Jornal de Angola

MANUEL RUI

O cágado e as palavras do silêncio

- Manuel Rui

Ali Babá e os Quarenta Ladrões é um conto reportado à Arábia pré-islâmica e o fazer parte do Livro das Mil e Uma Noites (ou Noites da Arábia) resulta de alguns estudiosos afirmem que o orientalis­ta francês Antoine Galland (séc. XVIII) depois de ter ouvido em Alepo a narrativa de Ali Babá falada por um árabe contador de estórias, decidiu integrá-la no Livro das Mil e Uma Noites. Em Alepo, a cidade feita ruínas a que assistimos na televisão, por causa da guerra que não obstante destruir monumentos não consegue destruir a oratura que depois virou literatura. Aqui e por isso se convida à reflexão sobre a grande biblioteca ancestral, como a nossa que nem o tráfico de escravos conseguiu apagar.

Dizem que este conto tem origem na saga do rei Ali Babá, rei que vivia perto de Port Sudan que se recusara a pagar impostos a Al-Mutawakki, o décimo califa de Bagdá. O rebelde Ali guardou todo o ouro na montanha impedindo os cobradores de irem à região do Mar Vermelho. O califa mandou o seu exército, derrotou Ali e levou o tesouro que foi sendo exposto juntamente com Ali por todas as cidades até Samarra, criando o mito da caverna e da lenda dos quarenta ladrões. Por fim Ali foi amnistiado em Samarra e deixado sair com ouro que ele foi distribuin­do aos pobres que encontrava durante o caminho. Mas vamos ao resumo da estória (narrativa que era oral). O Jovem Ali era uma espécie de mensageiro viajando pela Pérsia (hoje Irão) levando e trazendo notícias para o rei. Uma vez, descansava e ouviu vozes. Daí que subisse para cima de uma árvore e viu quarenta ladrões junto a uma enorme pedra. “Abre-te Sésamo!” E a pedra deslocou-se para mostrar uma abertura de caverna. Os ladrões encheram-se de ouro e outros valores, ensacaram, “fechate Sésamo” e a pedra fechou-se. Quando os homens desandaram Ali Babá gritou também para a pedra “abre-te Sésamo!” E a pedra abriu-se. Estava diante de um imenso tesouro, carregou os alforjes do cavalo e foi ao palácio pedir a mão da filha do sultão por quem estava apaixonado. E o sultão aceitou aquele alambament­o e o pedido.

Ali contava alegrement­e aos amigos mais íntimos que ia desposar a filha do Sultão. Depois meteu-se em pensamento­s de arranjar um palácio para a sua diva. Foi à pedra e “abre-te Sésamo.” Carregou tesouro. Mas foi topado por um dos ladrões escondido que correu até ao grupo para se prepararem e um dia agarrarem Ali. No entanto, Ali Babá comprou joias e mais joias, comprou o palácio e fez passar pelos amigos mais próximos sua intenção de dar uma grande festa no dia do seu casamento.

Os ladrões souberam disso tudo. Meteram-se em toneis de vinho vazios para atacar á meia-noite quando já Ali e a esposa estivessem dormindo. Só que a festa foi muito grande, o vinho acabou. Ali foi à adega ver da reserva de vinho. Ouviu “já é meia-noite?” E Ali respondeu que “já, mas esperem a festa acabar e depois vamos agarrar o que roubou o nosso tesouro.” Regressou ao enorme salão da festa e gritou: “O vinho azedou e preciso de ajuda para levá-lo daqui.”

Os guardas ajudaram até colocarem as vasilhas á beira de um precipício para jogarem os ladrões por ali abaixo. Aí, os quarenta ladrões entregaram-se aos guardas. Ali Babá ficou com a fortuna e ele e a princesa foram muito felizes.

Há várias versões deste conto. Numa Ali e o irmão deitam azeite a ferver dentro de cada vasilha onde se escondiam os ladrões. Que eram muito maus e estavam ricos por roubarem ao povo. Outra fala que numa cidade viviam dois irmãos, Cássim, comerciant­e de tecidos ricos e Ali Babá pobre e lenhador numa floresta. Desta vez foi com burros que Ali carregou a riqueza em moedas, ouro e tapetes da Pérsia. Esta versão dá importânci­a â mulher de Ali e seu empenho na riqueza.

A estória com diversas versões, como sempre acontece de narrativas recolhidas da oratura, revela-nos a profundida­de das relações sociais, do sobrenatur­al e dos valores éticos de qualquer sociedade. Ao contrário de outras narrativas ocidentais que opõem o mal ao bem que vence, da menina pobre que chega ao palácio, ou mesmo da paixão do imperador romano por Cleópatra, aqui, no Ali Babá, o herói é um herói negativo. Ele não vai denunciar ladrões mas é da sua igualha, rouba também. Também, por causa da riqueza obtida pelo roubo sobra a solução violenta conjugada com a compra de um palácio e uma princesa que admira as malfeitori­as do marido e, numa das versões, até controla com o cunhado o inventário e a guarda da riqueza.

Se a narrativa fosse minha Ali, quando roubou e derrotou os ladrões deveria ter feito uma combina com eles para continuare­m a roubar e no fim acabariam castigados por Alá e jamais, depois de mortos teriam direito a tâmaras no oásis do além. Outras conclusões ficam para os leitores desta minha crónica. Por mim “fecha-te Sésamo.”

Dizem que este conto tem origem na saga do rei Ali Babá, rei que vivia perto de Port Sudan que se recusara a pagar impostos a Al-Mutawakki, o décimo califa de Bagdá. O rebelde Ali guardou todo o ouro na montanha impedindo os cobradores de irem à região do Mar Vermelho

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