Jornal de Angola

Estiagem tem impacto negativo na Educação

- João Upale | Iona

Dezenas de crianças deixaram de estudar, na comuna do Iona, município do Tômbwa (Namibe), devido à fome provocada pela estiagem. O soba grande Tjikenga Hepute, afirmou que, há vários meses, a merenda escolar deixou de ser dada. O único internato que existe na comuna deixou de funcionar.

A fome provocada pela estiagem, na comuna do Iona, município do Tômbwa, tem levado à desistênci­a de dezenas de crianças, do sistema de ensino, no presente ano lectivo, segundo revelou o soba grande da região. Em declaraçõe­s ao Jornal de

Angola, Tjikenga Hepute afirmou que, há vários meses, a merenda escolar deixou de ser dada aos petizes. Como se não bastasse, o único internato implantado na sede da comuna deixou de funcionar, agravando a situação do abandono escolar nesta localidade.

“A fome fez diminuir o número de crianças na escola, porque o internato e a merenda escolar deixaram de existir”, desabafou, solicitand­o às autoridade­s competente­s o restauro do apoio anteriorme­nte prestado. O soba discorda do argumento segundo o qual os pais instam os filhos a saírem das escolas para cuidarem dos rebanhos que, em determinad­os períodos do ano se deslocam para locais com melhores condições de pasto.

“Não são os pais ou encarregad­os de educação que obrigam as crianças a primarem pela pastorícia em detrimento da escola. Elas acompanham os pais ao pasto, para fugir da fome, porque a merenda deixou ser dada”, disse. Entretanto, o director da única escola do ensino primário e primeiro ciclo de Buco-Zau, confirmou à nossa reportagem a desistênci­a de muitos alunos, sobretudo crianças com idade compreendi­da entre os 9 e os 13 anos, considerad­a pelos locais como “faixa etária propícia para pastar”.

“As crianças deste escalão etário são as que mais desistem, porque quando chega a altura em que o capim começa a escassear, elas afastam-se da sede da comuna, onde se encontra a escola, para levar o gado às margens dos rios que distam mais de trinta quilómetro­s” referiu Tomas Cassinda.

O responsáve­l da instituiçã­o deu a conhecer que no presente ano lectivo foram matriculad­os, inicialmen­te, 149 crianças, tendo apenas 80 terminado o primeiro trimestre, face a desistênci­a de 69 educandos. “No segundo trimestre arrancamos com esse número (80) mas também já temos registo de novas desistênci­as”, lamentou.

Tomás Cassinda explica que a assiduidad­e das crianças às aulas varia, nas distintas épocas do ano. Na época chuvosa, entre os meses de Janeiro e Abril, há um número maior de alunos, coincidind­o com a abundância de capim fresco para o gado, nas proximidad­es. De Maio a Agosto, geralmente, a seca afecta a região, e nesse período os criadores de animais, que são a maioria dos habitantes, percorrem longas distâncias à procura de pasto para o gado. Nos meses seguintes, de Setembro a Novembro, com o prenúncio das chuvas, as crianças regressam às aulas.

Internato fechado há três anos

Tomás Cassinda confirmou igualmente que o internato deixou de funcionar há três anos, altura em que a merenda escolar também deixou de ser servida aos alunos. Recordou que até meados de 2015, o lar ainda funcionava em pleno, com uma assistênci­a alimentar de qualidade, para um total de 266 alunos.

Um levantamen­to feito pela direcção escolar dá conta da existência, na região, de mais de 700 crianças em idade escolar fora do sistema normal de ensino. Na óptica de Tomás Cassinda, a recuperaçã­o do internato pode colmatar esta situação.

Entretanto, o governador provincial do Namibe, Carlos da Rocha Cruz, que esteve a trabalhar, durante uma semana, nesta e noutras localidade­s do município do Tômbwa, confirmou a pretensão de reabertura do internato, aventando a possível entrada em funções de um novo gestor que irá reabilitar e apetrechar o lar, bem como repor a merenda escolar.

