Zuma visado num outro processo
O antigo Presidente sul-africano Jacob Zuma está a braços com um novo processo público de inquérito que pretende recolher novas provas e consolidar as que a Justiça já tem para consolidar as acusações de corrupção contra as quais vai começar a ser julgado
A Justiça sul-africana anunciou ontem ter aberto um novo processo público contra o antigo Presidente Jacob Zuma, que pretende aprofundar as investigações de presumível corrupção, nas suas relações com a família Gupta e assim consolidar o processo que corre os seus trâmites num tribunal da cidade de Durban.
Os Gupta, homens de negócios sul-africanos de origem indiana, estão também acusados de terem influenciado as decisões políticas de Jacob Zuma, nomeadamente a nomeação de alguns ministros e a assinatura de contratos que envolvem empresas públicas.
O juiz Ray Zondo, que iniciou os novos inquéritos, pediu aos sul-africanos que participem nos processos, partilhando com a Justiça o que sabem das relações entre os Gupta e Zuma.
A abertura deste novo inquérito judicial resulta de terem sido alegadamente encontradas mais provas de uma eventual corrupção ao mais alto nível do Estado, durante a magistratura de Jacob Zuma. Segundo a acusação em 2015, a Mcebisi Jonas, vice-ministro das Finanças foram supostamente oferecidos 600 milhões de randes (41 milhões de dólares) por Ajay Gupta caso aceitasse o cargo de ministro das Finanças. Em contrapartida, ele facilitaria a assinatura de contratos sem concurso público e nos quais as empresas dos irmãos seriam facilitadas.
Outra acusação onde Jacob Zuma é directamente visado tem a ver com o recebimento de uma comissão para que a família Gupta vencesse o contrato para construir a sede e as instalações técnicas da poderosa empresa nacional de electricidade, a Eskom.
Peças que se encaixam
Um antigo deputado do ANC, Vytjie Mentor, foi uma peça importante para a construção do processo ao afirmar aos investigadores que em 2010, na residência dos três irmãos Gupta, em Joanesburgo, lhe foi oferecido um posto de ministro dos Transportes. Em troca ele teria, depois de tomar posse, de cancelar a rota para a Índia explorada pela South African Airways.
Os investigadores consideram que os Gupta teriam um interesse directo nessa decisão para favorecer uma empresa indiana de aviação, a quem depois seria atribuída a exploração dessas ligações.
Nestes encontros teria estado presente, segundo as investigações, Duduzane Zuma, filho do antigo Presidente e que era o seu elo de ligação com os Guptas, dos quais receberia um salário milionário. Duduzane Zuma foi recentemente detido, e depois li-bertado, para ser interrogado e informado de que também estava arrolado como réu no processo principal que en-volve o seu pai.
No ano passado, os irmãos Gupta negaram todas essas acusações, mas a imprensa sul-africana insistiu na exibição de provas o que levou a Justiça a retardar a instauração do processo que finalmente se iniciou depois de, em Fevereiro, Jacob Zuma ter sido obrigado a demitir-se.
Apesar da comissão dirigida pelo juiz Ray Zondo não ter o poder de acusar, as provas que eventualmente vier a recolher podem ser utilizadas contra os suspeitos no processo que já está a decorrer nos tribunais sul-africanos e cujo início tem sido adiado, precisamente para que mais indícios possam ser recolhidos.
O trabalho desta comissão tem como principal objectivo a recolha de provas que liguem directamente Jacob Zuma à família Gupta, servindo assim como auxiliar aos investigadores que trabalham para o processo principal.
Mcebisi Jonas e Vytjie Mentor deverão ser as duas primeiras pessoas a depor perante a comissão do juiz Ray Zondo, que depois ouvirá os irmãos Gupta e, por fim Jacob e Duduzane Zuma.