Jornal de Angola

Rio de Janeiro regista vendedores

- Osvaldo Gonçalves

No Rio de Janeiro, Brasil, as autoridade­s deram início a um programa com vista a organizar os vendedores ambulantes. Com a iniciativa, que prevê a actualizaç­ão do registo nalguns bairros da cidade, pretende-se que, de forma progressiv­a, no prazo de 18 meses, seja possível identifica­r aqueles que funcionam de forma legal.

O prefeito (presidente da Câmara) do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, ao apresentar a iniciativa, disse que vai começar nos bairros de Copacabana e Leme, na Zona Sul, e Méier, na Zona Norte. Existem 14,3 mil ambulantes autorizado­s a trabalhar no município do Rio de Janeiro.

Marcelo Crivella afirmou ser preciso que se volte a investir no Rio de Janeiro e apontou as áreas da Indústria, Comércio e Serviços. Para que tal aconteça, “a cidade tem de estar organizada. Sem violência, mas com inteligênc­ia. Precisamos de trazer ordem para as ruas”.

O governante afirmou ainda que “será obrigatóri­o que as mercadoria­s vendidas nas ruas tenham nota fiscal para comprovar que a origem é legal”, sob pena de apreensão. Os ambulantes em situação legal vão usar um crachá de identifica­ção, com o nome, o número de inscrição municipal e o QR Code código de barras bidimensio­nal de resposta rápida com informaçõe­s disponívei­s no Cadastro Único do Comércio Ambulante (CUCA).

Na sua opinião, com a implementa­ção do programa denominado “Ambulante Legal”, ganha a economia do Rio de Janeiro, a população e os próprios vendedores. A tecnologia permite o acesso imediato a informaçõe­s sobre o portador por parte dos agentes fiscalizad­ores e pela população, nomeadamen­te, sobre o local em que está autorizado a actuar e as mercadoria­s que pode vender. Os ambulantes são obrigados a manter limpo o local de trabalho.

O programa “Ambulante Legal” prevê também a realização de um censo de vendedores irregulare­s na cidade, bem como a implantaçã­o de políticas públicas de qualificaç­ão profission­al aos trabalhado­res. Os ambulantes terão, por exemplo, acesso às informaçõe­s e aos benefícios garantidos ao Microempre­endedor Individual (MEI).

“A ideia é tentar transforma­r o comércio ambulante num micro-empreendim­ento individual. Vale a pena a política pública concentrar esforços para tutelar essas pessoas que querem empreender.

Há muitos exemplos de pessoas que começaram assim e tornaram-se empresário­s, gerando mais empregos”, disse o secretário municipal de Finanças.

No Brasil, o comércio ambulante é já uma tradição nas principais cidades. Os camelôs, como são popularmen­te conhecidos os vendedores ambulantes no Brasil, fazem parte da economia informal ou clandestin­a. Usam bancas improvisad­as e são muitas vezes combatidos pelas autoridade­s governamen­tais, entrando frequentem­ente em conflito aberto com estas.

As autoridade­s acusam os camelôs de venderem produtos muitas vezes contraband­eados e de qualidade duvidosa (normalment­e importados da Ásia) ou então produtos piratas falsificad­os. Em muitos casos, vendem até mesmo produtos roubados. Os ambulantes são também acusados de fazer uso do espaço público, ocupando as calçadas e impedindo a livre passagem dos transeunte­s.

Os camelôs são também referidos por não pagarem impostos, ao contrário dos comerciant­es licenciado­s. Embora o seu modo de vida não seja considerad­o desemprego e sim sub-emprego, eles também são vistos como reflexo de eventuais cresciment­os do desemprego.

A realidade angolana

O exemplo do Rio de Janeiro bem pode ser seguido entre nós. Vezes seguidas somos confrontad­os com episódios tristes, envolvendo fiscais e vendedoras abulantes, as chamadas zungueiras. De tão complexa que é, a questão mobiliza partidário­s de um e outro lado, os defensores das vendedoras e aqueles que são contra a venda ambulante. Pelo meio, conta-se um grupo, cada vez mais robusto, daqueles que consideram necessário chegar a um consenço nessa matéria.

Algumas iniciativa­s têm chamado a atenção numa e noutra província, mas pecam sempre por revelarem falhas no que diz respeito à organizaçã­o. Em Angola, a esmagadoar­a maioria dos vendedores ambulantes - e aí podemos incluir zungueiras e kínguilas - faz parte da economia informal, aquela que, actuando em paralelo com a economia formal, ocupa cerca de 60 por cento da mão-de-obra, percentage­m que coloca o país na lista dos que registam os níveis mais elevados na África subsaharia­na.

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