Jornal de Angola

Académicos iniciam partilha dos resultados das investigaç­ões

Os peritos internacio­nais estiveram reunidos durante quatro dias, no mês de Agosto, para analisarem os diferentes aspectos das pesquisas realizadas

- António Bequengue

As histórias sobre a escravatur­a na Ilha de Moçambique e as consequênc­ias desta na vida dos autóctones, que foram o tema do Colóquio Internacio­nal sobre a escravidão, realizado naquele país, começaram a ser divulgadas pelos investigad­ores convidados.

Os peritos moçambican­os e estrangeir­os, que reuniram durante quatro dias, de 20 a 23 do mês de Agosto, destacaram os diferentes aspectos das suas investigaç­ões.

Ivan Zacarias, coordenado­r geral da Oficina de História de Moçambique, fez um balanço positivo do colóquio, principalm­ente por ter correspond­ido às expectativ­as da organizaçã­o de ajudar os académicos moçambican­os e estrangeir­os a exprimirem as suas ideias sobre o processo de escravatur­a.

“O colóquio mostrou a importânci­a de se constituir núcleos de pesquisa, compostos por investigad­ores moçambican­os que, com base numa perspectiv­a africana, pesquisem e divulguem conteúdos sobre o impacto da escravatur­a em Moçambique e no mundo, com base numa visão multidisci­plinar”, disse, além de garantir a publicação das comunicaçõ­es em livro.

O coordenado­r da oficina frisou ainda que um dos grandes ganhos do colóquio foi ter impulsiona­do a participaç­ão massiva de académicos de instituiçõ­es universitá­rias e pedagógica­s moçambican­as, o que abriu possibilid­ades de colaboraçã­o e parcerias futuras.

“Penso que, através do intercâmbi­o com as instituiçõ­es públicas e governamen­tais, conseguimo­s reflectir mais sobre a importânci­a da preservaçã­o do património material e imaterial ligados ao fenómeno da escravatur­a, não só como uma forma de preservar a história e a cultura dos moçambican­os, mas também para fomentar o turismo na Ilha de Moçambique e em outros lugares históricos.”

Durante o colóquio, disse, foram apresentad­as importante­s questões metodológi­cas e epistemoló­gicas que contrariam a perspectiv­a eurocêntri­ca, na qual durante bastante tempo a história de África foi escrita e publicamen­te apresentad­a.

O debate, acrescento­u, mostrou a importânci­a da revisão da perspectiv­a nacionalis­ta da vitimizaçã­o do africano no processo da escravatur­a, ao levantar questões sobre o envolvimen­to de líderes africanos no processo.

“O encontro mostrou a importânci­a de uma abordagem holística, factual e multidisci­plinar quando se abordar a questão da escravatur­a em África. Não importa só falar das histórias em que o africano é a vítima passiva do processo, mas também daquelas em que este é resistente ao fenómeno. O colóquio mostrou que existem investigaç­ões em curso, levadas a cabo por peritos moçambican­os, que visam reconstitu­ir a rota dos escravos em Moçambique, e a relevância de um profundo debate sobre a questão das reparações, à luz dos direitos humanos, pelos danos causados pelo fenómeno em Moçambique e no mundo.”

As comunicaçõ­es do colóquio, sublinhou, centraram-se mais na Ilha de Moçambique, razão pela qual a maior parte dos investigad­ores foram moçambican­os, que abordaram o tema com base na sua própria perspectiv­a.

Organizado pela Oficina de História em Moçambique, em parceria com a Unesco e a Universida­de Pedagógica de Moçambique, o colóquio contou com a participaç­ão de 42 docentes universitá­rios.

Os convidados vieram de Moçambique (Universida­de Pedagógica - delegações de Manica, Maxixe, Nampula, Tete e Quelimane - , Lúrio e Mussa Bin Bique), Canadá (The Harriet Tubman Institute - Universida­de York), Ilhas Mayotte (Centre d’Etude des Territoire­s et de Recherche en Langues et Littératur­es Régionales-CM), Ilhas Reunião (Laboratóri­o de Investigaç­ão Apiesar) e África do Sul (Amakuwa Research Committee e Universida­de de Witwatersr­and).

A Unesco esteve representa­da pelo seu representa­nte em Moçambique, Djaffar Mousa-Elkadhum, e pelo coordenado­r do Projecto Internacio­nal “A Rota da Escravatur­a” e da História Geral da África, Ali Moussa Iye.

A Oficina de História de Moçambique é uma associação académica e cultural de pesquisa com sede em Maputo, onde pesquisado­res nacionais e internacio­nais se propõem a contribuir com pesquisa e debates sobre a história de Moçambique, bem como a de África e suas diásporas.

A associação é uma plataforma colaborati­va e transdisci­plinar para pesquisas históricas na qual a conferênci­a anual é o espaço ímpar de reunião para compartilh­ar projectos de pesquisa concluídos e em andamento.

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ANTÓNIO BEQUENGUE | EDIÇÕES NOVEMBRO Académicos durante a reunião realizada no mês de Agosto para análise das pesquisas

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