Tocoístas de Afonso Nunes interpõem recurso à decisão
Líder da agremiação religiosa, fundada pelo nacionalista Simão Gonçalves Toco, discorda da decisão do tribunal em permitir que a Igreja funcione dividida
A direcção da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, ala de Afonso Nunes, já interpôs recurso da decisão do acórdão da Câmara do Cível, Administrativo, Fiscal e Aduaneiro do Tribunal Supremo, que declarou nulo o despacho do ex-ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, em que se considerava ilegais as outras duas fracções daquela agremiação fundada por Simão Gonçalves Toco.
Na conferência de imprensa, realizada quintafeira, na catedral do Golfe, em Luanda, o bispo da Igreja Tocoísta, Afonso Nunes, embora garanta obediência à decisão do acórdão do Tribunal Supremo de anular o despacho nº 395/15, do referido ex-ministro e publicado no Diário da República, I Série, nº158, de 16 de Novembro de 2015, afirma que “a Igreja não se submete à ela, por atropelar a doutrina tocoísta que se assenta na unidade, concórdia e indivisibilidade.”
O bispo Afonso Nunes esclarece que o recurso da Igreja nada tem a ver com briga com o Tribunal Supremo, mas avança que a anulação do acto administrativo, proferido pelo ex-ministro da Justiça, leva os tocoísta de volta à posição antiga, antes do despacho 395/15 de 16 de Novembro, de separação legitimada pelo Estado.
“De acordo com o entendimento das juízas, devese repor o decreto de 1992, que reconhecia a Igreja de forma tripartida”, disse o líder da Igreja Tocoísta, para quem essa posição do tribunal é contra os desideratos religiosos que profetizam a união entre os irmãos.
É neste sentido, afirmou o bispo Afonso Nunes, e porque assiste à Igreja o direito de contestar da decisão do tribunal, que a direcção dos tocoístas já interpôs um recurso, para que reveja a posição das três juízas que acharam que deveriam anular o acto administrativo praticado por Rui Mangueira, em nome do Governo angolano. “O Estado angolano não está contra a Igreja nem nós contra o Estado, mas não devemos pactuar com medidas que ferem a nossa doutrina, como a que nos querem impor; a separação!”, disse o responsável religioso.
Com o referido acórdão do Tribunal Supremo, a associação cristã fundada a 25 de Julho de 1949, por Simão Gonçalves Toco, passa a ter três alas: Igreja de Nosso Senhor Jesus no Mundo, Igreja Tocoísta dos 12 Mais Velhos e a Igreja Central de Simão Toco.
“A tripartidarização da Igreja não é a melhor forma e, como dirigente em espírito, devo afirmar que o meu propósito e o de Deus é estarmos unidos, indivisíveis e inabaláveis”, afirmou Afonso Nunes, que se diz encarnado espiritualmente por Simão Toco, possibilidade negada pelas outras duas alas.
O bispo Afonso Nunes apelou à comunidade tocoísta para se manter calma, serena, em paz e em harmonia com todos, uma vez que a Igreja não foi impedida de continuar a desempenhar a sua missão dentro do plano e das normas estabelecidas. “Temos de prosseguir o nosso trabalho com as autoridades governamentais e com todos os que convivem connosco no mesmo espaço territorial”, realça. Outro apelo do líder da Igreja Tocoísta tem a ver com a necessidade de aquela comunidade religiosa nunca se deixar levar pelos insultos, numa altura em que acredita estar a Igreja mais viva e intacta, devendo continuar a expandir a sua mensagem de libertação, reconciliação e de unidade dos membros.
Fugir às especulações
Afonso Nunes preveniu os fiéis para eventuais especulações tendenciosas por parte de alguns sectores de outras variantes ligadas à Igreja, principalmente para insinuar o acórdão da Sala do Cível e criar instabilidade psicoemocional entre os tocoístas da sua ala.
Apesar deste constrangimento, o líder da Igreja Tocoísta afirmou ter boas relações com o Executivo, de quem recebe apoio institucional e teve ajuda financeira para a construção do templo da Igreja, situado no Golfe.
Essa igreja está construída numa vasta área, que integra igualmente um complexo escolar, onde são ministradas aulas do ensino primário e secundário, um Instituto Superior Politécnico e uma rádio.
Além dessas estruturas, a Igreja Tocoísta, liderada por Afonso Nunes, controla mais de um milhão de fiéis, 22 paróquias em Luanda, uma escola de formação profissional no Cazenga, postos médicos na capital e em algumas províncias e pretende construir uma clínica médica.
“A tripartidarização da Igreja não é a melhor forma e, como dirigente em espírito, devo afirmar que o meu propósito e o de Deus é estarmos unidos, indivisíveis e inabaláveis”, afirmou Afonso Nunes