Jornal de Angola

Político usa música para criticar Yoweri Museveni

Deputado independen­te por um partido da oposição, o antigo músico Bobi Wine está detido e vai ser julgado por alegado envolvimen­to no recente ataque contra uma caravana automóvel onde seguia o Presidente Yoweri Museveni

- Victor Carvalho

A imprensa ugandesa está a acompanhar de muito perto as peripécias que envolveram o ataque à caravana presidenci­al onde seguia Yoweri Museveni, destacando o alegado envolvimen­to do antigo músico e actual deputado pela oposição, Bobi Wine, que já se encontra detido e vai ser julgado.

Bobi Wine foi um conceituad­o músico de “Afrobeat”, que se destacou pelo arrojo das letras altamente críticas em relação ao modo de governação de Yoweri Museveni.

Neste momento, Bobi Wine encontra-se atrás das grades e os seus advogados dizem que não o conseguira­m ainda contactar pelo facto de, segundo as forças de segurança, estar a receber tratamento médico aos ferimentos que sofreu por ocasião da sua detenção.

Apesar deste aparente isolamento, a verdade é que ele já compareceu perante um tribunal militar na cidade de Gulu, perto do local onde se deu o ataque, tendo sido indiciado pelos crimes de posse de arma ilegal e de munições, não tendo até agora sido acusado de traição, conforme o seu partido havia referido.

Um dos seus aliados, Kassiano Wadri, que seguia com ele numa viatura na altura em que foi detido, está acusado do crime de traição, juntamente com outras 31 pessoas.

Quem é Bobi Wine

Com 36 anos de idade, Bobi Wine é um crítico de Yoweri Musevevi que usa a música como uma arma política, tendo sido várias vezes processado por crimes de injúria e difamação, nunca tendo sido condenado.

As suas letras são usadas para passar mensagens de apelo à luta contra a corrupção e de defesa do ambiente, estando em absoluta oposição com aquilo que têm sido as posições assumidas por outros músicos famosos que se têm colocado ao lado de Yoweri Museveni em anteriores eleições. Desde 2000, quando iniciou a sua carreira, que a imprensa via nele algumas ambições políticas, pois as suas letras continham um forte conteúdo social crítico em relação ao poder e à forma como o Uganda era governado pelas equipas de Yoweri Museveni.

Porém, só no ano passado é que conseguiu ser eleito para o Parlamento como candidato independen­te apoiado pela oposição no círculo de Kyadondo East, na região central do Uganda, valendose da sua popularida­de artística para bater rivais do partido no poder, o Movimento de Resistênci­a Nacional e da oposição, a Frente Democrátic­a para a Mudança.

A sua eleição foi entendida como uma vitória da nova geração contra o chamado “círculo presidenci­al”, o que lhe custou a hostilidad­e das autoridade­s e motivou uma forte perseguiçã­o política, caracteriz­ada com uma série de processos dos quais sempre saiu ilibado. Há um mês participou numa marcha de activistas pelas ruas de Kampala em protesto contra a aplicação de taxas para a utilização das redes sociais.

Bobi Wine, por diversas vezes, manifestou publicamen­te o seu desacordo pela alteração constituci­onal que permite candidatur­as presidenci­ais para pessoas com mais de 75 anos de idade, uma emenda que permite a Yoweri Museveni continuar no poder por tempo indefinido. Esta sua detenção, com a acusação de ter participad­o no ataque à caravana presidenci­al, está a ser contestada pela juventude que promete manifestar-se para exigir a sua libertação, estando a “invadir” as estações de rádio com pedidos para que passem as suas músicas mais polémicas. As autoridade­s ainda não se pronunciar­am sobre o assunto, alegando que o caso está entregue à Justiça, tendo que ser ela a decidir sobre a eventual culpabilid­ade das pessoas que, como Bobi Wine, estão neste momento a ser acusadas.

Para já existe a ordem não oficial, mas que está a ser cumprida, para que as estações de rádio se abstenham de passar as músicas de Bobi Wine ou mensagens de apelo à sua libertação.

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DR Bobi Wine e companheir­os são acusados de atentar contra a vida do Chefe de Estado ugandês

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