Jornal de Angola

Namíbia espera da Alemanha pedido formal de desculpas

Uma delegação do Governo namibiano deslocou-se esta semana a Berlim para receber, das mãos de responsáve­is alemães, os restos mortais de algumas das vítimas do genocídio colonial que ocorreu há mais de 100 anos. Mas, falta ainda um pedido oficial de descu

- Victor Carvalho

A ministra namibiana da Cultura, Katrina HanseHimar­wa, chefiou uma delegação que esteve na capital alemã, Berlim, para receber oficialmen­te os restos mortais de algumas das vítimas do genocídio colonial cometido pelas forças germânicas há mais de um século.

A devolução destes restos mortais, a maior parte dos quais pertenciam a uma colecção antropológ­ica que estava numa clínica de Berlim, é o resultado de prolongada­s conversaçõ­es entre os governos da Namíbia e da Alemanha, mas não deixa satisfeito­s representa­ntes das duas etnias que mais sofreram com o genocídio: os Herero e os Nama.

A cerimónia de entrega dos restos mortais de algumas das vítimas daquele que foi considerad­o o maior genocídio do século XX decorreu durante uma cerimónia religiosa realizada numa igreja de Berlim e constituiu a terceira entrega das ossadas e de couro cabeludo, uma sequência do que já havia ocorrido em 2011 e 2014.

Mas, a verdade é que a Namíbia ainda não está totalmente satisfeita com o modo como a Alemanha tem encarado as suas responsabi­lidades por esse genocídio e o modo como vem gerindo o problema que ainda subsiste.

Os pendentes ainda existentes envolvem também os Herero e os Nama, que querem ter uma palavra a dizer no modo como tudo se desenrolar­á, estando o Governo namibiano disposto a criar um grupo especial de trabalho para lidar com as autoridade­s germânicas em relação a este problema.

Falta um pedido oficial de desculpas

Ainda agora, em Berlim, a ministra namibiana Katrina Hanse-Himarwa disse que “reparações, reconhecim­ento e desculpas” são condições fundamenta­is para a normalizaç­ão das relações diplomátic­as entre os dois países.

Em 2016, o Governo da Alemanha reconheceu oficialmen­te as suas responsabi­lidades pelo genocídio, mas o pedido de desculpas que disse ir fazer ainda não foi feito, sendo isso que irrita os representa­ntes dos Herero e dos Nama e que impede a normalizaç­ão das relações diplomátic­as entre os dois países.

Outro assunto que continua pendente tem a ver com o pagamento directo das indemnizaç­ões às vítimas do genocídio, tendo o Governo germânico optado por investir centenas de milhões de dólares em ajudas ao desenvolvi­mento do país.

Ora, os Herero, que representa­m 7 por cento do total da população namibiana, e os Nama, não concordam com esta posição do Governo alemão e iniciaram um processo judicial junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, para exigir o recebiment­o de indemnizaç­ões directas.

Em 1904, depois de terem sido privados das suas terras e do seu gado, os Herero iniciaram uma rebelião que acabou com a morte de mais de uma centena de colonos alemães.

Em resposta, a Alemanha enviou para a Namíbia uma força armada que provocou o extermínio de 60 mil Hereros, cerca de 75 por cento do total da sua população e de cerca de 10 mil Namas, metade dos que então existiam.

As ossadas, em particular os crânios das vítimas, terão sido depois enviados para a Alemanha para a realização de experiênci­as científica­s de carácter racial.

De regresso à Namíbia, estes restos mortais serão agora depositado­s no Museu Nacional, até ser tomada uma decisão sobre se serão ou não incinerado­s.

Neste momento, a Alemanha mantém também negociaçõe­s com os governos dos Camarões, Tanzânia, Ruanda e Togo para a devolução de restos mortais de algumas das vítimas da sua ocupação colonial.

 ?? JOHN MACDOUGALL | AFP-JIJI ?? A cerimónia de entrega dos restos mortais das vítimas do genocídio decorreu numa igreja da cidade de Berlim
JOHN MACDOUGALL | AFP-JIJI A cerimónia de entrega dos restos mortais das vítimas do genocídio decorreu numa igreja da cidade de Berlim

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola