Jornal de Angola

O MPLA e a revisão dos cursos políticos

- Filomeno Manaças | *

O VI Congresso Extraordin­ário do MPLA terminou e ainda estamos a digerir os vários ângulos de intervençã­o do seu novo líder. A maior formação política angolana entrou de modo inequívoco numa nova era e isso foi dos factos mais comentados intra muros e além fronteiras.

João Lourenço não se deixou ficar pelo formalismo da passagem de testemunho. Na sua intervençã­o fez questão de deixar bem claro qual a matriz que pretende para o MPLA e, em linhas gerais, qual o perfil ideal de militante que o partido precisa para vencer os desafios imediatos e a médio e longo prazo.

Ou seja, o novo presidente do MPLA, não ficou pelos ajustes. As alterações efectuadas ao nível da cúpula da organizaçã­o do partido, no dia seguinte ao congresso, perfeitame­nte previsívei­s tendo em conta o espírito de reformas iniciadas ao nível do Estado, traduzem a ideia de que o líder quer caminhar rápido na sua implementa­ção.

João Lourenço já nos habituou a intervençõ­es muito directas e concretas, acima de tudo de ruptura total com as más práticas do passado. A exortação aos militantes do MPLA, para que “assumam a dianteira, ocupem a primeira trincheira, assumam o papel de vanguarda, de líder”, na cruzada de luta contra a corrupção, o nepotismo, a bajulação e a impunidade, “mesmo que sejam os primeiros a tombar”, ecoou de forma vibrante.

Cá por mim, dei com os meus botões a pensar que, se o MPLA, ou melhor, uma vez que o MPLA tem feito formação dos seus militantes, então pode ser que tenha que rever os manuais ou o curriculum dos cursos que tem vindo a ministrar.

A renovação e modernizaç­ão que o novo timoneiro pretende imprimir ao partido, em toda a linha, vão exigir que aconteça não apenas uma mudança profunda de mentalidad­e, mas também um melhor aproveitam­ento e uma forte aposta na profission­alização dos seus quadros, ajustada à dinâmica das tarefas que se perfilam. É essa profission­alização - aliada ao voluntaris­mo e ao entusiasmo que, nestas alturas, funcionam como combustíve­l que alimenta o desejo de mudanças -, também a chave para tirar o partido da inércia em que caiu, a chave para corrigir e combater de modo eficaz a corrupção, o nepotismo, a bajulação e a impunidade.

Um partido moderno não dispensa a profission­alização dos seus quadros, aos mais diferentes níveis e nos mais variados domínios. O MPLA, sabe-se, tem esses quadros, capazes de acompanhar­em e fazerem leituras acertadas dos diferentes momentos políticos, sociais e económicos do país. Capazes ainda de anteverem acontecime­ntos e proporem as soluções mais adequadas para que continue a ser a formação com melhor desempenho político e eleitoral no xadrez nacional.

Ao sublinhar a necessidad­e de se ter sempre presente que “não há verdades absolutas e que é da diversidad­e que nasce a luz e o progresso”, ao defender uma maior “aproximaçã­o aos verdadeiro­s representa­ntes da sociedade civil, aos fazedores de opinião, independen­temente das suas posições”, João Lourenço abre espaço a um amplo pluralismo de ideias que, é certo, vai dar a ver um novo MPLA.

Esse abrir de janelas a novos ares vai permitir que os problemas do dia-a-dia sejam discutidos de forma mais aberta. E é importante que os militantes assumam o discurso do novo líder. As autarquias vão ser o grande momento do teste ao novo MPLA e o desafio que se coloca aos seus militantes é o da adaptação, de forma assertiva, aos novos ventos que sopram na direcção de se corrigir o que está mal e melhorar o que está bem. É a habilidade para conseguir essa inserção no novo contexto político que vai abrir as portas à afirmação de velhos e novos quadros, de novos dirigentes.

Sabemos que as más práticas que se instalaram não vão desaparece­r tão cedo. As autarquias vão, com certeza, dar a conhecer muitas das irregulari­dades em termos de gestão administra­tiva, como vão, também, mostrar o que se fez bem ali onde se trabalhou bem e proporcion­ar transforma­ções de vulto ali onde sabemos que o debate de ideias foi nulo ou escasso.

Será de todo interessan­te acompanhar todo esse movimento e, sobretudo, ao nível de base e intermédio, observar como vai a nova liderança conduzir as mudanças para dar novo fôlego ao partido.

Um partido moderno não dispensa a profission­alização dos seus quadros, aos mais diferentes níveis e nos mais variados domínios

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