Jornal de Angola

Organizaçã­o para Migrações diz temer crise com refugiados

Agências das Nações Unidas pedem protecção especial às pessoas que fogem para os países vizinhos

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A Organizaçã­o Internacio­nal das Migrações (OIM) advertiu ontem que a fuga dos venezuelan­os para os países vizinhos, assim como para os Estados Unidos, Canadá e Espanha, pode converter-se “rapidament­e numa crise”.

O porta-voz da OIM, Joel Millman, declarou em conferênci­a de imprensa que a situação está a converters­e “num momento de crise” semelhante ao que se tem visto noutras partes do mundo, “particular­mente no Mediterrân­eo”.

Para Millman, a comunidade internacio­nal deve “começar a alinhar as suas prioridade­s, financiame­nto e meios para administra­r” no êxodo migratório dos venezuelan­os devido à crise económica, política e social no seu país, assim como o posterior acolhiment­o.

O porta-voz da OIM disse que “o que é uma situação difícil pode converter-se rapidament­e numa crise”, ainda que tenha sublinhado o “trabalho magnífico” dos países latino-americanos em receber os venezuelan­os que abandonam o seu país.

“Vemos ondas de violência no Brasil (contra venezuelan­os na cidade fronteiriç­a de Pacaraima) e as medidas restritiva­s de alguns governos (com a exigência de passaporte­s na entrada de Equador e Peru) como um primeiro alerta de que uma situação difícil pode converter-se numa situação de crise muito rapidament­e e temos de estar preparados”, disse Millman.

“Enfatizamo­s que muitos migrantes, particular­mente adolescent­es e menores de idade, não têm acesso a estes documentos” de identifica­ção, acrescento­u.

Segundo a OIM e o Alto Comissaria­do da ONU para os Refugiados (ACNUR), cerca de 2,3 milhões de venezuelan­os vivem actualment­e fora do seu país.

Mais de 1,6 milhões saíram desde 2005 da Venezuela e 90 por cento encontram-se em países da América Latina.

Desde 2015, cerca de 500 mil venezuelan­os receberam algum tipo de estatuto de residência formal na América Latina, segundo a OIM.

Os responsáve­is da OIM, William Lacy Swing, e do ACNUR, Filippo Grandi, expressara­m na quinta-feira a sua solidaried­ade com os países que recebem os venezuelan­os que deixaram o seu país e pediram à comunidade internacio­nal mais apoio aos países latino-americanos e às comunidade­s dentro deles que acolhem esses cidadãos.

O porta-voz do ACNUR, Andrej Mahecic, expressou preocupaçã­o sobre os recentes actos de violência e manifestaç­ões xenófobas contra imigrantes em alguns países da América Latina, porque “aumentam a estigmatiz­ação e prejudicam os esforços de integração”. “A solidaried­ade é a chave. Até ao momento, tem sido exemplar”, afirmou, no entanto, o portavoz do ACNUR.

Andrej Mahecic disse que em 2016 houve mais de 30 mil pedidos de refúgio de venezuelan­os na região; em 2017 houve 100 mil solicitaçõ­es; e, em 2018, já somam mais de 130 mil.

Drama em Maracaibo

Durante a pior situação económica da história da Venezuela, há uma cidade do país, Maracaibo, onde os habitantes estão a consumir deliberada­mente carne e outros alimentos estragados. Com os sucessivos cortes de electricid­ade, que não lhes permite conservar os alimentos no frigorífic­o, bem como com a escalada de preços, os venezuelan­os estão a fazer filas para comprar carne estragada vendida a preço de saldo e a arriscar a vida para conseguire­m a proteína de que necessitam.

O problema de cortes eléctricos, que já dura há nove meses, deixou os frigorífic­os sem uso e fez com que pelo menos quatro talhantes começassem a vender a carne estragada no mercado da cidade. Alguns compram-na para alimentar os cães, outros as famílias. Maracaibo tem 1,5 milhões de pessoas e foi, em tempos, uma cidade limpa e cheia de restaurant­es internacio­nais. Como cidade portuária, era o local de onde era exportada metade da produção de petróleo da Venezuela, mas agora, como o resto do país, caiu em ruína.

“Vemos ondas de violência no Brasil e as medidas restritiva­s de alguns Governos como um primeiro alerta de que uma situação difícil pode converter-se numa situação de crise muito rapidament­e”

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DR Grande número de venezuelan­os continua a abandonar o país devido à crise económica

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