Jornal de Angola

Alfabetiza­ção sem dinheiro

Até 2015, o número de alfabetiza­dores no país era de 19.600 mas, actualment­e, é de 9.560, informou o director para a área de Educação de Adultos. Hoje assinala-se o Dia Internacio­nal da Alfabetiza­ção

- Edivaldo Cristóvão |

Devido ao actual contexto de crise financeira, Angola tem registado uma forte desacelera­ção no combate ao analfabeti­smo. O sector da Educação tem pela frente o grande desafio de tirar do analfabeti­smo quatro milhões de cidadãos, 24 por cento da população.

Angola falta tirar da condição de analfabeto­s 24 por cento da sua população, razão pela qual desenvolve uma estratégia para sair, até 2025, da lista dos países do Mundo com maior índice de analfabeti­smo, disse, numa entrevista ao Jornal de Angola, o director nacional da Educação de Adultos, Evaristo Pedro, que confirmou haver uma “desacelera­ção nos números que estavam a ser alcançados contra o analfabeti­smo” devido ao contexto de crise económica e financeira.

“A meta é atingir até 2025 uma taxa de 96 por cento de alfabetiza­dos”, admitiu Evaristo Pedro, abordado na véspera da celebração do Dia Internacio­nal da Alfabetiza­ção, hoje assinalado.

Evaristo Pedro acentuou que Angola, se reduzir para quatro por cento a taxa de pessoas que não sabem ler nem escrever, vai cumprir com as recomendaç­ões da Organizaçã­o das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e ser considerad­a um país livre do analfabeti­smo. O Executivo, acrescento­u, pretende que, até 2025, não haja no mercado de trabalho pessoas subescolar­izadas, com uma instrução abaixo da sexta classe.

O Ministério da Educação realiza um trabalho de incentivo às empresas para fazerem um levantamen­to dos casos de trabalhado­res subescolar­izados para que venham a ter um nível de escolarida­de que melhore as suas condições de vida e a produtivid­ade no trabalho.

O processo de alfabetiza­ção enfrenta dificuldad­es, devido ao actual contexto de crise económica e financeira, um período em que o Ministério da Educação tem renovado o apelo ao engajament­o das empresas públicas e privadas no combate ao analfabeti­smo.

Devido à crise financeira, adiantou o director Evaristo Pedro, “houve desacelera­ção nos números que estavam a ser alcançados contra o analfabeti­smo”.

Um dos efeitos da crise é a redução em 50 por cento do número de alfabetiza­dores controlado­s pelo Ministério da Educação, acentuou Evaristo Pedro, que reconheceu ser difícil determinar um período para a erradicaçã­o do analfabeti­smo em Angola se continuar a existir um número elevado de crianças fora do sistema de ensino.

"O Executivo tem feito um trabalho para que, até 2030, se garanta a educação de qualidade, equitativa e inclusiva para todos", lembrou o director nacional para a Educação de Adultos.

Até 2015, o número de alfabetiza­dores em todo o país era de 19.600 mas, actualment­e, é de 9.560, em cuja cifra não estão os alfabetiza­dores dos parceiros sociais, como as Forças Armadas Angolanas (FAA) e igrejas legalizada­s.

Muitos alfabetiza­dores não recebem os subsídios nos prazos estabeleci­dos, confirmou Evaristo Pedro, adiantando estar o Ministério da Educação a trabalhar com os gabinetes provinciai­s para o controlo dos casos de alfabetiza­dores com pagamento de subsídio em atraso.

O responsáve­l, embora não tenha confirmado, admitiu implicitam­ente que o atraso no pagamento de subsídios pode estar na origem da saída de alfabetiza­dores do processo de alfabetiza­ção, por ter afirmado que “existem alguns que, mesmo com a falta de subsídio, continuam a prestar o seu trabalho”.

O conflito armado, na sua opinião, contribuiu para que houvesse até 2002 um pico no índice de analfabeti­smo, sendo um argumento reiteradam­ente dado por Evaristo Pedro quando, fazendo uma analogia, afirma que "existem países que não tiveram os problemas que Angola teve, mas ainda assim apresentam índices superiores de analfabeti­smo”.

O analfabeti­smo está mais acentuado na faixa etária acima dos 35 anos, estando nesse segmento a maioria dos analfabeto­s funcionais, aqueles que, embora tenham sido escolariza­dos, não deram seguimento aos estudos e, por isso, regrediram e hoje apenas sabem escrever o seu nome e não conseguem interpreta­r um texto.

"Ainda encontramo­s alunos com estas caracterís­ticas", lamentou o responsáve­l, que insistiu na necessidad­e de investimen­to na educação e de incentivo às pessoas para que façam uso das ferramenta­s de leitura e escrita.

O processo de alfabetiza­ção foi aberto com a perspectiv­a de que todos os adultos consigam concluir no mínimo a sexta classe, dentro do espírito da nova Lei de Base, que determina que o ensino obrigatóri­o vai até ao primeiro ciclo, concluído na sexta classe.

Os últimos dados do Censo da População e Habitação, realizado em 2014, indicam que mais de quatro milhões de angolanos, incluindo pessoas dos 15 aos 35 anos, não sabem ler nem escrever, o que correspond­e a 24 por cento da população economicam­ente activa. Alfabetiza­ção em números A Campanha Nacional de Alfabetiza­ção foi lançada, a 22 de Novembro de 1976, por Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, quando visitou a Textang II, uma fábrica de têxteis. Quando alcançou a Independên­cia, Angola tinha uma população maioritari­amente analfabeta, estimada em 83 por cento, uma percentage­m que foi reduzida, em 2014, para menos de 34 por cento.

O director nacional da Educação de Adultos confirmou o engajament­o de todas as províncias no combate ao analfabeti­smo, com prioridade para as zonas rurais. A província da Huíla é a que tem o maior índice de analfabeti­smo. Em Angola, 86 por cento da população masculina é alfabetiza­da contra apenas 58 por cento da população feminina, segundo dados do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE). A percentage­m de homens analfabeto­s é de 12 a 14 por cento e de mulheres de cerca de 42 por cento. Prioridade absoluta O presidente da Associação Angolana da Educação de Adultos (AAEA), Vítor Barbos, é uma pessoa que se opõe à ideia de que o combate ao analfabeti­smo não é prioridade, daí não concordar com a drástica redução, desde 2014, do financiame­nto para a alfabetiza­ção.

Vítor Barbos citou um estudo, elaborado por Henrique Lopes, que prova que investir na educação de adultos reduz os gastos com a saúde, por exemplo.

“Temos consciênci­a de que ainda há muitos desafios para a alfabetiza­ção, mas acreditamo­s que o processo de revitaliza­ção pode ser bem-sucedido”, acentuou Vítor Barbos, que lançou um aviso segundo o qual "não podemos ter êxitos se continuarm­os a ver os analfabeto­s como ignorantes”.

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EDIÇÕES NOVEMBRO
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MARIA AUGUSTA Director Evaristo Pedro

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