lutas que a associação tem travado ao longo dos tempos.
Questionado sobre a revisão da Lei 13 dos Antigos Combatentes, o presidente disse que há membros da AAC que estão a trabalhar para se dar suporte à referida lei para que ela venha defender a classe. “Não pretendemos ser uma classe especial, aliás, às vezes somos mal entendidos e há quem pensa que queremos ter um estatuto, só porque aderimos à luta”, disse.
Para Constantino dos Santos, noutras paragens, o estatuto especial dos antigos combatentes é um reconhecimento que se faz àqueles que ontem, não temendo nada, deram o melhor de si, procurando contribuir para que o país alcançasse a Independência Nacional. Como prova da falta de reconhecimento, o presidente da AAC busca como exemplo o montante que o antigo combatente recebe, que nem sequer é irrisório, mas sim humilhante. “Nós compreendemos que o Estado nos pode dar.” Acrescentou que este tem sido o nosso cavalo de batalha, pois continuamos a lutar para ver se o Estado, de forma dignificante, encontre uma plataforma de entendimento para que a compensação do antigo combatente seja mais ideal. Há idosos que não têm outra forma de rendimento e estes esperam estes 22 mil kwanzas. Acrescentou que não seria mau, se dessem, por exemplo, cinco vezes mais deste montante. Não se trata de um favor compensar estas pessoas consideráveis.
Naquela altura, não havia “muitas bangas” como hoje, de pessoas a querer falar dos antigos combatentes.
“Os antigos combatentes continuam a sofrer porque há muitos oportunistas nesta trajectória toda, quer de pessoas, que na verdade não são antigos combatentes, assim como daqueles que só se atrevem a falar de nós”, lamentou, acrescentando que não há melhor ideia do chamar os antigos combatentes, aqueles que sofreram, para se falar ou tratar com seriedade dos assuntos que lhes dizem respeito.
Para Constantino dos Santos, não é preciso que esta ou aquela pessoa pense pelos antigos combatentes. “Chamem-nos e conversemos, para questionarmos o porquê que temos de receber 22 mil kwanzas e não cem mil ou quinhentos mil? Há, evidentemente, oportunistas”, afirmou.
Para o presidente da AAC, tira-se grande proveito do nome dos antigos combatentes, julgando-se que trabalhar com esta franja da sociedade é piorar a sua vida.
Sobre alguns projectos do Governo, Constantino dos Santos disse que a AAC beneficiou de uma ou outra bolsa, mas a falta de programas para se saber o que as pessoas pretendem fazer, ou melhor, o que os antigos combatentes precisam na verdade complica o desenvolvimento da associação.
O presidente da AAC defendeu a participação dos antigos combatentes na programação e realização das acções para o bem comum. Disse existirem muitos empresários que querem fazer casas para os antigos combatentes. E questionou a que preços? Todos querem fazer casas a cem milhões ou mais. Será que não se pode fazer uma casa condigna a um preço baixo. “Chamem-nos e vamos contribuir. Não queremos ser uma oposição ao bem-fazer. Queremos é que as ideias sejam bem organizadas, para que o resultado se reflicta para o bem dessa franja, dos antigos combatentes”, disse.
Projectos em carteira
Sobre os projectos em carteira, Constantino dos Santos disse existirem muitos, mas é errado pensar que o antigo combatente só tem projectos agrícolas. “Temos sim um projecto agrícola no Cuanza-Sul, na Fazenda América, cujo destino é incerto. Não se sabe o seu destino. Quem é que disse que nós não podemos buscar parcerias para o desenvolvimento deste projecto?”, questionou.“É triste ver todos os dias antigos combatentes a morrerem de forma indigente, sem honra nem glória”, lamentou.
“Os antigos combatentes continuam a sofrer porque há os oportunistas nesta trajectória, quer de pessoas, que na verdade não são antigos combatentes, assim como aqueles que só se atrevem falar de nós”