Os incêndios no estrangeiro devem servir para reflexão
Os incêndios que, nos últimos meses, têm deflagrado em vários pontos do mundo, abrindo caminhos de dor, miséria, luto, devem servir-nos de alerta para o facto de não sermos imunes a males que afectam outros países. As imagens que nos mostram as televisões, de testemunhos, tantas vezes feitos de silêncios, olhos já sem lágrimas para chorar, rostos de incredulidade de quem perdeu tudo o que tinha, até entes queridos, dão-nos a pálida ideia dos quadros pintados a fogo e cinza. Como dão, as mãos calejadas dos bombeiros de tantas mangueiras puxarem num combate desigual contra inimigo implacável na fúria destruidora, mas também contra o adversário feito de sono, cansaço, fome, sede. As imagens das televisões, as palavras lidas nos jornais, ouvidas na rádio devem levar-nos à consciencialização de que aqueles cenários dantescos não são obra de um artista plástico. Quando muito, de mente criminosa, espevitada, quase sempre, por vingança ou interesses económicos, mas igualmente por iniciativa da Mãe Natureza, não raro como reacção às agressões de que, cada vez mais, é vítima. Independentemente das causas, qualquer país está sujeito a males e o nosso não é excepção. Os incêndios que continuam a fazer vítimas em várias partes do mundo devem levar-nos à reflexão sobre as cidades, vilas, aldeias, até bairros, que estamos a construir. Se, em nome de um progresso, no mínimo duvidoso, devemos, ou não, continuar a substituir, ruas, largos e jardins por “caixotes” de vidro ou cimento armado. Quase numa corrida surrealista para saber qual deles chega primeiro às nuvens. As imagens que nos chegam também mostram bombeiros altamente preparados a utilizar material sofisticado, entre os quais helicópteros e serviços de apoio dignos desse nome. Mesmo assim, com dificuldade enormíssimas para salvar pessoas, prédios, animais, viaturas, florestas, plantações, derrotar o inimigo feito de labaredas traiçoeiras, enganadoras. Que parecem extintas numa frente e surgem noutra. As imagens que nos chegam devem levar-nos a tentar saber que bombeiros temos, quantos são, que preparação e material dispõem. O que pensam de tudo isto, eles, os nossos principais defensores em caso de incêndios? A capital do nosso país é o que quase todos os que a habitam sabem, o caos em todos os aspectos. Como podem os bombeiros acorrer a um fogo no meio desta balbúrdia de artérias entupidas de trânsito automóvel, a que se juntam peões por terem os passeios ocupados com quitandas e “bancas de câmbio”? Ainda por cima, sem bocas de incêndio! Os fogos que deflagraram nos últimos meses e continuam acesos em várias partes do mundo devem servir para tirarmos ilações, ensinamentos. Têm de ser criadas formas de nos defendermos se o mal nos “bater à porta”. Para não suceder como quando a crise económica chegou. Apesar de anunciada, pouquíssimos lhe deram importância, como se estivéssemos resguardados contra males que não sentíamos, fossem “cenas de outras paragens”. Foi o que se viu, é o que se vê. Os bombeiros, por algum motivo, são tratados, em todo o mundo, como “soldados da paz”. Por não usarem armas de fogo nos combates que são chamados a travar. Sempre na procura do bem-estar das populações. Talvez por isso, não lhes é dado o relevo merecido. Da própria população, pelo menos na generalidade, a não ser quando precisa deles. Chegou o momento de lhes proporcionarem o que merecem: melhores condições de trabalho. Que passam necessariamente, entre outras coisas, por acções de formação e actualização de conhecimentos constantes, bem como melhores condições de circulação nas nossas cidades, vilas e aldeias.
Os incêndios que ocorrem em várias partes do mundo devem servir para reflectirmos sobre o país que estamos a construir. Com ruas, largos e jardins substituídos por “caixotes” de vidro ou cimento armado para saber qual é o que chega primeiro às nuvens