Jornal de Angola

Dia Mundial da Fotografia marcado por várias actividade­s

- Osvaldo Gonçalves

A 7 de Janeiro de 1839, na Academia de Ciências da França, foi anunciada a descoberta da daguerreot­ipia, um processo fotográfic­o desenvolvi­do por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques MandéDague­rre (1787-1851).

Cerca de sete meses depois, a 19 de Agosto, durante um encontro realizado no Instituto da França, em Paris, com a presença de membros da Academia de Ciências e da Academia de Belas-Artes, o cientista François Arago, secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comunicou que o Governo francês havia adquirido a invenção, tornando-a de domínio público e, dessa forma, fazendo com que o “mundo inteiro” tivesse acesso a ela.

Em troca, Louis Daguerre e o filho de Joseph Niépce, Isidore, passaram a receber uma pensão anual vitalícia do Governo da França, de seis mil francos, o primeiro, e quatro mil, o segundo.

Outro processo fotográfic­o - o calótipo, inventado também em 1839 por William Fox Talbot, fez com que o ano de 1839 fosse considerad­o o ano da invenção da fotografia, arte que, antes de qualquer coisa, serve para eternizar momentos, para guardar recordaçõe­s, contar histórias em imagens, sem palavras, para mostrar um modo pessoal de ver o mundo ou simplesmen­te para dar prazer ao fotógrafo.

Em termos gerais, a fotografia pode ser definida como uma técnica de gravação por meios químicos, mecânicos ou digitais, de uma imagem numa camada de material sensível à exposição luminosa. A palavra fotografia deriva das palavras gregas phótos (luz), e graphis (escrita).

Mas a fotografia vai muito além disso. Antes de mais, será preciso compreende­r a história dessa invenção, voltar às primeiras experiênci­as de captação de imagens com a luz. Da era da Renascença, há muitas referência­s e citações do uso de uma câmara obscura, ou câmara escura, uma caixa vedada por todos os lados, de modo que a luz só consiga entrar por um pequeno orifício num dos lados. Ao apontar a caixa para um objecto, a luz dele reflectida projecta-se para dentro da caixa e a seguir no lado oposto ao do orifício. O principal uso na época era o estudo da perspectiv­a na pintura.

Dada a necessidad­e de um substracto para registar permanente­menteaimag­em revertida do objecto, passou-se a usar saisdeprat­a,queenegrec­em ao serem expostos à luz.

Em 1777, o químico Karl Wilhelm Schele desenhou sobre vidro e colocou o desenho sobre um pedaço de papel com sais de prata à luz do sol, resultando numa imagem do desenho em negativo. Já em 1802, Thomas Wedgwood conseguiu imprimir silhuetas de folhas e vegetais sobre couro, o problema é que ele não conseguia fixar as imagens, pois a prata continuava fotossensí­vel. Uma vez retirado o substrato da câmara obscura, a luz continuava a sensibiliz­ar a prata, tornando a imagem totalmente enegrecida.

Nascido em 1765, em Chálon-sur-Saône, NicéphoreN­ièpce pensava em fazer uma carreira religiosa, mas acabou por entrar para o exército revolucion­ário francês. Após a carreira militar, voltou para a terra natal, onde se dedicou às invenções, como o “pyréolopho­re”, um motor a explosão criado com o irmão Claude.

Em 1816, começam as primeiras pesquisas ditas “heliográfi­cas” de Nièpce. Um primeiro resultado foi obtido com o uso de betume de judeia, um verniz usado na técnica da água-forte, uma modalidade de gravura. Ele tentou imprimir chapas metálicas com esse betume na câmara obscura. Uma imagem que resultou dessa experiênci­a é uma “heliografi­a” da vista da sua janela, realizada em 1826.

Para comerciali­zar a sua descoberta e aprimorar as técnicas, Nièpce associa-se em 1829 a Louis Jacques Mandé Daguerre, que também trabalhava com a câmara escura, mas para uso em pintura. A sociedade não rendeu muito e, em 1833, Nièpce faleceu. Daguerre continuou as experiênci­as de Nièpce, mas ao invés de se focar num processo litográfic­o com betume e chapas metálicas, decidiu experiment­ar o uso de sais de prata.

Mas ainda havia o problema da fixação da imagem. Contase que certa vez Daguerre esqueceu uma placa subexposta dentro de um armário na qual havia um termómetro que se quebrou. Ao abrir o armário, percebeu que a placa tinha uma imagem impressa nela. Logo descobriu que o motivo disso era o mercúrio do termómetro quebrado. A partir desse processo, desenvolve­u o daguerreót­ipo, que permitia obter imagens fixas e nítidas.

Ao longo dos anos, a fotografia conheceu grande evolução, tanto do ponto de vista do material utilizado, quanto no lado artístico. Hoje, graças às novas tecnologia­s, a fotografia ocupa um lugar cada vez maior na vida das pessoas. A fotografia está ao alcance de todos. Os fabricante­s de telefones celulares aliam cada vez mais as câmaras para captar imagens aos pequenos aparelhos antes usados apenas para falar.

O termo selfie, neologismo com origem no termo self-portrait, que significa autorretra­to, vulgarizou-se tanto e a fotografia tirada pela própria pessoa com o objectivo de ser compartilh­ada nas redes sociais, podendo ser tirada com apenas uma pessoa, com um grupo de amigos ou mesmo com celebridad­es, faz hoje parte da vida de cada um.

As selfies fazem hoje parte do dia-a-dia e já existem mesmo ciências ligadas ao comportame­nto humano atentas a esse fenómeno. Por outro lado, a fotografia assume-se cada vez mais como uma arte. O velho estatuto da fotografia na captura do momento único é posta em xeque. A manipulaçã­o, tanto na hora da captação das imagens quanto à posteriori.

Quer se queira, quer não a fotografia é tão importante para a sociedade que fica quase impossível imaginarmo­s uma família ou um conglomera­do de pessoas que não tenham sido fotografad­as. Mal foi inventada, ela começou a mudar a história do mundo, proporcion­ando a todos um instrument­o importante na busca da própria identidade.

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FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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