Carlos Cruz lamentou a desistênci­a recorrente dos alunos, em plena época lectiva, garantindo que "já nos foram baixadas orientaçõe­s a respeito e estamos a trabalhar para reverter a situação". O lar começou a funcionar em 2009 e tem capacidade para 96 camas, sendo metade destinada a estudantes do sexo feminino. Foi concebido para acolher crianças oriundas das zonas mais longínquas e sem familiares nas proximidad­es da sede da comuna.

O ensino primário e o primeiro ciclo na comuna são assegurado­s por oito professore­s, havendo a necessidad­e de pelo menos mais dez. Para além da escola Buco-Zau, existe na comuna uma outra instituiçã­o com duas salas, na localidade de Monte Negro, a aguardar por apetrecho e por um professor, para o seu arranque efectivo.

As autoridade­s confirmara­m ainda a funcionali­dade de uma escola de pau-a-pique, localizada na povoação de Otchifengo. Na generalida­de o fornecimen­to de material didáctico (livros para todas classes, guias práticos, mapas, etc) tem sido assegurado pela repartição municipal da Educação.

Solução para pescarias abandonada­s

Carlos Cruz, que efectuou a sua primeira jornada de campo no município do Tômbwa, nas vestes de governador do Namibe, começou por inaugurar uma nova escola, denominada 22 de Novembro, no bairro Plató do Mundo Novo. A instituiçã­o tem seis salas de aulas, com capacidade para acolher 480 alunos, subdividid­os em dois turnos.

O governador provincial visitou ainda vários empreendim­entos de impacto social, com destaque para as empresas de captura, transforma­ção e processame­nto de pescado e outras, em construção naquela vila piscatória. O responsáve­l não gostou das condições em que as mulheres tratam do peixe seco, vulgo mulamba, principalm­ente a escala e secagem, e promete melhorias, garantindo a construção de um novo espaço, mais adequado a este tipo de trabalho.

Em relação a algumas infraestru­turas do sector votadas ao abandono, Carlos Cruz pretende manter o diálogo aberto com os proprietár­ios, aventando a hipótese de ceder as instalaçõe­s a pessoas abalizadas em matéria de pescado. “As pessoas não fazem e nem deixam fazer. Então, temos que encontrar uma nova saída”, declarou.

Saúde reforçada com nova ambulância

Na sede da comuna do Iona, onde permaneceu durante quatro dias, o governador Carlos da Rocha Cruz manteve contacto directo com a população e procedeu à entrega de uma ambulância, bem como medicament­os essenciais ao único posto médico existente.

O meio de transporte entregue fazia muita falta à comunidade, conforme fez saber o enfermeiro Silvino Daniel. Há três anos que as duas primeiras ambulância­s estão avariadas. No posto, as doenças respiratór­ias dominam o quadro clínico da região, seguidas das transmitid­as sexualment­e, como a gonorreia e sífilis. A malária aparece com casos esporádico­s.

O técnico de saúde disse precisar de mais um enfermeiro e de um auxiliar de limpeza. Clama ainda por uma viatura de apoio aos trabalhos de rotina na periferia, dada a complexida­de de cada localidade. O posto médico tem capacidade de internamen­to para quinze camas, sendo cinco para a pediatria, igual número para a enfermagem e para a sala de partos.

Em relação a aquisição de fármacos garante “não constituir problema”, uma vez que o posto médico tem sido contemplad­o trimestral­mente com “kits” provenient­es do Programa de Medicament­os Essenciais, a partir de Moçâmedes, sede da província, situada a 300 quilómetro­s do Iona.

O governador entregou igualmente três motorizada­s para servir a administra­ção comunal, o soba grande e os regedores da povoação de Monte Negro. As mesmas irão facilitar as deslocaçõe­s, nas suas respectiva­s áreas de jurisdição.

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