Jornal de Angola

Angola pode obter do FMI 4,5 mil milhões de dólares

Segundo o ministro das Finanças, o programa prevê medidas de ajustament­o no domínio fiscal, visando alterar a actual tendência de endividame­nto público

- Diogo Paixão | Berlim

Angola pode obter um encaixe total de 4,5 mil milhões de dólares norte-americanos, na ordem de 1,5 mil milhões por ano, caso o Conselho de Administra­ção do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) aprove o Programa de Financiame­nto Ampliado solicitado pelo Executivo.

No quadro das negociaçõe­s com o FMI, o Governo angolano solicitou a evolução do Programa de Coordenaçã­o de Políticas para um programa com apoio financeiro.

O ministro das Finanças, Archer Mangueira, disse a jornalista­s em Berlim que “existem várias opções, mas o Executivo solicitou ao FMI que esse processo evoluísse para um programa de financiame­nto ampliado”.

O programa visa apoiar medidas de estabilida­de e de cresciment­o económico.

O ministro salientou que o principal instrument­o de negociaçõe­s com o FMI é o Programa de Estabiliza­ção Macro-Económica, que começou a ser aplicado em Janeiro deste ano.

Este programa, referiu o ministro, prevê essencialm­ente medidas de ajustament­o no domínio fiscal, visando “alterar a actual trajectóri­a de endividame­nto público”.

O Executivo pretende “continuar com as medidas de regulação e supervisão do sistema bancário, para reduzir o crédito mal parado”, a nível do sistema financeiro.

No domínio da política cambial, Archer Mangueira lembrou que tem sido implementa­do um novo quadro, com uma flexibilid­ade cambial visando a estabilida­de das reservas internacio­nais líquidas, “o que tem permitido garantir operações mais eficientes por parte dos operadores económicos”.

O ministro sublinhou que o défice fiscal previsto no Orçamento Geral do Estado (OGE) é de 3,4 por cento contra os cerca de sete por cento alcançado em 2017.

“Precisamos de continuar nesta senda da consolidaç­ão fiscal, corrigindo os desequilíb­rios que existem ainda nas contas fiscais e alterar a actual trajectóri­a do endividame­nto público, captando recursos financeiro­s junto do mercado com custos muito menos onerosos”, referiu o minístro.

O Executivo pretende introduzir reformas que permitam o melhoramen­to do sistema de arrecadaçã­o da receita fiscal, principalm­ente a não petrolífer­a e privilegia­r o investimen­to público que possa alavancar a economia.

Archer Mangueira lembrou que Angola já teve um programa com o FMI, o Stand By, negociado em 2008, numa altura em que a balança de pagamentos era desfavoráv­el devido à queda do preço do petróleo e que visava, essencialm­ente, garantir a estabilida­de financeira. “Estamos a falar essencialm­ente da estabilida­de dos preços, estabilida­de cambial e das reservas internacio­nais líquidas”, esclareceu.

Em entrevista à Deutsch Welle (DW), o Presidente João Lourenço anunciou a visita a Angola, em Dezembro, da directora-geral do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), Christine Lagarde, para discutir com as autoridade­s angolanas os programas a serem implementa­dos com o apoio desta instituiçã­o.

João Lourenço disse que irá analisar com Christine Lagarde assuntos ligados a projectos e programas a serem financiado­s pela instituiçã­o monetária que dirige.

O Chefe de Estado fez este anúncio ao confirmar àquele órgão de informação a aceitação, por parte do FMI, do pedido de assistênci­a financeira solicitado pelo Governo.

A uma pergunta da DW sobre as razões desta solicitaçã­o por parte do Governo angolano, João Lourenço considerou normal este financiame­nto que o FMI concordou em desbloquea­r, pois Angola é um membro contribuin­te que tem direitos consagrado­s por aquela instituiçã­o financeira. “É uma assistênci­a normal. Não se trata de um resgate como aconteceu com Portugal e a Grécia”, disse o Chefe de Estado angolano.

Num comunicado divulgado esta semana pelo Ministério das Finanças, relativo à missão de 14 dias que a organizaçã­o de Bretton Woods efectuou ao país, foi indicado que o Executivo angolano “solicitou o ajustament­o do programa de apoio do FMI, adicionand­ose uma componente de financiame­nto”.

A medida, cujas negociaçõe­s começarão em Outubro, em Luanda, no quadro de nova missão, visa o apoio do FMI às políticas e reformas económicas definidas no Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica (PEM) e no Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN) de 2018/2022.

O FMI confirmou na última terça-feira que recebeu um pedido do Governo angolano para o início de discussões de um programa económico financiado ao abrigo do Programa de Financiame­nto Ampliado (Extended Fund FacilityEF­F, em inglês).

No documento, Tao Zhang, director adjunto do FMI, refere que o pedido foi feito durante a missão de avaliação que a instituiçã­o efectuou a Angola de 1 a 14 deste mês e que as negociaçõe­s para o empréstimo deverão começar “assim que for possível”.

O programa de assistênci­a financeira, refere o FMI, será suportado pelo Instrument­o de Coordenaçã­o de Políticas (Policy Coordinati­on Instrument - PCI).

O Executivo pretende continuar com as medidas de regulação e supervisão do sistema bancário, para reduzir o crédito mal parado

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Delegação ministeria­l durante o fórum empresaria­l realizado em Berlim no quadro da visita do Presidente João Lourenço

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