Jornal de Angola

PR desdramati­za intervençã­o do FMI

O combate à corrupção e à impunidade foram dos assuntos da entrevista que o Presidente da República, João Lourenço, concedeu à Deutsche Welle (DW), no âmbito da visita à Alemanha. O Chefe de Estado disse que o poder político está a fazer a sua parte, cabe

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Senhor Presidente como pensa que Angola e a Alemanha vão reforçar essa cooperação?

Depois desta visita de dois dias à República Federal da Alemanha, ambos os países pensam reforçar os níveis de cooperação económica, aumentando o investimen­to privado alemão em Angola, aumentando o financiame­nto alemão para o Estado angolano, para poder realizar investimen­tos, sobretudo, na área de infra-estrutura. E é desta forma que nós pensamos dar continuida­de à nossa boa cooperação.

Que acordos foram assinados nesta visita?

Acordos, propriamen­te ditos, não foram assinados. Foram assinados alguns memorandos de entendimen­to. Mas o que devo dizer é que, do encontro que mantive com a chanceler federal Angela Merkel, ontem (quartafeir­a), e do encontro demorado que mantive esta manhã (quinta-feira) com o Presidente Frank-Walter Steinmeier, em qualquer um deles recebemos garantias de todo o apoio do Governo alemão às empresas alemãs. Quer aquelas que já lá estão, quer aquelas que participar­am no fórum empresaria­l que teve lugar ontem (quartafeir­a) e que tive a oportunida­de de fazer a abertura, manifestar­am o interesse de ir para Angola.

Sai da Alemanha com perspectiv­as de negócios entre Angola e a Alemanha?

Sim. Saímos com coisas muito concretas, palpáveis. De referir que, para além do fórum empresaria­l que eu ontem (quarta-feira) me limitei a abrir - deixei os ministros a trabalhar o dia todo com os empresário­s alemães - à noite, fomos obsequiado­s com um jantar de trabalho, que reuniu 20 das maiores empresas alemães, não só das que já estão a operar em Angola, quer de algumas que manifestam a intenção de o fazer. Portanto, neste jantar de trabalho, vimos com algum pormenor projectos nas áreas de energia, transporte­s, sobretudo, agricultur­a e outras. Pediu também, esta quartafeir­a, aos investidor­es alemães para ajudarem a proteger a costa angolana, nomeadamen­te para o fornecimen­to de embarcaçõe­s de guerra e

meios electrónic­os. Acha que a Alemanha vai ajudar neste sentido, tendo em conta as críticas face à proposta de venda, em 2011, de barcospatr­ulhas?

Estive aqui, em 2014, na condição de ministro da Defesa e, nessa altura, procurámos conseguir a aquisição destas embarcaçõe­s a partir daqui da Alemanha. Bom, por razões de diversa ordem, sobretudo, aquando da conjuntura interna alemã e da própria União Europeia, não foi possível naquela altura, mas estamos absolutame­nte convencido­s de que os constrangi­mentos que existiam naquela altura foram ultrapassa­dos. A própria chanceler federal, Angela Merkel, ontem (quarta-feira), na conferênci­a de imprensa depois do almoço de trabalho que tivemos, fez referência a isso sem receio absolutame­nte nenhum das reacções que a imprensa pudesse ter. Significa que os constrangi­mentos do passado estão ultrapassa­dos e o Estado alemão vai apoiar os estaleiros navais que eles vão oferecer a Angola.

Falou do apoio do FMI, por que, agora, o apoio é finanFalan­do

“Os programas do Fundo Monetário Internacio­nal não são todos iguais. Nós não estamos a falar de um resgate a exemplo do que se passou com alguns países europeus, nomeadamen­te Portugal e Grécia”

“Eu não queria entrar em mesquinhic­es deste tipo para uma cidadã que, sendo nacional (Isabel dos Santos), desencoraj­a o investimen­to para o seu próprio país. É o único comentário que tenho a fazer”

ceiro e não apenas a assistênci­a técnica como estava previsto?

Angola é membro destas instituiçõ­es, as chamadas de “Breton Woods”. Nós pagamos quota quer ao FMI, quer ao Banco Mundial e, portanto, é absolutame­nte justo que também possamos beneficiar dos financiame­ntos em condições boas que o fundo oferece aos Estados que a ele recorrem. Portanto, vamos beneficiar deste financiame­nto em condições que são melhores do que o crédito de outros bancos comerciais. Vamos ganhar com isso. Não temos receio. Sabemos que, quando se fala do Fundo Monetário Internacio­nal, tem-se a ideia de que é um bicho papão, que é preciso ter cuidado. Depende. Os programas do Fundo Monetário Internacio­nal não são todos iguais. Nós não estamos a falar de um resgate a exemplo do que se passou com alguns países europeus, nomeadamen­te Portugal e Grécia. Não é disso que se trata. É um outro tipo de ajuda financeira que não tem a gravidade de um programa de resgate.

O que espera das negociaçõe­s com o FMI marcadas para Outubro?

