Político usa música para criticar Yoweri Museveni
Deputado independente por um partido da oposição, o antigo músico Bobi Wine está detido e vai ser julgado por alegado envolvimento no recente ataque contra uma caravana automóvel onde seguia o Presidente Yoweri Museveni
A imprensa ugandesa está a acompanhar de muito perto as peripécias que envolveram o ataque à caravana presidencial onde seguia Yoweri Museveni, destacando o alegado envolvimento do antigo músico e actual deputado pela oposição, Bobi Wine, que já se encontra detido e vai ser julgado.
Bobi Wine foi um conceituado músico de “Afrobeat”, que se destacou pelo arrojo das letras altamente críticas em relação ao modo de governação de Yoweri Museveni.
Neste momento, Bobi Wine encontra-se atrás das grades e os seus advogados dizem que não o conseguiram ainda contactar pelo facto de, segundo as forças de segurança, estar a receber tratamento médico aos ferimentos que sofreu por ocasião da sua detenção.
Apesar deste aparente isolamento, a verdade é que ele já compareceu perante um tribunal militar na cidade de Gulu, perto do local onde se deu o ataque, tendo sido indiciado pelos crimes de posse de arma ilegal e de munições, não tendo até agora sido acusado de traição, conforme o seu partido havia referido.
Um dos seus aliados, Kassiano Wadri, que seguia com ele numa viatura na altura em que foi detido, está acusado do crime de traição, juntamente com outras 31 pessoas.
Quem é Bobi Wine
Com 36 anos de idade, Bobi Wine é um crítico de Yoweri Musevevi que usa a música como uma arma política, tendo sido várias vezes processado por crimes de injúria e difamação, nunca tendo sido condenado.
As suas letras são usadas para passar mensagens de apelo à luta contra a corrupção e de defesa do ambiente, estando em absoluta oposição com aquilo que têm sido as posições assumidas por outros músicos famosos que se têm colocado ao lado de Yoweri Museveni em anteriores eleições. Desde 2000, quando iniciou a sua carreira, que a imprensa via nele algumas ambições políticas, pois as suas letras continham um forte conteúdo social crítico em relação ao poder e à forma como o Uganda era governado pelas equipas de Yoweri Museveni.
Porém, só no ano passado é que conseguiu ser eleito para o Parlamento como candidato independente apoiado pela oposição no círculo de Kyadondo East, na região central do Uganda, valendose da sua popularidade artística para bater rivais do partido no poder, o Movimento de Resistência Nacional e da oposição, a Frente Democrática para a Mudança.
A sua eleição foi entendida como uma vitória da nova geração contra o chamado “círculo presidencial”, o que lhe custou a hostilidade das autoridades e motivou uma forte perseguição política, caracterizada com uma série de processos dos quais sempre saiu ilibado. Há um mês participou numa marcha de activistas pelas ruas de Kampala em protesto contra a aplicação de taxas para a utilização das redes sociais.
Bobi Wine, por diversas vezes, manifestou publicamente o seu desacordo pela alteração constitucional que permite candidaturas presidenciais para pessoas com mais de 75 anos de idade, uma emenda que permite a Yoweri Museveni continuar no poder por tempo indefinido. Esta sua detenção, com a acusação de ter participado no ataque à caravana presidencial, está a ser contestada pela juventude que promete manifestar-se para exigir a sua libertação, estando a “invadir” as estações de rádio com pedidos para que passem as suas músicas mais polémicas. As autoridades ainda não se pronunciaram sobre o assunto, alegando que o caso está entregue à Justiça, tendo que ser ela a decidir sobre a eventual culpabilidade das pessoas que, como Bobi Wine, estão neste momento a ser acusadas.
Para já existe a ordem não oficial, mas que está a ser cumprida, para que as estações de rádio se abstenham de passar as músicas de Bobi Wine ou mensagens de apelo à sua libertação.