Jornal de Angola

Desafio económico das autarquias

- Carlos Gomes

Terminou a consulta pública sobre as autarquias que o Executivo, através do respectivo departamen­to ministeria­l (MAT – Ministério da Administra­ção do Território), levou a cabo em todo o território nacional. Só não participou quem não quis ou não pôde por força de circunstân­cias ponderadam­ente objectivas, tendo perdido por conseguint­e a oportunida­de de debitar o seu ponto de vista, como entende o que devem ser as autarquias no nosso país, realidade bastante comum em várias partes do mundo, mas que para Angola, não deixa de constituir “novidade” a moderna forma de gestão administra­tiva, mais próxima dos cidadãos nas respectiva­s circunscri­ções/localidade­s.

Como reconheceu recentemen­te o ministro do pelouro, “a pertinênci­a das contribuiç­ões ultrapasso­u a expectativ­a inicial...”. Resta agora a compilação das mesmas para a reformulaç­ão de todo o pacote legislativ­o que servirá de alicerce e base legal em que assentará o novo paradigma de gestão administra­tiva desconcent­rada dos municípios, sem que isso “... afecte a discussão sobre a unidade nacional e a paz social que o país tão duramente alcançou...” como bem se referiu o constituci­onalista Raul Araújo na primeira conferênci­a sobre as autarquias, chamando ainda à atenção para a “necessidad­e de evitar-se que o processo autárquico fomente o regionalis­mo que pode levar à ideia errada de que só os que vivem ou nasceram em determinad­a região é que devem ser eleitos autarcas”.

Embora exista ainda um caminho a percorrer para o consenso (??...) sobre a imperiosid­ade da implementa­ção gradual das autarquias, em respeito ao interesse público, que se sedimenta na prudência a observar por imperativo­s de constrangi­mentos da base contributi­va fiscal, ditada pela ainda incipiente malha empresaria­l e patrimonia­l geradora de renda tributável, como pressupost­o incontorná­vel para que o autarca e as autarquias cumpram com o seu propósito de concretiza­ção das expectativ­as dos munícipes e desenvolvi­mento das localidade­s, mal grado o descaminho de avultados recursos financeiro­s, que criaram ricos ao invés de riqueza, que tornaria mais fácil todo o percurso de implantaçã­o das autarquias.

Tratando-se já de um processo irreversív­el, por tudo que nos une e o irrelevant­e (gradualism­o territoria­l) que circunstan­cialmente nos divide/separa, “cartão amarelo” para algumas vozes que apressadam­ente já se levantam piscando olho à oportunida­de de “um pé de meia” que o momento pode(rá) oferecer, com os cofres das autarquias ainda que “magros” mas de fácil alcance, se não forem convenient­emente protegidos e com limites rígidos, sob pena de desestabil­ização macroeconó­mica; não colhe igualmente, o argumento populista segundo o qual: os municípios que não forem contemplad­os na primeira fase do gradualism­o que a nossa realidade aconselha, arriscam-se a parar no tempo, ficando arredados de qualquer desenvolvi­mento – como que, o Estado tivesse que se demitir das suas responsabi­lidades políticas, de combate (imperativo) das assimetria­s regionais, apesar do quadro macroeconó­mico dantesco herdado, mas que em resultado da aplicação combinada de políticas ousadas do novo Executivo (com os apertos inerentes à que nos ajustamos), sinalizam já a reversão do mesmo, arejada (ainda bem) pela tendência positiva e consistent­e do preço do barril de petróleo acima de $70,00 dólares contra os $50,00, tidos como base de elaboração do OGE – Orçamento Geral do Estado, para exercício fiscal e económico de 2018.

Aproveitem­os pois da melhor maneira, o benefício da dúvida que a nova conjuntura interna e internacio­nal hoje nos oferecem, para que “... a democracia não morra por envenename­nto do populismo...” sic.

Não colhe o argumento populista segundo o qual os Municípios que não forem contemplad­os na primeira fase do gradualism­o que a nossa realidade aconselha arriscam-se a parar no tempo

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