Namíbia espera da Alemanha pedido formal de desculpas
Uma delegação do Governo namibiano deslocou-se esta semana a Berlim para receber, das mãos de responsáveis alemães, os restos mortais de algumas das vítimas do genocídio colonial que ocorreu há mais de 100 anos. Mas, falta ainda um pedido oficial de descu
A ministra namibiana da Cultura, Katrina HanseHimarwa, chefiou uma delegação que esteve na capital alemã, Berlim, para receber oficialmente os restos mortais de algumas das vítimas do genocídio colonial cometido pelas forças germânicas há mais de um século.
A devolução destes restos mortais, a maior parte dos quais pertenciam a uma colecção antropológica que estava numa clínica de Berlim, é o resultado de prolongadas conversações entre os governos da Namíbia e da Alemanha, mas não deixa satisfeitos representantes das duas etnias que mais sofreram com o genocídio: os Herero e os Nama.
A cerimónia de entrega dos restos mortais de algumas das vítimas daquele que foi considerado o maior genocídio do século XX decorreu durante uma cerimónia religiosa realizada numa igreja de Berlim e constituiu a terceira entrega das ossadas e de couro cabeludo, uma sequência do que já havia ocorrido em 2011 e 2014.
Mas, a verdade é que a Namíbia ainda não está totalmente satisfeita com o modo como a Alemanha tem encarado as suas responsabilidades por esse genocídio e o modo como vem gerindo o problema que ainda subsiste.
Os pendentes ainda existentes envolvem também os Herero e os Nama, que querem ter uma palavra a dizer no modo como tudo se desenrolará, estando o Governo namibiano disposto a criar um grupo especial de trabalho para lidar com as autoridades germânicas em relação a este problema.
Falta um pedido oficial de desculpas
Ainda agora, em Berlim, a ministra namibiana Katrina Hanse-Himarwa disse que “reparações, reconhecimento e desculpas” são condições fundamentais para a normalização das relações diplomáticas entre os dois países.
Em 2016, o Governo da Alemanha reconheceu oficialmente as suas responsabilidades pelo genocídio, mas o pedido de desculpas que disse ir fazer ainda não foi feito, sendo isso que irrita os representantes dos Herero e dos Nama e que impede a normalização das relações diplomáticas entre os dois países.
Outro assunto que continua pendente tem a ver com o pagamento directo das indemnizações às vítimas do genocídio, tendo o Governo germânico optado por investir centenas de milhões de dólares em ajudas ao desenvolvimento do país.
Ora, os Herero, que representam 7 por cento do total da população namibiana, e os Nama, não concordam com esta posição do Governo alemão e iniciaram um processo judicial junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, para exigir o recebimento de indemnizações directas.
Em 1904, depois de terem sido privados das suas terras e do seu gado, os Herero iniciaram uma rebelião que acabou com a morte de mais de uma centena de colonos alemães.
Em resposta, a Alemanha enviou para a Namíbia uma força armada que provocou o extermínio de 60 mil Hereros, cerca de 75 por cento do total da sua população e de cerca de 10 mil Namas, metade dos que então existiam.
As ossadas, em particular os crânios das vítimas, terão sido depois enviados para a Alemanha para a realização de experiências científicas de carácter racial.
De regresso à Namíbia, estes restos mortais serão agora depositados no Museu Nacional, até ser tomada uma decisão sobre se serão ou não incinerados.
Neste momento, a Alemanha mantém também negociações com os governos dos Camarões, Tanzânia, Ruanda e Togo para a devolução de restos mortais de algumas das vítimas da sua ocupação colonial.