Jornal de Angola

10 por cento das despesas militares podem acabar com a pobreza

A modernizaç­ão militar continua a ser uma prioridade na Rússia, mas o orçamento militar foi restringid­o por problemas económicos que o país experiment­a desde 2014

- Osvaldo Goçalves

A realização de exercícios militares pelas tropas da Rússia, envolvendo forças da China e da Mongólia na região de Chita, na Sibéria Oriental e Extremo Orionte russo, tem chamado a atenção do Mundo, em particular da OTAN (Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte), que acusa Moscovo de se estar a preparar para um “conflito em grande escala”.

Iniciados na passada terça-feira, 11 de Setembro, com o fim marcado para depois de amanhã, os “Vostok 2018” são considerad­os os maiores exercícios militares da Rússia desde 1981 e envolvem cerca de três mil militares de todos os sectores das Forças Armadas do país e o apoio de soldados chineses e mongóis.

O primeiro dia dos exercícios foi dedicado ao deslocamen­to de tropas e na quarta-feira foram realizados exercícios de luta anti-aérea. Com estas manobras, que decorrem sob o olhar de observador­es da OTAN, Rússia e China assinalam a crescente cooperação entre os dois países.

Apesar de todos os anos as Forças Armadas russas realizarem manobras de grande envergadur­a numa das suas regiões militares, as deste ano são as de maior dimensão desde o fim da Guerra Fria. Além de um grande contingent­e de homens, os exercícios envolvem dezenas de milhares de veículos terrestres, aeronaves e navios. A China participa no “Vostok 2018” (nome do distrito militar onde se realizam este ano os exercícios) com 3.200 militares do Exército do Povo, que também enviou tanques e caças.

A imprensa ocidental assinala que não é a primeira vez que russos e chineses participam em exercícios militares conjuntos, mas nunca a uma escala tão ampla. Os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, estiveram juntos na terçafeira passada, em Vladivosto­k, no Extremo Oriente russo, para assinalar o início das manobras e reiteraram que a participaç­ão conjunta é prova do aprofundam­ento dos laços entre os dois países. “Temos uma relação de confiança na esfera da política, segurança e defesa”, afirmou Putin ao lado de Xi, o líder chinês. Observador­es referem que, num cenário de crise nas relações diplomátic­as com a União Europeia e os Estados Unidos da América, Moscovo encara a China como um parceiro natural.

Despesas militares

Estes exercícios militares dominam os noticiário­s hoje em dia e mobilizam a atenção de analistas um pouco por toda a parte. Alguns dos comentário­sfeitos,queindicia­m a enorme preocupaçã­o dos estados-membros da União Europeia e da OTAN, no geral, levam a imensas questões sobre a correlação de forças entre as principais potências militares, em particular sobre as despesas de cada um em matérias ligadas à defesa.

O que se sabe é que em 2017 o total de gastos militares mundiais subiu para 1,739 trilões de dólares, um aumento marginal de 1,1 por cento, em termos reais, comparativ­amente a 2016.

De acordo com os números do Instituto Internacio­nal de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), as despesas militares da China voltaram a aumentar no ano passado, mantendo uma tendência ascendente nos gastos que dura há mais de duas décadas. Os gastos militares da Rússia, por seu lado, caíram pela primeira vez desde 1998, enquanto os dos Estados Unidos permanecer­am constantes pelo segundo ano consecutiv­o.

Os EUA continuam a ter as maiores despesas militares do mundo. Em 2017, gastaram mais com as suas forças armadas do que os sete países que mais consumiram juntos. Em 2016 e 2017, os gastos foram de 610 mil milhões de dólares.

“A tendência de queda nos gastos militares dos EUA, que começou em 2010, chegou ao fim”, disse o Dr. Aude Fleurant, director do programa SIPRI AMEX. “Os gastos militares dos EUA em 2018 devem aumentar significat­ivamente, para apoiar o aumento de pessoal militar e a modernizaç­ão de armas convencion­ais e nucleares”, acrescento­u.

A Rússia gastou no ano passado 66,3 mil milhões de dólares, 20 por cento menos do que em 2016, a primeira queda anual desde 1998.

“A modernizaç­ão militar continua a ser uma prioridade na Rússia, mas o orçamento militar foi restringid­o por problemas económicos que o país experiment­a desde 2014”, disse Pieter Wezeman, pesquisado­r sénior do programa SIPRI AMEX.

Conduzidos, em parte, pela percepção de uma crescente ameaça da Rússia, os gastos militares na Europa Central e Ocidental aumentaram em 2017, em 12 e 1,7 por cento, respectiva­mente. Muitos países europeus são membros da OTAN e, nesse contexto, concordara­m em aumentar os seus gastos militares, cujo total de todos os 29 membros da aliança foi de 900 mil milhões em 2017, representa­ndo 52 por cento dos gastos mundiais. No Oriente Médio, as des- pesas militares aumentaram 6,2 por cento em 2017. A Arábia Saudita gastou mais 9,2 por cento em 2017, após uma queda em 2016. Com gastos de 69,4 mil milhões, a Arábia Saudita teve o terceiro gasto militar mais alto do mundo em 2017. Irão (19 por cento) e Iraque (22 por cento) também registaram aumentos significat­ivos em 2017.

“Apesar dos baixos preços do petróleo, conflitos armados e rivalidade­s em todo o Oriente Médio impulsiona­m o aumento dos gastos militares na região “, disse Wezeman.

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DR As manobras militares que as Forças Armadas russas estão a realizar este ano são as de maior dimensão desde o fim da Guerra Fria

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