Transição histórica
VI Congresso Extraordinário de Luanda elege João Lourenço como novo presidente para dirigir os desafios políticos dos tempos modernos. O conclave acontece hoje no Centro de Conferências de Belas no Futungo II
Angola vai assistir hoje a uma transição histórica na presidência do partido que sustenta o Governo, o MPLA. João Lourenço substitui José Eduardo dos Santos na liderança do partido.
O segundo presidente pósindependência na história cinquentenária do MPLA termina, no VI Congresso Extraordinário que começa hoje, em Luanda, um percurso político de 39 anos à frente do partido.
José Eduardo dos Santos tem, no mês de Setembro, duas coincidências, mas circunstâncias diferentes. Chegou à liderança do partido, a 20 de Setembro de 1979, como “uma substituição possível”, em consequência da morte inesperada do então presidente Agostinho Neto, e sai, três décadas depois, a 8 de Setembro entre a dúvida se é a sucessão natural ou se é a força das circunstâncias e dos desafios dos tempos modernos que o obrigam a deixar a presidência do MPLA.
A saída da presidência do partido pode indicar que o militante José Eduardo dos Santos, que começou a assumir cargos de direcção como representante do partido em Brazzaville, entre 1974 e 1975, e eleito membro do Comité Central e do Bureau Político do MPLA, vai ser devolvido às estruturas de base do partido com o estatuto de “presidente emérito”.
O ciclo político de José Eduardo dos Santos chega ao fim entre a glória, por ter conduzido o partido à vitória em todas as eleições realizadas desde a instauração do multipartidarismo depois da queda do regime socialista, e as lutas internas pela afirmação de gerações diferentes dentro do partido renovação na continuidade - que revelaram fragilidades ao longo dos anos.
A escolha para segundo presidente do partido no pósindependência era automática para a presidência do país no regime de partido único, feita a 21 de Setembro de 1979. Mas o fim da linha na presidência do país chegou um ano antes da saída da presidência do partido, a 26 de Setembro de 2017. A permanência por mais um ano na presidência do MPLA acendeu um debate intenso que introduziu uma nova palavra no “léxico político” angolano: “bicefalia” (uma liderança a duas cabeças - José Eduardo dos Santos, no partido, e João Lourenço, na República).
A história do congresso extraordinário de hoje, para definir um novo líder do partido, começou a ser escrita há cerca de ano e meio quando o partido entendeu avançar para as eleições gerais com um cabeça de lista que não era o presidente do partido. No historial do partido, este congresso extraordinário é só comparável ao mesmo que colocou no poder o presidente que hoje abandona de facto a vida política activa, tal como prometeu durante várias vezes há cerca de uma década.
Hoje, no Centro de Conferências de Belas, os discursos e mensagens cruzados vão reflectir o percurso de José Eduardo dos Santos à frente do partido e o seu legado cujo balanço pode levar tempo a ser avaliado.
Aos 76 anos de idade, 39 dos quais no poder, uma coisa é certa: José Eduardo dos Santos esteve mais tempo a dirigir o partido, 39 anos, do que quando chegou à sua presidência, 36 anos.
Quando levantar a mão para acenar aos militantes na hora da despedida, será a última vez que o fará enquanto líder do MPLA. No dia seguinte, o partido “acorda”, pela primeira e última vez, sem José Eduardo dos Santos na liderança.
Em véspera do “Adeus” de José Eduardo dos Santos, o
perguntou a algumas personalidades da vida política e social, entre outras questões, se são as circunstâncias que fazem José Eduardo dos Santos hoje deixar a liderança do MPLA ou se é uma sucessão natural.
“O ciclo político de José Eduardo dos Santos chega ao fim entre a glória, por ter conduzido o partido à vitória em todas as eleições, e as lutas internas pela afirmação de gerações diferentes dentro do partido”