Nasce um líder reformador
A saída de José Eduardo dos Santos é preenchida por João Lourenço, até dentro de poucas horas vice-presidente do partido, cuja ascensão é estatutária.
João Lourenço assume a presidência de um partido cujo rosto é, há anos, José Eduardo dos Santos, em meio à necessidade de reformas internas, para adequar o partido aos desafios actuais.
O histórico e membro da direcção do MPLA Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, em véspera do congresso extraordinário que vai marcar a transição política na liderança do partido, defendeu a limitação de mandatos de futuros presidentes da formação política. O membro do Bureau Político disse que é preciso fazer coincidir os mandatos do presidente do MPLA com os previstos na Constituição. A Constituição prevê apenas dois mandatos consecutivos ou intercalados, pelo que um cidadão só pode ser Presidente da República até 10 anos.
“Dino Matrosse” disse que quem deve liderar o partido, em caso de vitória nas eleições gerais, deve ser sempre o Presidente da República eleito. “Para nós, quem lidera o partido, se o partido ganha, tem que liderar a Nação. Portanto, é fazer coincidir os mandatos da CRA com os mandatos da liderança do partido”, disse.
O antigo secretário-geral do MPLA disse que a sucessão na liderança do partido, desde a morte de Agostinho Neto até agora, com a saída de José Eduardo dos Santos da vida política activa, aconteceu sempre de forma natural e não circunstancial.
“Dino Matrosse” sublinhou que o presidente José Eduardo dos Santos, de acordo com os estatutos do MPLA, deveria permanecer na liderança do partido até ao próximo congresso ordinário do partido, mas, por vontade própria, decidiu deixar a vida política activa este ano. “Ele (José Eduardo dos Santos) propôs o sucessor que hoje é o Presidente da República (João Lourenço), que teve unanimidade no seio do partido e de todas as estruturas da direcção do partido”, disse, sublinhando que, hoje (8 de Setembro), o Congresso Extraordinário para a eleição do novo presidente se realiza sob a proposta de José Eduardo dos Santos.
“Portanto, é uma sucessão natural e é bom que o camarada presidente está a retirar-se em tempo oportuno e faz-lhe bem isso”, disse. “Dino Matrosse” afirmou que José Eduardo dos Santos deixa “marcas indeléveis” desde que substituiu Agostinho Neto na direcção do MPLA e do Estado angolano.
Actual secretário para as Relações Internacionais considera que o percurso de liderança de José Eduardo dos Santos no MPLA e no Estado foi glorioso. O político sublinhou que José Eduardo dos Santos assumiu responsabilidades no partido e no Estado em circunstâncias difíceis, marcadas pela guerra.
“Se me perguntar, Angola tem tudo? Não tem. Tem a base. Os alicerces estão ali é só alavancar o país e mais nada”, disse. “Dino Matrosse” disse que a coesão e a disciplina foram determinantes na liderança de José Eduardo dos Santos e que sem estes pressupostos seria difícil vencer os desafios daquele tempo.
Para Julião Mateus Paulo, o pior momento da liderança de José Eduardo dos Santos foi quando “herdou” a liderança do país, em 1979, sublinhando que ninguém estava preparado. “Tivemos de eleger o presidente naquela situação, sem muita experiência, mas ele soube guiar-nos”, disse. Se o pior momento foi a guerra, a conquista da paz foi o melhor, para “Dino Matrosse”.
“Dino Matrosse, antigo secretáriogeral do MPLA, disse que a sucessão na liderança do partido, desde a morte de Agostinho Neto até agora, com a saída de José Eduardo dos Santos, aconteceu sempre de forma natural e não circunstancial”