Académicos iniciam partilha dos resultados das investigações
Os peritos internacionais estiveram reunidos durante quatro dias, no mês de Agosto, para analisarem os diferentes aspectos das pesquisas realizadas
As histórias sobre a escravatura na Ilha de Moçambique e as consequências desta na vida dos autóctones, que foram o tema do Colóquio Internacional sobre a escravidão, realizado naquele país, começaram a ser divulgadas pelos investigadores convidados.
Os peritos moçambicanos e estrangeiros, que reuniram durante quatro dias, de 20 a 23 do mês de Agosto, destacaram os diferentes aspectos das suas investigações.
Ivan Zacarias, coordenador geral da Oficina de História de Moçambique, fez um balanço positivo do colóquio, principalmente por ter correspondido às expectativas da organização de ajudar os académicos moçambicanos e estrangeiros a exprimirem as suas ideias sobre o processo de escravatura.
“O colóquio mostrou a importância de se constituir núcleos de pesquisa, compostos por investigadores moçambicanos que, com base numa perspectiva africana, pesquisem e divulguem conteúdos sobre o impacto da escravatura em Moçambique e no mundo, com base numa visão multidisciplinar”, disse, além de garantir a publicação das comunicações em livro.
O coordenador da oficina frisou ainda que um dos grandes ganhos do colóquio foi ter impulsionado a participação massiva de académicos de instituições universitárias e pedagógicas moçambicanas, o que abriu possibilidades de colaboração e parcerias futuras.
“Penso que, através do intercâmbio com as instituições públicas e governamentais, conseguimos reflectir mais sobre a importância da preservação do património material e imaterial ligados ao fenómeno da escravatura, não só como uma forma de preservar a história e a cultura dos moçambicanos, mas também para fomentar o turismo na Ilha de Moçambique e em outros lugares históricos.”
Durante o colóquio, disse, foram apresentadas importantes questões metodológicas e epistemológicas que contrariam a perspectiva eurocêntrica, na qual durante bastante tempo a história de África foi escrita e publicamente apresentada.
O debate, acrescentou, mostrou a importância da revisão da perspectiva nacionalista da vitimização do africano no processo da escravatura, ao levantar questões sobre o envolvimento de líderes africanos no processo.
“O encontro mostrou a importância de uma abordagem holística, factual e multidisciplinar quando se abordar a questão da escravatura em África. Não importa só falar das histórias em que o africano é a vítima passiva do processo, mas também daquelas em que este é resistente ao fenómeno. O colóquio mostrou que existem investigações em curso, levadas a cabo por peritos moçambicanos, que visam reconstituir a rota dos escravos em Moçambique, e a relevância de um profundo debate sobre a questão das reparações, à luz dos direitos humanos, pelos danos causados pelo fenómeno em Moçambique e no mundo.”
As comunicações do colóquio, sublinhou, centraram-se mais na Ilha de Moçambique, razão pela qual a maior parte dos investigadores foram moçambicanos, que abordaram o tema com base na sua própria perspectiva.
Organizado pela Oficina de História em Moçambique, em parceria com a Unesco e a Universidade Pedagógica de Moçambique, o colóquio contou com a participação de 42 docentes universitários.
Os convidados vieram de Moçambique (Universidade Pedagógica - delegações de Manica, Maxixe, Nampula, Tete e Quelimane - , Lúrio e Mussa Bin Bique), Canadá (The Harriet Tubman Institute - Universidade York), Ilhas Mayotte (Centre d’Etude des Territoires et de Recherche en Langues et Littératures Régionales-CM), Ilhas Reunião (Laboratório de Investigação Apiesar) e África do Sul (Amakuwa Research Committee e Universidade de Witwatersrand).
A Unesco esteve representada pelo seu representante em Moçambique, Djaffar Mousa-Elkadhum, e pelo coordenador do Projecto Internacional “A Rota da Escravatura” e da História Geral da África, Ali Moussa Iye.
A Oficina de História de Moçambique é uma associação académica e cultural de pesquisa com sede em Maputo, onde pesquisadores nacionais e internacionais se propõem a contribuir com pesquisa e debates sobre a história de Moçambique, bem como a de África e suas diásporas.
A associação é uma plataforma colaborativa e transdisciplinar para pesquisas históricas na qual a conferência anual é o espaço ímpar de reunião para compartilhar projectos de pesquisa concluídos e em andamento.