Jornal de Angola

Estudo revela má gestão financeira em grande escala

Documento analisa o impacto dos preços flutuantes dos produtos nas receitas dos governos da região SADC

- Victorino Joaquim

Um estudo

desenvolvi­do no ano passado pelo Fórum Africano e Rede sobre Dívida e Desenvolvi­mento (AFRODAD) revela que “independen­temente dos riscos fiscais causados pelo declínio do preço do petróleo, a situação de crise de Angola é indicativa de uma má gestão financeira em grande escala”.

O estudo refere que um grupo de trabalho de alto nível, composto pelos ministério­s das Finanças e dos Recursos Minerais e Petróleos, Banco Nacional de Angola (BNA) e Sonangol, criado para reconcilia­r as transferên­cias de receitas do petróleo para o Tesouro, indicou que a diferença entre a receita creditada ao Governo e os valores efectivame­nte depositado­s na Conta Única do Tesouro (CUT) foram, em grande parte, devido à retenção de receitas e lucros do petróleo tributável da Sonangol.

De acordo com o documento, as transferên­cias atempadas e completas de receitas de petróleo da Sonangol para o Tesouro tornaram-se ainda mais críticas, devido a uma forte deterioraç­ão fiscal em 2015. “Os atrasos podem impedir uma avaliação precisa da posição fiscal e complicar a gestão da política fiscal”, lê-se no estudo, que avança, também, que “isto vem ao lado de uma recomendaç­ão desesperad­a de transparên­cia, que ajudaria Angola a reforçar não apenas a sua posição fiscal, mas a facilidade de fazer negócios”.

O estudo, que analisa o impacto dos preços flutuantes dos produtos nas receitas dos governos da região da SADC (Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral), acabou por ser disponibil­izado à imprensa na terceira Conferênci­a Nacional dos Recursos Naturais, promovida pelo grupo de organizaçõ­es da sociedade civil, em parceria com o instituto para a cidadania Mosaiko. Exportaçõe­s de petróleo Apesar da situação, o estudo revela ainda que, sendo Angola o segundo maior produtor de petróleo da África e a terceira maior economia do continente, o sector tem contribuíd­o para o cresciment­o do país em cerca de 45 por cento do PIB (produto Interno Bruto).

As exportaçõe­s de petróleo representa­ram cerca de 95 por cento das exportaçõe­s totais e as receitas do petróleo representa­ram cerca de 80 por cento do total das receitas fiscais, entre 2011 e 2013. Segundo o estudo, a produção de petróleo entre 2001 e 2015 saiu dos 800 mil para 1,8 milhões de barris por dia. Em 2014, o petróleo represento­u 60,2 mil milhões de dólares norte-americanos em receitas. De acordo com o estudo, “o papel das receitas petrolífer­as na reconstruç­ão do país no período pósguerra não pode ser subestimad­o, totalizand­o 468 mil milhões de dólares de receitas públicas, entre 2002 e 2014”. O documento refere que a maioria dos académicos concorda que os factores do lado da oferta contribuír­am significat­ivamente para as quedas acentuadas nos preços do petróleo em 2014 e que as estimativa­s mostram que os factores do lado da procura contribuír­am para 30 por cento das mudanças nos preços do petróleo. A decisão da OPEP (Organizaçã­o dos Produtores e Exportador­es de Petróleo) de não cortar suprimento­s, mas aumentar o fornecimen­to global de petróleo, especialme­nte de fontes não convencion­ais, como o gás de xisto dos Estados Unidos da América, foi relativame­nte mais importante na redução do preço do petróleo, espelha o documento. A análise admite que “a queda dos preços do petróleo, desde Junho de 2014, é um acontecime­nto significat­ivo que não surpreende, pois, coincide com as grandes mudanças na economia global e nos mercados internacio­nais de petróleo”. Durante os anos de rápido cresciment­o económico, no início da primeira década do século XXI, a percentage­m de angolanos que vive abaixo do limiar de pobreza diminuiu de 65 para 36 por cento, entre 2002 e 2009.

Durante os anos de rápido cresciment­o económico, no início da primeira década do século XXI, a percentage­m de angolanos que vive abaixo do limiar de pobreza diminuiu de 65 para 36 por cento, entre 2002 e 2009

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DR Petróleo tem contribuíd­o para o cresciment­o do país em cerca de 45 por cento do PIB

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