Desaparecida há 21 anos é procurada pelos pais
Pais da jovem esperam maior colaboração das autoridades e da sociedade civil para encontrarem a primogénita, no sentido de esta conhecer os outros sete irmãos e todos os projectos da família, que sofre com o seu desaparecimento
“Não queremos morrer sem encontrar a nossa filha”, desabafou o casal Craveiro Lopes, 64 anos, e Arlete Celeste de Oliveira, 55, que procura pela sua primogénita, Laura Dina, desaparecida há mais de 21 anos, no bairro Golfe II, município do Kilamba Kiaxi, em Luanda.
O casal, actualmente a residir na zona da Conduta, distrito urbano do Kicolo, pediu ajuda às autoridades governamentais e à sociedade em geral, para se juntarem aos esforços de encontrarem a filha, que se perdeu quando, em 1997, deveria estar com nove anos.
Quando Laura Dina desapareceu, Craveiro Lopes, natural de Bié, e Arlete de Oliveira, do Huambo, viviam no Cuito.
A menina veio a Luanda, com o fito de visitar familiares no bairro do Kicolo, de onde terá saído para conhecer a casa de uma tia, no Golfe II. “Quando chegou aí, não gostou da forma como era tratada e fugiu”, conta o mais velho Craveiro.
Perdida entre ruelas e num bairro estranho, a menina foi acolhida por uma cidadã, supostamente de origem congolesa democrática. Mas, com a morte dessa senhora, poucos anos depois, Laura Dina voltou à rua.
Já mais crescida, a moça foi obrigada a arranjar marido, para, no fundo, conseguir ter um tecto fixo. Infelizmente, explica o pai, recorrendo a histórias de ouvir contar, o senhor abandonou-a. Juntamente com Laura, o filho que resultou dessa união.
De novo na rua e, desta vez, com uma criança nos braços, a vida de Laura ficou mais dura. Na tentativa de localizar os pais, de quem sabia apenas que viviam no Cuito, a moça regressou à sua terra natal, mas esse esforço saiu gorado.
Nessa altura, em que Laura buscava os pais em terras do “coração de Angola”, dona Arlete, de forma incansável, esteve em Luanda para encontrar pistas do paradeiro da filha, enquanto o mais velho Craveiro ainda continuava a ganhar forças no sentido de seguir a companheira.
“Ela chegou ao Bié, mas, pelo tempo que se passou, já não sabia os nossos nomes nem onde era a nossa morada”, lamentou dona Celeste, para avançar que “nessa altura em que tínhamos esses desencontros, ela e o filho passavam a noite no terminal de autocarros.”
Novo filho, outro abandono
Cansada do que vivia na terra natal, Laura voltou à capital do país. Aqui, conheceu outro homem e fez mais um filho. Mas, como a desgraça a perseguia, o novo marido abandonou-a, também. E o sofrimento aumentou ainda mais.
O peso sob suas costas duplicou e, sozinha, mais uma vez, tentou procurar os familiares. A mãe conta que “ela chegou a vender no mercado do Kicolo, bem perto de onde vivemos actualmente, mas o destino nunca quis que nos cruzássemos”, conta entriste.
Com lágrimas no canto do olho, o mais velho Craveiro Lopes acredita que a filha esteja a passar mal, por isso a quer de volta o mais rápido possível. “Nós temos projectos e, ela, como nossa primeira filha, tem de ver o que conseguimos construir nesses anos difíceis, sem a presença dela”, desvenda.
Para mostrar esses projectos, o mais velho levou a equipa de reportagem para um centro de saúde, com obras em fase de conclusão, estando o seu arranque previsto para breve. O funcionamento está dependente apenas de uma vistoria das autoridades competentes.
Apesar da idade, Craveiro Lopes, enfermeiro de profissão, espera que a sua primogénita conheça o resultado dos esforços que faz com a mulher e com outros sete filhos, desde que se mudaram para Luanda, em 2000.
Luz no fundo do túnel
Apesar dos desencontros, os pais, irmãos e sobrinhos de Laura Dina reacenderam, há tempos, a esperança de voltarem a vê-la. É que nessas buscas, um senhor terá dado certeza de ter visto, algumas vezes, a senhora desaparecida e os seus filhos.
A partir de agora, os pais de Laura Dina e esse senhor que a divisou num dos mercados de Luanda, o Kicolo, têm mantido contacto de forma permanente. “Mas, ainda não temos a certeza se é mesmo ela ou não, embora o senhor afirme que ela é bem parecida com o irmão que andava comigo”, explica dona Arlete.
Já crescida, a jovem foi obrigada a arranjar marido, para, no fundo, conseguir um tecto. Mas, o senhor abandonou-a com o filho
Chegou ao Bié, mas pelo tempo que se passou, já não sabia os nossos nomes nem a nossa casa. Por isso, ela e o filho dormiam no terminal de autocarros
Enquanto esperam pela confirmação do senhor, outra boa nova invade a família de Laura Dina. Mais um telefonema confirmou que “ela, a Laura, explicou que é conhecida da Irmã Sofia. Basta que cheguemos à cantora, para estarmos bem perto da nossa filha”, conta o senhor Craveiro.
Também revendedores de água, a partir de um tanque de mais de 10 mil litros, os pais de Laura esperam que, se alguém tiver contacto com a filha, use os números 925678436 ou 916888686.