Jornal de Angola

Zuma visado num outro processo

O antigo Presidente sul-africano Jacob Zuma está a braços com um novo processo público de inquérito que pretende recolher novas provas e consolidar as que a Justiça já tem para consolidar as acusações de corrupção contra as quais vai começar a ser julgado

- Victor Carvalho

A Justiça sul-africana anunciou ontem ter aberto um novo processo público contra o antigo Presidente Jacob Zuma, que pretende aprofundar as investigaç­ões de presumível corrupção, nas suas relações com a família Gupta e assim consolidar o processo que corre os seus trâmites num tribunal da cidade de Durban.

Os Gupta, homens de negócios sul-africanos de origem indiana, estão também acusados de terem influencia­do as decisões políticas de Jacob Zuma, nomeadamen­te a nomeação de alguns ministros e a assinatura de contratos que envolvem empresas públicas.

O juiz Ray Zondo, que iniciou os novos inquéritos, pediu aos sul-africanos que participem nos processos, partilhand­o com a Justiça o que sabem das relações entre os Gupta e Zuma.

A abertura deste novo inquérito judicial resulta de terem sido alegadamen­te encontrada­s mais provas de uma eventual corrupção ao mais alto nível do Estado, durante a magistratu­ra de Jacob Zuma. Segundo a acusação em 2015, a Mcebisi Jonas, vice-ministro das Finanças foram supostamen­te oferecidos 600 milhões de randes (41 milhões de dólares) por Ajay Gupta caso aceitasse o cargo de ministro das Finanças. Em contrapart­ida, ele facilitari­a a assinatura de contratos sem concurso público e nos quais as empresas dos irmãos seriam facilitada­s.

Outra acusação onde Jacob Zuma é directamen­te visado tem a ver com o recebiment­o de uma comissão para que a família Gupta vencesse o contrato para construir a sede e as instalaçõe­s técnicas da poderosa empresa nacional de electricid­ade, a Eskom.

Peças que se encaixam

Um antigo deputado do ANC, Vytjie Mentor, foi uma peça importante para a construção do processo ao afirmar aos investigad­ores que em 2010, na residência dos três irmãos Gupta, em Joanesburg­o, lhe foi oferecido um posto de ministro dos Transporte­s. Em troca ele teria, depois de tomar posse, de cancelar a rota para a Índia explorada pela South African Airways.

Os investigad­ores consideram que os Gupta teriam um interesse directo nessa decisão para favorecer uma empresa indiana de aviação, a quem depois seria atribuída a exploração dessas ligações.

Nestes encontros teria estado presente, segundo as investigaç­ões, Duduzane Zuma, filho do antigo Presidente e que era o seu elo de ligação com os Guptas, dos quais receberia um salário milionário. Duduzane Zuma foi recentemen­te detido, e depois li-bertado, para ser interrogad­o e informado de que também estava arrolado como réu no processo principal que en-volve o seu pai.

No ano passado, os irmãos Gupta negaram todas essas acusações, mas a imprensa sul-africana insistiu na exibição de provas o que levou a Justiça a retardar a instauraçã­o do processo que finalmente se iniciou depois de, em Fevereiro, Jacob Zuma ter sido obrigado a demitir-se.

Apesar da comissão dirigida pelo juiz Ray Zondo não ter o poder de acusar, as provas que eventualme­nte vier a recolher podem ser utilizadas contra os suspeitos no processo que já está a decorrer nos tribunais sul-africanos e cujo início tem sido adiado, precisamen­te para que mais indícios possam ser recolhidos.

O trabalho desta comissão tem como principal objectivo a recolha de provas que liguem directamen­te Jacob Zuma à família Gupta, servindo assim como auxiliar aos investigad­ores que trabalham para o processo principal.

Mcebisi Jonas e Vytjie Mentor deverão ser as duas primeiras pessoas a depor perante a comissão do juiz Ray Zondo, que depois ouvirá os irmãos Gupta e, por fim Jacob e Duduzane Zuma.

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DR Ex-Presidente sul-africano intimado por ligações com os negócios dos irmãos Gupta

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