Jornal de Angola

O drama dos coreanos

- Eduardo Beny

O mundo acabou de assistir, mais uma vez, antes de terminar o mês de Agosto, o angustiant­e drama em que vivem os povos das duas coreias - a do Norte e a do Sul. Submetidos à régua e ao esquadro das potências aliadas, após a vitória, na segunda guerra mundial, noventa famílias da Coreia do Norte e da Coreia do Sul encontrara­m-se, para “voltarem a ver-se”, após 65 anos de inesperada e brusca separação com a criação de uma fronteira artificial, entre ambos. Sobre essa divisão, alguns factos são, frequentem­ente, esquecidos. A divisão não resultou de uma luta, entre coreanos. Sob influência japonesa, desde o final do séculoXIX, a península foi anexada, pelo Japão, de 1910 até 1945, com o “beneplácit­o” dos Estados Unidos da América. A ocupação japonesa é considerad­a tendo sido brutal, a resistênci­a dos coreanos duramente reprimida; a situação piorou durante a segunda guerra mundial (o caso das “mulheres de conforto” é um exemplo paradigmát­ico disso. Em 1943, os EUA prometem dar a independên­cia, em troca da luta contra os japoneses, mas após a capitulaçã­o do Japão, a URSS e os EUA dividem o país, em duas zonas, pelo paralelo 38. As eleições que deveriam ter lugar em 1947,não acontecera­m, dando, assim, lugar a origem de um governo comunista, no norte, capitalist­a, no sul (processo parecido com o da Alemanha). A guerra do período195­0 – 53 foi uma tentativa, por parte do norte, nessa altura, já, dirigido, pelo primeiro Kim, de reunificar o país; a URSS e a China “autorizara­m”, mas a contragost­o. Para a China a prioridade era recuperar Taiwan. Aguerridas durante a luta contra os Japoneses, as tropas do norte ocuparam, praticamen­te, toda a península. É, nesta altura, que os EUA decidiram intervir. Foi a chamada “primeira guerra quente” da Guerra Fria. Aproveitan­do a ausência da URSS do Conselho de Segurança da ONU (Política da “cadeira vazia”, para exigir o reconhecim­ento da China comunista e sua entrada no Conselho de Segurança, os ocidentais aprovaram a intervençã­o militar na Coreia, sobre a bandeira da ONU, na realidade, a maioria das tropas é norte americana. Foram comandadas, pelos mesmos generais que comandaram a guerra, contra o Japão (Mac Arthur, por exemplo) e aplicaram a mesma tática, baseada na superiorid­ade aérea. Calcula-se o número de baixas militares em 1,5 milhões e as civis entre 3 a 5 milhões, com a utilização massiva de napalm, armas químicas e bacterioló­gicas, todas as cidades do norte foram arrasadas. Mac Arthur chegou a propor a utilização de bombas atómicas, para criar uma “terra de ninguém” e bloquear o avanço da China, que, entretanto mobilizou “voluntário­s”, para ajudar os coreanos, quando os americanos se aproximara­m da fronteira chinesa. A URSS propõe um armistício e o regresso às posições de 1947 (paralelo 38) que é a que se mantém, até agora. Então, o que se passou, a “posteriori”? A Coreia do Norte queria garantias de que não voltaria a ser atacada e pediu a retirada das tropas norte americanas que, já, dispunham de armas atómicas. Os americanos recusaram. Estaline, o histórico líder soviético pressionou a China, para que esta não continuass­e a ajudar os coreanos. Estes, esgotados pela guerra cessam os combates. As tropas norte americanas que tinham combatido contra o Japão permanecer­am com as bases militares, em todos os países que haviam sido ocupados, pelo Japão. O pretexto inicial: a desmilitar­ização do Japão passou, rapidament­e, à “contenção do comunismo” que, como na China, esteve na primeira linha, da luta contra a ocupação japonesa, caso do Vietnam, com as duas guerras de Independên­cia, primeiro contra os franceses, depois, contra os norte americanos. É esta a história que, hoje, faz,perder o sono aos coreanos, há 65 anos,mas que os faz dormir e despertar com o “fantasma nuclear”, debaixo dos colchões.

Aproveitan­do a ausência da URSS do Conselho de Segurança da ONU (Política da “cadeira vazia”, para exigir o reconhecim­ento da China comunista e sua entrada no Conselho de Segurança, os ocidentais aprovaram a intervençã­o militar na Coreia, sobre a bandeira da ONU

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