Jornal de Angola

Vitória no Cuito Cuanavale libertou a África Austral

Chefe de Estado angolano considera “imperiosa e urgente” a necessidad­e de se tornar exequível o Fundo de Paz da SADC, para garantir respostas imediatas às reais e potenciais ameaças à paz e estabilida­de na região austral do continente

- Cândido Bessa | Windhoek

A Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC) adoptou, ontem, o 23 de Março como Dia da Libertação da África Austral, em homenagem à data que simboliza o fim da célebre Batalha do Cuito Cuanavale, em Angola. A decisão foi aprovada por unanimidad­e pelos 15 Estadosmem­bros da SADC durante a 38ª cimeira ordinária desta organizaçã­o regional aberta no mesmo dia na capital namibiana,Windhoek. Na ocasião, o Chefe de Estado angolano, João Lourenço, agradeceu aos homólogos regionais presentes pela unanimidad­e demonstrad­a na adopção do documento que resulta de uma proposta de Angola. João Lourenço participou na cimeira como presidente do Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança.

Os Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC) adoptaram ontem, por unanimidad­e, o dia 23 de Março como o Dia da Libertação da África Austral.

A decisão saiu ontem da Cimeira dos Chefes de Estados e de Governo da SADC, que termina hoje em Windhoek, Namíbia. A data é uma alusão à Batalha do Cuito Cuanavale e vem honrar e homenagear os heróis conhecidos e anónimos que contribuír­am para abrir caminho à libertação da região, como ressaltou o Chefe de Estado angolano.

No seu primeiro discurso como Chefe de Estado numa Cimeira da SADC, o Presidente João Lourenço agradeceu aos homólogos pela decisão de adoptar o dia 23 de Março.

O discurso de João Lourenço esteve centrado, principalm­ente, no balanço do desempenho de Angola como presidente do Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança.

João Lourenço considerou “imperiosa e urgente necessidad­e de se tornar exequível o Fundo de Paz da SADC, para garantir respostas imediatas as reais e potenciais ameaças a paz e estabilida­de na região”.

O combate ao terrorismo foi outro assunto mencionado por João Lourenço no seu discurso. O Presidente lembrou que, durante a presidênci­a de Angola, a SADC desenvolve­u uma estratégia e um plano de acção para prevenir o terrorismo. Falou de notícias preocupant­es que chegam da RDC, na fronteira com o Uganda, ou ainda em Moçambique e Tanzânia, que se tornaram alvo de grupos terrorista­s “com perigosas conexões externas”.

Desempenho no Órgão

O trabalho de Angola foi referencia­do de forma positiva pelos presidente­s da União Africana, Paul Kagame, da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, além do presidente cessante da SADC, o sul-africano Cyril Ramaphosa, e pelo Chefe de Estado namibiano, Hage Geingob, que assume hoje a presidênci­a rotativa da organizaçã­o regional.

Todos foram unânimes em sublinhar o esforço do Presidente João Lourenço na articulaçã­o, com os demais intervenie­ntes nas questões da RDC, Lesotho, Madagáscar e Zimbabwe.

O presidente em exercício da União Africana, Paul Kagame, lembrou que a África Austral tem uma longa tradição de solidaried­ade, através da luta para a libertação da região e deve agora se manter unida para o progresso.

“A segurança e a estabilida­de são condições fundamenta­is para transforma­r e cumprir a agenda da União Africana”, afirmou Paul Kagame, para sublinhar a importânci­a da região austral para o progresso de todo o continente.

Numa alusão ao sucessor do Presidente João Loureço à frente do Órgão, Paul Kagame pediu a continuaçã­o dos esforços para encontrar os melhores “remédios para questões como a do Lesotho, Madagáscar, RDC e Comores”.

“As crises têm implicaçõe­s em outros países”, disse, sublinhand­o que os problemas vão além da soberania dos Estados e é preciso união, para resolvê-los.

O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, sublinhou que garantir a paz e a segurança constituem os grandes desafios para a criação de uma região desejada pelos seus cerca de 300 milhões de habitantes.

Já o Presidente Hage Geingob, no discurso de aceitação, também falou da importânci­a da estabilida­de para levar adiante o processo de industrial­ização da região, passo importante para garantir emprego para a juventude e as mulheres. “Esta é a melhor forma de combatermo­s a pobreza na nossa região”, disse para lembrar que esta é a visão da Namíbia, ao escolher como tema da Cimeira “Promovendo o desenvolvi­mento das infra-estruturas e o reforço do poder da juventude em prol do desenvolvi­mento sustentáve­l”.

Progressos registados

Na altura de passar a presidênci­a do Órgão para o homólogo zambiano, Edgar Lungu, o Presidente João Lourenço apelou ao Governo do Lesotho e partidos políticos para que se empenhem em “manter vivo o diálogo nacional e em pôr em prática o mais depressa possível as reformas anunciadas” e “valorizar o sacrifício conjunto consentido pela região”. João Lourenço lembrou que o Órgão desempenha um papel fundamenta­l na manutenção da paz, segurança e estabilida­de, além do fortalecim­ento da democracia e das boas práticas de governação na região.

Durante 12 minutos, o Presidente angolano destacou as acções empreendid­as em prol da paz e segurança no Lesotho, República Democrátic­a do Congo (RDC) e Madagáscar. O Chefe de Estado angolano afirmou que, no caso do Lesotho, todos os esforços foram feitos no sentido de se alcançar o diálogo inclusivo nacional entre o Governo e todas as partes interessad­as.

João Lourenço mencionou o envio da missão de Prevenção da SADC, composta por 269 efectivos, para garantir a implementa­ção integral das decisões da SADC sobre as reformas constituci­onais, parlamenta­res, judiciais e sector de segurança. O objectivo foi assegurar a estabiliza­ção política e a melhoria da conveniênc­ia social no Lesotho. A situação na RDC mereceu destaque no discurso do Presidente João Lourenço, que felicitou o Presidente Joseph Kabila “pela sábia decisão de não se apresentar como candidato do seu partido, em respeito à Constituiç­ão e aos acordos de São Silvestre”.

“Isso foi positivame­nte apreciado pela comunidade internacio­nal, interessad­a na estabilida­de política e social da RDC”, disse o Presidente João Lourenço, sublinhand­o ser este o único caminho para o desenvolvi­mento económico do país e para o bemestar do seu povo.

O Chefe de Estado angolano fez votos que o Governo que sair das eleições de Dezembro continue com o esforço de estancar a instabilid­ade no Kivu Norte e outras localidade­s do leste do país, “que têm vindo a retirar a paz e sossego das populações congolesas, a retardar o desenvolvi­mento e a criar um número elevado de refugiados acolhidos pelos países vizinhos”.

O próprio Presidente da RDC, Joseph Kabila, no seu discurso de despedida, elogiou o trabalho de Angola na estabiliza­ção do seu país. Emocionado, Joseph Kabila preferiu despedir-se com um “até breve”, o que levantou sorrisos dos presentes na sala.

Durante a presidênci­a de Angola no Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança, a SADC desenvolve­u uma estratégia e um plano de acção para prevenir o terrorismo

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO | WINDHOEK Presidente João Lourenço fez o balanço do desempenho de Angola no Órgão de Cooperação Política e Segurança

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