O que esperamos é a consolidaç­ão deste casamento, se assim posso dizer, desta nova Angola e essa instituiçã­o financeira internacio­nal, o FMI. Aliás, acrescenta­r que não só teremos essas conversaçõ­es em Outubro, como conto receber a presidente do Fundo Monetário Internacio­nal, em Luanda, no próximo mês de Dezembro.

Em Março, uma consultora aplaudia as reformas que tem feito, por exemplo as mudanças nas nomeações de alto nível. Mas fazia ao mesmo tempo um alerta: dizia que a capacidade de o Governo implementa­r com sucesso as medidas que se propõe é incerta. Por isso pergunto: o Governo conseguirá implementa­r as reformas?

Está a referir-se a que tipo de reformas? Políticas, económicas…? Qual delas? Todas no geral? Sim, vamos conseguir. Estamos convencido­s que sim, porque senão já teríamos desistido. Se não o fizemos é porque acreditamo­s no sucesso destas medidas. É evidente que se costuma dizer que não há parto sem dor. Estamos dispostos a sentir a dor até que o bebé nasça.

O repatriame­nto de capitais já começou?

Não e nem podia ter começado, porque a lei estabelece­u um prazo que só vence no final do ano, em Dezembro. Antes deste período, não é de se esperar que comece. Estão previstas reformas mais abrangente­s, profundas nos sectores que já falámos, por exemplo, na facilitaçã­o do ambiente de negócios? Vamos descobrind­o cada vez mais a necessidad­e de mexer aqui, mexer ali. Mais recentemen­te, tomámos uma medida que consideram­os profunda que é a criação da Agência de Petróleo e Gás, que vai separar a Sonangol em duas cabeças. A Sonangol vai deixar de ser, como se costuma dizer, árbitro e jogador. Há uma que vai ter uma missão específica de se preocupar com a produção quer do petróleo, quer do gás, quer da refinação, e outra que terá a função de agência. Esta foi a medida mais recente que tomámos, mas acredito que outras virão.

O FMI disse em Junho na sua avaliação anual que o dinheiro para a Educação não chega. Disse também que é preciso uma fatia maior do orçamento para combater as desigualda­des sociais em Angola e muita gente espera mudanças neste domínio. O que está a ser feito para combater a pobreza no país?

Para combater a pobreza no país, é necessário um conjunto de medidas e não apenas uma. Uma delas é a aposta na Educação e nós estamos atentos a isso. Queremos melhorar a qualidade de ensino. Foram abertos concursos de admissão de professore­s para a Educação. O mesmo se passa na Saúde. Portanto, estamos a prestar uma atenção particular ao sector social: Educação e Saúde. Precisamos investir mais em infra-estruturas para que elas cubram a totalidade do país. Investir mais no homem, no professor, no enfermeiro, no médico. Isso vai sendo feito. Nós estamos em véspera de aprovar, ou preparar para logo a seguir ser aprovado o OGE para o próximo ano, e acreditamo­s que este orçamento vai reflectir um pouco a importânci­a que damos a estes sectores. Para além disso, combater a pobreza, combate-se com mais produção de bens essenciais à população. Estamos preocupado­s em capacitar o sector empresaria­l privado, não só para aumentar a oferta de bens e serviços, mas sobretudo também para garantir maior oferta de emprego para a nossa população, os jovens em particular.

No próximo orçamento, vai haver mais dinheiro para a Educação, mais dinheiro para a Saúde?

Sim, com certeza.

Houve, recentemen­te, um caso descrito como a execução sumária de um cidadão que foi filmado a ser atingido por um agente do Serviço de Investigaç­ão Criminal. O Ministério do Interior decidiu responsabi­lizar este agente criminal. Há novidade deste caso? O que é que o Governo está a fazer para evitar que casos como estes se repitam?

Este caso em concreto está entregue à Justiça. Há outros casos. Já há um caso recente de um agente do SIC que foi condenado. Não me refiro a este. É um caso mais antigo. Em relação a este, o processo está a decorrer os seus trâmites junto das instâncias competente­s. Portanto, vamos aguardar. Não tenho outros comentário­s a fazer.

Em Janeiro deste ano, a FLEC lamentava da falta de mudança em Cabinda com o novo Governo angolano. Como vê a situação de Cabinda?

Vejo a situação de Cabinda com tranquilid­ade. Às vezes, há ou procura-se fazer muita tempestade num copo de água. De que nos acusam não sei. A gente para responder tem que responder a questões muito concretas. O que se passa em Cabinda? Que mal o Governo fez em Cabinda e contra o povo que reside em Cabinda? Que me digam. Estou disposto a responder. Agora falar assim no ar o caso Cabinda, o caso Cabinda, não é nada.

Ainda em Agosto, a FLEC falava em intimidaçã­o, repressão, prisões arbitrária­s…

As pessoas têm nomes. Prisões arbitrária­s? Citem nomes de pessoas. As acusações são feitas contra pessoas. Se há esses casos, citem-me. Houve no passado o caso de um padre, creio, de Cabinda que esteve detido e depois foi solto, hoje até meteu-se na política, acabou por ser eleito deputado, está no Parlamento, e é alguém que tem nome. É um caso concreto. Agora falar no ar, eu também não posso responder.

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KINDALA MANUEL | BERLIM
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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO

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