Empresas alemãs querem investir forte em Angola
Dirk Lölke garantiu que há muitas empresas alemãs interessadas em investir em Angola que participam no fórum comercial amanhã, em Berlim. O diplomata disse que os germânicos “deram conta de que muitas coisas mudaram em Angola”
O novo embaixador da Alemanha, Dirk Lölke, garantiu ontem, em Luanda, que há muitas empresas do seu país interessadas em investir em Angola que participam amanhã num fórum comercial em Berlim. Em entrevista ao Jornal de Angola, Dirk Lölke considerou positivas as medidas tomadas pelo actual Governo para combater a corrupção e criar um melhor ambiente de negócios no país.
O Presidente da República inicia amanhã a sua primeira visita de Estado à Alemanha, onde esteve há cerca de quatro anos como ministro da Defesa Nacional. João Lourenço vai à Alemanha a convite do seu homólogo Frank-Walter Steinmeier, que visitou Angola há cerca de quatro anos como ministro dos Negócios Estrangeiros, para tentar reconquistar, pelo menos, o terceiro lugar que Angola ocupava nas trocas comerciais entre a Alemanha e os países da África Subsaariana. Angola está entre os dez países desta região africana com quem a maior economia da Europa tem relações comerciais, mas, com a crise económica, caiu para a sexta posição, superado pela Etiópia, Quénia e pelo Ghana, segundo o embaixador da Alemanha em Angola acreditado ontem, Dirk Lölke, em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola. O diplomata afirmou que Angola, em função das reformas políticas e económicas que faz desde a posse de um novo Governo, tem a oportunidade de convencer os empresários alemães a reforçarem o financiamento a projectos nos sectores da Defesa, Energia, Transportes, Agricultura, Economia e Finanças e Cultura. Angola e Alemanha, cujas relações remontam aos finais da década de 70 e início de 80, têm um memorando de entendimento sobre uma parceria estratégica para a ampliação e o aprofundamento da cooperação económica. O acordo, que realça a disponibilidade em conceder garantias aos investimentos directos de empresas alemães em Angola, está actualizado? O Governo alemão continua a conceder garantias federais para apoiar exportações e investimentos de empresas alemãs em Angola. Nos últimos anos, o Governo alemão concedeu garantias a muitos projectos avaliados em vários mil milhões de euros. Em 2002, a Alemanha financiava projectos de investimento em Angola no valor de 1,7 mil milhões de dólares. As verbas eram disponibilizadas de acordo com uma relação de projectos apresentados pelo Governo angolano. Qual é o procedimento actual? O instrumento das garantias federais depende sempre das empresas alemãs. Quando uma empresa alemã tem a intenção de fazer um negócio ou investir em Angola, pode apresentar uma candidatura ao Governo alemão para conseguir uma garantia federal. Caso o Governo alemão conceda esta garantia, a empresa e o banco a financiar o projecto podem oferecer condições muito boas, com taxas de juros muito reduzidas, para o efeito. É desta forma que funciona e este é um instrumento muito bom para empresas alemãs, mas também para os clientes em Angola. É um instrumento de mútuo benefício. Não acha que a República Federal da Alemanha perde para a França, Rússia e China no processo de reconstrução, desenvolvimento e de relançamento da economia em Angola? Acho que não. As nossas relações bilaterais são excelentes tanto no âmbito da nossa cooperação bilateral quanto no quadro da cooperação entre Angola e a União Europeia. Em 2014 tivemos uma visita do ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, que é actualmente o Presidente da República Federal da Alemanha. No mesmo ano o então ministro da Defesa e actual Presidente da Republica de Angola, João Lourenço, visitou Alemanha. Em 2015 a Secretária do Estado do ministério da economia e em 2016 um grupo de deputados alemães visitaram Angola. Assim, o contacto político é bastante estreito e regular. E em relação ao comércio? Em relação ao comércio, actualmente não temos na Alemanha grandes empresas que operam no sector petrolífero e como Angola tem uma economia muito dependente do petróleo as empresas alemães talvez não sejam tão visíveis assim. Mas têm sucesso empresarial aqui, porque fazem um trabalho muito importante. Além disso, através de programas de formação e colaborações com universidades investem na formação dos seus empregados Angolanos e assim assumem a sua responsabilidade social. Por isso, acho que os dois países continuam a ser parceiros estratégicos no sector político e comercial. Os dois países assinaram, em 2011, o Acordo Geral de Cooperação. Como é que está a implementação deste acordo? Temos um acordo de parceria abrangente que foi assinado durante a visita da Chanceler Angela Merkel a Angola em 2011. Fruto deste entendimento, as relações bilaterais são hoje muito fortes. Por exemplo, em 2009, o