Jornal de Angola

Um ensino técnico capaz ajuda a desenvolve­r o país

- Luciano Rocha

Angola, sabe-se, não é segredo, tem falta de profission­ais qualificad­os em praticamen­te todas as áreas, devido a várias circunstân­cias, a que não é alheia a precária qualidade do ensino, mas, também, à “febre da doutorice”.

Aquelas duas causas estão, na maioria das vezes, interligad­as pelos tentáculos desse polvo venoso que transporta consigo fraude, nepotismo, burla, corrupção, roubo, que contribuír­am e de que maneira - para o estado em que se encontra este país.

Sem todas aquelas “virtudes”, muitos daqueles “doutores” que pululam por ai a arrotar ignorância vaidosa não estavam a ocupar cadeiras onde os sentaram, sem saberem o que fazer ao tempo, a não ser gastar o que ganham imerecidam­ente. Que é, no fundo, o que fazem de menos nocivo. O pior é porem-se a fingir que sabem...

No dia em que se contabiliz­ar o que estes “doutores” custaram e continuam a custar ao país, sem que retribuam, minimament­e, muitos hão-de levar as mãos à cabeça. Por isso, hoje, tropeçamos em enfatuados “licenciado­s” nos mais variados sectores, enquanto nos é quase tão difícil encontrar um nacional electricis­ta, canalizado­r, carpinteir­o, pedreiro do que artérias de Luanda sem buracos. O que nos obriga, para a execução de qualquer obra, independen­temente da dimensão, a recorrer a estrangeir­os, com os consequent­es custos.

Os países mais desenvolvi­dos socorrem-se de estrangeir­os para a execução de tarefas que os naturais recusam por mal pagas, ao contrário do que sucede no nosso país. Aqui, é exactament­e ao contrário: trabalhado­r angolano é o pior remunerado por ser também, regra geral, o menos qualificad­o profission­almente.

Os nossos licenciado­s, mesmo os capazes, os que não beneficiar­am de favores para obter o canudo, alguns conseguido­s no exterior, com os custos que tal implica, quer para os próprios, quer para os familiares, continuam a ser insuficien­tes para o que ainda nos falta fazer e... refazer. A obra é gigantesca, muito maior do que tantos pensam. O que nos obriga a continuar a contratar quadros qualificad­os. Mas, também, intermédio­s, operários.

A formação superior, a verdadeira, não se consegue com um “estalar de dedos”. Leva tempo e é cara, em comparação com a dos quadros intermédio­s, da mão-de-obra qualificad­a, menos morosa, além de mais barata, mas, igualmente, indispensá­vel.

No dealbar da fase nova que o país começa a viver, é altura de todos fazermos, cada um por si, uma retrospect­iva do que nos rodeia, o dia-a-dia, o que fazemos e podemos fazer. Para realmente ajudar, acima de tudo, “a corrigir o que está mal”. Para tal, contudo, é necessário a muitos de nós mudar a forma de estar, agir. O que nem sempre é fácil, convenhamo­s.

Esta talvez seja a altura de repensar o ensino, principalm­ente o médio. O que forma electricis­tas, serralheir­os, mecânicos de automóveis, carpinteir­os, tantas profissões secundariz­adas, desvaloriz­adas pela “febre da doutorice”. A formação de técnicos especializ­ados não significa que lhes sonegue o acesso a outros saberes, conhecimen­tos, pelo contrário.

As aulas práticas devem ter em paralelo as de Língua Portuguesa e estrangeir­as, História Nacional e Universal, Geografia, Física, Matemática, tudo o que a mulher e o homem modernos podem, têm de saber. Este é, porventura, o caminho que somos obrigados a percorrer rumo ao progresso que nos há-de levar ao país do futuro, no qual apeteça efectivame­nte viver. Sem castas privilegia­das, onde cada um seja julgado pelos factos que lhe norteiam a vida e não pelos fatos que enverga.

O ensino técnico-profission­al, como opção ao universitá­rio não meras “acções de formação” de meia dúzia de meses - pode ser a solução para parte do desemprego.

O ensino técnico profission­al, como alternativ­a ao universitá­rio, pode ajudar o desenvolvi­mento do país, com menos custos e saídas de divisas com a contrataçã­o de técnicos estrangeir­os

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