Jornal de Angola

Tocoístas de Afonso Nunes interpõem recurso à decisão

Líder da agremiação religiosa, fundada pelo nacionalis­ta Simão Gonçalves Toco, discorda da decisão do tribunal em permitir que a Igreja funcione dividida

- Filipe Eduardo e Augusto Cuteta |

A direcção da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, ala de Afonso Nunes, já interpôs recurso da decisão do acórdão da Câmara do Cível, Administra­tivo, Fiscal e Aduaneiro do Tribunal Supremo, que declarou nulo o despacho do ex-ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, em que se considerav­a ilegais as outras duas fracções daquela agremiação fundada por Simão Gonçalves Toco.

Na conferênci­a de imprensa, realizada quintafeir­a, na catedral do Golfe, em Luanda, o bispo da Igreja Tocoísta, Afonso Nunes, embora garanta obediência à decisão do acórdão do Tribunal Supremo de anular o despacho nº 395/15, do referido ex-ministro e publicado no Diário da República, I Série, nº158, de 16 de Novembro de 2015, afirma que “a Igreja não se submete à ela, por atropelar a doutrina tocoísta que se assenta na unidade, concórdia e indivisibi­lidade.”

O bispo Afonso Nunes esclarece que o recurso da Igreja nada tem a ver com briga com o Tribunal Supremo, mas avança que a anulação do acto administra­tivo, proferido pelo ex-ministro da Justiça, leva os tocoísta de volta à posição antiga, antes do despacho 395/15 de 16 de Novembro, de separação legitimada pelo Estado.

“De acordo com o entendimen­to das juízas, devese repor o decreto de 1992, que reconhecia a Igreja de forma tripartida”, disse o líder da Igreja Tocoísta, para quem essa posição do tribunal é contra os desiderato­s religiosos que profetizam a união entre os irmãos.

É neste sentido, afirmou o bispo Afonso Nunes, e porque assiste à Igreja o direito de contestar da decisão do tribunal, que a direcção dos tocoístas já interpôs um recurso, para que reveja a posição das três juízas que acharam que deveriam anular o acto administra­tivo praticado por Rui Mangueira, em nome do Governo angolano. “O Estado angolano não está contra a Igreja nem nós contra o Estado, mas não devemos pactuar com medidas que ferem a nossa doutrina, como a que nos querem impor; a separação!”, disse o responsáve­l religioso.

Com o referido acórdão do Tribunal Supremo, a associação cristã fundada a 25 de Julho de 1949, por Simão Gonçalves Toco, passa a ter três alas: Igreja de Nosso Senhor Jesus no Mundo, Igreja Tocoísta dos 12 Mais Velhos e a Igreja Central de Simão Toco.

“A tripartida­rização da Igreja não é a melhor forma e, como dirigente em espírito, devo afirmar que o meu propósito e o de Deus é estarmos unidos, indivisíve­is e inabalávei­s”, afirmou Afonso Nunes, que se diz encarnado espiritual­mente por Simão Toco, possibilid­ade negada pelas outras duas alas.

O bispo Afonso Nunes apelou à comunidade tocoísta para se manter calma, serena, em paz e em harmonia com todos, uma vez que a Igreja não foi impedida de continuar a desempenha­r a sua missão dentro do plano e das normas estabeleci­das. “Temos de prosseguir o nosso trabalho com as autoridade­s governamen­tais e com todos os que convivem connosco no mesmo espaço territoria­l”, realça. Outro apelo do líder da Igreja Tocoísta tem a ver com a necessidad­e de aquela comunidade religiosa nunca se deixar levar pelos insultos, numa altura em que acredita estar a Igreja mais viva e intacta, devendo continuar a expandir a sua mensagem de libertação, reconcilia­ção e de unidade dos membros.

Fugir às especulaçõ­es

Afonso Nunes preveniu os fiéis para eventuais especulaçõ­es tendencios­as por parte de alguns sectores de outras variantes ligadas à Igreja, principalm­ente para insinuar o acórdão da Sala do Cível e criar instabilid­ade psicoemoci­onal entre os tocoístas da sua ala.

Apesar deste constrangi­mento, o líder da Igreja Tocoísta afirmou ter boas relações com o Executivo, de quem recebe apoio institucio­nal e teve ajuda financeira para a construção do templo da Igreja, situado no Golfe.

Essa igreja está construída numa vasta área, que integra igualmente um complexo escolar, onde são ministrada­s aulas do ensino primário e secundário, um Instituto Superior Politécnic­o e uma rádio.

Além dessas estruturas, a Igreja Tocoísta, liderada por Afonso Nunes, controla mais de um milhão de fiéis, 22 paróquias em Luanda, uma escola de formação profission­al no Cazenga, postos médicos na capital e em algumas províncias e pretende construir uma clínica médica.

“A tripartida­rização da Igreja não é a melhor forma e, como dirigente em espírito, devo afirmar que o meu propósito e o de Deus é estarmos unidos, indivisíve­is e inabalávei­s”, afirmou Afonso Nunes

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO Fiéis prevenidos para eventuais especulaçõ­es tendencios­as por parte de alguns sectores de outras variantes ligadas à Igreja

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