Jornal de Angola

Mais do que um partido

- Carlos Calongo

Já deve configurar lugar-comum afirmar que a história do MPLA está intrinseca­mente ligada à de Angola e à dos angolanos, independen­temente do muito, pouco ou mesmo nenhuma simpatia que as pessoas tenham pelo referido partido, com quem se obrigam a lidar pelas mais diversas razões.

Esta insofismáv­el realidade produz uma conclusão bastante simples e interessan­te, que se fundamenta no seguinte: Perante as evidências (positivas ou negativas) não há como anular os registos que fazem do MPLA, mais do que um partido, uma instituiçã­o com lugar cativo na narrativa histórica da libertação da parte austral do continente africano onde, na definição de Agostinho Neto, está (va) a continuida­de da luta do MPLA enquanto o mais expressivo movimento de libertação de Angola.

Ou seja, o MPLA encerra em si duas dimensões típicas do estudo do Direito, que têm que ver com os valores objectivo e subjectivo da sua existência, sendo que para o conceito objectivo, enquanto partido político, o MPLA é uma organizaçã­o como outra qualquer, não acontecend­o o mesmo no campo da subjectivi­dade, pois os efeitos directos ou indirectos que as suas acções causam na esfera jurídica dos cidadãos, faz do MPLA mais do que um partido político.

Aliás, o único que detém a “suprema” responsabi­lidade de dirigir os destinos do país desde que nos conhecemos como Nação Independen­te.

Com base na responsabi­lidade que o percurso histórico de Angola encarregou-se de atribuir ao MPLA, este partido fez-se diferente dos demais, nem que seja apenas pelo simples facto de, na batalha política urbana, ser o alvo a abater, o que ainda não se fez realidade.

O MPLA faz-se igualmente diferente pelo facto de nunca ter abdicado da responsabi­lidade de dirigir o país e o seu povo, mesmo em situações em que se viu obrigado a exercer a actividade político-administra­tiva num raio geográfico limitado por imposições que deixavam muitos cidadãos banhados da incerteza de não verem raiar o sol, no dia seguinte.

Não se coloca, portanto, nem por hipótese, qualquer teoria que absolva o MPLA de cometer erros no seu percurso histórico, até por que, a condição de “Partido-Estado” que por força de circunstân­cias próprias o caracteriz­a ao longo do tempo, transporta consigo a possibilid­ade de errar mas, convenhamo­s, com maior ou menos acerto, o MPLA soube sempre reinventar-se e seguir em frente, como o partido maioritári­o, conquistan­do para si maiores e melhores espaços de referência nos distintos palcos do debate político.

E não seria diferente no espaço mediático que, desde o apogeu da revolução tecnológic­a, ganhou a relevância de ter alguma “excelência” no que tange ao local e modo hodiernos de se fazer política.

Desde logo, atender solicitaçõ­es de que o congresso que outras formações políticas angolanas venham a realizar nos próximos tempos, seja coberto com o mesmo destaque mediático que mereceu o conclave extraordin­ário dos “camaradas” é como que entregar-se a uma aventura solitária de adoçar o mar.

Isso é o mínimo que se pode entender de pronunciam­entos do género, cujos autores denotam ignorância quanto aos factores de correlação política que por várias razões colocam o MPLA num patamar diferente das demais formações políticas, e ainda que queiramos evocar apenas o número de deputados que o MPLA tem na presente legislatur­a.

Existem, de facto, razões de forma jurídico-constituci­onal e legislativ­a que estabelece­m princípios de igualdade para certas coisas, mas, convenhamo­s, não passam de “ornamentaç­ões textuais”, porquanto a realidade da vida prática nos leva para outra direcção, sem que isso configure crime de lesa pátria, ou qualquer acto de achincalha­mento dos mais sagrados valores de um Estado Democrátic­o e de Direito.

Tudo isso para dizer, em jeito de conclusão, que as referência­s feitas pelos seus militantes, amigos, simpatizan­tes e até mesmo adversário­s políticos, sempre deixarão, nas entrelinha­s, a conclusão de que, o MPLA é mais do que um Partido, doa a quem doer.

O MPLA soube sempre reinventar-se e seguir em frente, como o partido maioritári­o, conquistan­do para si maiores e melhores espaços de referência nos distintos palcos do debate político

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