“É necessário dar oportunidade aos jovens”
Luísa Damião admitiu, em entrevista a Angop, que ficou surpreendida com a sua eleição ao cargo de vice-presidente do MPLA. Entretanto, a jornalista, eleita “número dois” na hierarquia do partido no poder em Angola no último congresso extraordinário, prometeu assumir o cargo com muita responsabilidade. Como prioridade para os próximos tempos, apontou a mobilização dos militantes, sobretudo das mulheres para participarem nas eleições autárquicas, previstas para 2020.
Que significado teve a sua eleição, que surpreendeu muita gente e, seguramente, a si também? Efectivamente, foi uma surpresa, mas o significado que tem para mim é de grande responsabilidade, porque pesa sobre os meus ombros o facto de assumir este cargo. É a primeira vez que se confia esta tarefa numa mulher, e eu devo representar bem todas as mulheres, tendo em conta que elas, no país, constituem 52 por cento da população. Tanto homens como mulheres estão à espera de um bom desempenho desta pessoa, em quem foi confiada a responsabilidade de assumir este cargo. Quero assumi-lo com sentido de dever, muita responsabilidade e ajudar o meu partido a pôr em prática os princípios que sempre defendeu. Como é que surge o seu nome para a vice-presidência do partido e em que momento acreditou que seria possível? A partir do momento em que entro para o Bureau Político do MPLA, tenho de estar preparada para qualquer desafio, mas confesso-lhe que não fui consultada em nenhuma circunstância para assumir este cargo. Para mim, foi uma surpresa, quando, dentro da sala, foram anunciados dois nomes. Foi algo inovador também dentro do nosso partido e com o qual fiquei bastante feliz, porque exercitamos ali a democracia interna. Foi a primeira vez que foram apresentadas duas listas para se eleger membros do Bureau Político e dois candidatos para o cargo de vice-presidente e de secretário-geral do MPLA. Portanto, exercitamos ali a democracia interna, um acto inovador do próprio presidente (do partido). Também foi inovador o presidente confiar nas mulheres, porque as candidatas foram mulheres, e consegui também ali medir a minha aceitação, medir até que ponto as pessoas confiavam em mim. Quais são os desafios que se colocam perante tamanha responsabilidade? Os principais desafios são vários. Para já, vamos ter eleições autárquicas, em 2020, e pensamos em sensibilizar e mobilizar os nossos militantes, particularmente as mulheres, que são uma franja importante dentro da nossa sociedade. Vamos mobilizá-las não só por serem eleitoras, mas também candidatas, pois considero que são candidatas naturais às autarquias, uma vez que têm estado a desenvolver, nas suas comunidades, projectos inovadores, a identificar problemas e a encontrar soluções para os problemas das comunidades. Por isso, penso que, como candidatas às autarquias, vão dar uma grande contribuição ao país. Este é um dos grandes desafios que vamos abraçar. O outro será, também, dar os nossos subsídios para conferir maior dignidade às crianças e aos idosos. Temos também a tarefa de mobilizar os nossos militantes a estar mais inseridos na sociedade e trabalhar mais com a sociedade civil. A juventude tem-se demonstrado um pouco desapontada com a política. O que o MPLA pode fazer para acabar com esta descrença e tornar os jovens mais participativos? É a vice-presidente do MPLA que tem a responsabilidade de trabalhar com as organizações sociais do partido, no caso a Organização da Mulher Angolana (OMA) e a Juventude do MPLA (JMPLA), mas não queremos trabalhar só com as estruturas do partido. Vamos trabalhar, também, com organizações da sociedade civil. Obviamente, a juventude vai estar no centro das nossas atenções. Vamos primar pelo diálogo, visto que, às vezes, é necessário dar oportunidade aos jovens, pois têm muitas ideias, são entusiastas e precisam de ser ouvidos. Ouvi-los-emos para que, tal como nos apontam os problemas, também nos ajudem a encontrar as soluções. Sente-se pronta para a grande tarefa que o MPLA lhe incumbiu? Como militante, tenho de estar pronta e, a partir do momento em que o meu partido confiou em mim, devo colocar todo o meu talento, saber, conhecimento e profissionalismo, a fim de honrar esta confiança que em mim foi depositada, e para que, efectivamente, os nossos militantes consigam perceber que o MPLA é o povo e o povo é o MPLA. Como vê hoje a comunicação social e o que espera dela? Acho que há uma mudança muito grande na comunicação social e espero que continue nesta senda, isto é, uma comunicação mais interventiva, mais virada para a cidadania, isenta, responsável, que possa reflectir, efectivamente, sobre as preocupações dos angolanos. Penso que estas chamadas de atenção da comunicação social também vão ajudar a melhorar muitos fenómenos no nosso país e a alertar as autoridades sobre diversas questões que afectam a nossa sociedade. É um princípio que está consagrado na Constituição
“A minha eleição foi uma surpresa, mas o significado que tem para mim é de grande responsabilidade, porque pesa sobre os meus ombros o facto de assumir este cargo”