GoetheInstitut foi estabelecido em Angola. Em 2010, um escritório da Delegação da Economia alemã instalouse no país. Em 2012, foi assinado um acordo de cooperação no domínio da Cultura. Em 2014, o então ministro da Defesa, João Lourenço, visitou a Alemanha, para assinar um acordo de cooperação no domínio da Defesa. No ano passado, criamos um gabinete da Defesa na Embaixada alemã. No domínio da Economia e Finanças, estamos a negociar um acordo que vai evitar a dupla tributação de cidadãos de ambos países. Então, as relações são muito dinâmicas e têm-se desenvolvido de uma maneira muito boa. Há muitos cidadãos ou empresas alemãs em Angola que justifiquem um acordo sobre a dupla tributação? Não temos actualmente muitos cidadãos alemãs a viver em Angola. São cerca de 200 cidadãos, mas acho que um acordo neste sentido seria importante para o futuro da cooperação comercial. Este acordo seria importante para empresas que quisessem instalar-se nos dois países. A Alemanha tem muita maquinaria que podia, por exemplo, ajudar no sector dos transportes, como a construção de
“Não temos, na Alemanha, grandes empresas que operam no sector petrolífero e como Angola tem uma economia muito dependente do petróleo as empresas alemães instaladas em Angola talvez não sejam tão visíveis assim. Mas têm sucesso empresarial aqui, porque fazem um trabalho muito importante”
metro ou de caminhos-deferro. Alguma vez Angola solicitou ajuda neste particular? Em que nível e sectores está a cooperação no domínio dos petróleos e transportes? Alemanha é campeã na indústria automóvel e na mobilidade urbana. Temos conceitos inteligentes para a mobilidade urbana que funcionariam bem em cidades como Luanda. Temos empresas alemães que podem contribuir à mobilidade urbana, e uma delas já está em Angola, a Siemens. A engenharia alemã é muito forte, por isso pode haver interesse de empresas alemãs neste sentido. E as ligações aéreas entre os dois países? Algumas companhias aéreas reduziram as suas frequências a Angola, mas a Lufthansa não o fez. Tem três voos por semana e também mais voos da Brussels Airlines, que faz também parte do grupo Lufthansa. A companhia aérea ainda está muito empenhada em Angola e continua com a mesma frequência. Isso é bom, porque mostra que a Lufthansa acredita no desenvolvimento e no crescimento da economia angolana. A Alemanha tem uma participação económica no programa nacional de reconstrução, principalmente no domínio da energia e água, indústria mineira, saúde, construção de habitações e de formação profissional. Que balanço faz desta intervenção e que perspectivas há? Durante a crise económica, a actividade comercial baixou um pouco, mas agora temos sinais de que a crise está a terminar, e a situação vai melhorar em função das reformas que o governo angolano está a fazer. Por isso, acho que, no futuro próximo, a situação vai melhorar. De toda maneira, apesar da crise económica o balanço dos últimos anos é bastante positivo. Pensam aumentar a participação de empresas alemãs em Angola? Tivemos e continuamos a ter grandes projectos de empresas alemães empenhadas na construção, fiscalização e no fornecimento do equipamento das barragens hidro-eléctricas ao longo do rio Kwanza, concretamente pelas empresas Voith, Andritz, e Lahmeyer. Temos também empresas alemãs envolvidas em projectos de fiscalização de infra-estruturas, como estradas. A empresa Gauff, que está muito activa neste sector, é um dos pioneiros alemães a investir em África. A Krones é um líder mundial no sector do engarrafamento de bebidas. A Siemens está muito empenhada na criação de infraestruturas, a Woermann no sector de equipamentos técnicos e a Bauer em fundações especiais. Além disso, temos mais empresas alemãs como a Bosch, a Nehlsen, a DHL e outras que estão activas no país. E finalmente temos também investimentos directos, como os da empresa LSG (do ramo de Catering para aviões do grupo Lufthansa), que tem uma “jointventure” com a TAAG. Como é que encara os desafios traçados pelo Presidente da República, como o combate à corrupção e a promoção da cultura da transparência nas contas públicas, o reforço das políticas de atracção de investimento privado estrangeiro? Acho que houve reformas muito importantes no sector da economia, por exemplo, a aprovação de uma nova Lei do Investimento Privado e a Lei da Concorrência. Além disso, a luta contra a corrupção é muito importante. A corrupção é sempre um obstáculo ao investimento. É muito positivo que o governo angolano tenha definido, entre as prioridades, o combate à corrupção. É um desafio muito grande que não vai ser resolvido em pouco tempo, mas os primeiros passos, na nossa avaliação, já são muito positivos. E a opção que o Governo angolano faz para a diversificação da economia depois de anos a depender do petróleo? Angola tem condições para diversificar a sua economia. O país tem terras férteis.