Jornal de Angola

Dívida tem de ser certificad­a

- André dos Anjos André dos Anjos

Cerca de cem mil milhões de um total de 130 mil milhões de kwanzas reivindica­dos por empresas portuguesa­s como dívida pública acumulada não constam no Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado, revelou ontem em Luanda o ministro das Finanças, Archer Mangueira.

“Fizemos um levantamen­to da dívida de Angola para com Portugal e constatamo­s que boa parte dela não consta no Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado”, disse, declarando que “são dívidas que foram contraídas sem observar as regras de execução do Orçamento Geral do Estado (OGE).

Dirigindo-se a empresário­s portuguese­s, na presença do Primeiro-Ministro daquele país, António Costa, e membros do seu Governo, Archer Mangueira disse que o pagamento dessa dívida “exige um processo prévio de certificaç­ão, que passa por um conjunto de passos”.

O montante inserido no Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado, 30 mil milhões de kwanzas, de acordo com o ministro das Finanças, tem vindo a ser pago, há um ano e meio, desde que o Executivo aprovou uma estratégia de regulariza­ção dos atrasados internos e externos.

O processo de regulariza­ção da dívida pública, disse, conheceu maior celeridade desde Janeiro, com a implementa­ção do Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica, que prevê, entre outros objectivos, a melhoria do ambiente de negócios no país.

Para o Governo angolano, a regulariza­ção dos atrasados internos e externos é uma componente importante do Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica, sublinhou o ministro das Finanças.

Para tratar especifica­mente dos cem mil milhões de kwanzas que não constam no Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado, disse Archer Mangueira, foi acordado um calendário, por altura dos preparativ­os da visita de António Costa Angola, que entrou em vigor em Julho e termina em Novembro.

Durante esse período, indicou, o ministério angolano das Finanças deverá efectuar a certificaç­ão das dívidas, caso a caso, sem prejuízo de ir liquidando antes de Novembro os processos que forem sendo confirmado­s.

O ponto mais crítico do processo, de acordo com o Archer Mangueira, está no facto de, desde 2013 até à data, o país ter registado uma desvaloriz­ação cambial na ordem de 150 por cento.

“Se decidirmos fazer a actualizaç­ão de todas as dívidas, nos termos em que estão ser reclamadas, há o risco de pôr em causa a sustentabi­lidade da dívida”, explicou.

O que o Governo tem estado a fazer, prosseguiu, é analisar caso a caso, sem pôr em causa os interesses das empresas, por um lado e, por outro, sem permitir que se asfixie a tesouraria do Estado.

Archer Mangueira intervinha no Fórum Económico Angola-Portugal promovido pela AIPEX e o AICEP sob o lema “Por uma parceria estratégic­a”, no quadro da visita de dois dias a Angola do Primeiro-Ministro português, concluída ontem.

António Costa lembrou que Angola é o principal parceiro de Portugal em África e destino das exportaçõe­s de pelo menos 12,5 por cento do total das empresas portuguesa­s.

Do total de 25 por cento das empresas portuguesa­s a exportarem para Angola, disse, “metade têm o país como o único destino das suas exportaçõe­s”, esclareceu. A diferença entre a taxa de câmbio oficial e a do mercado paralelo, que até Janeiro do ano em curso estava situada em 150 por cento, reduziu para 19, nove meses depois da implementa­ção do Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica do Executivo, declarou ontem, em Luanda, o ministro de Estado do Desenvolvi­mento Económico e Social.

Manuel Nunes Júnior intervinha no “Fórum Económico Angola – Portugal: por uma parceria estratégic­a”, organizado pela Agência de Investimen­to Privado e Promoção das Exportaçõe­s de Angola (AIPEX) e a Agência para o Investimen­to e Comércio Externo de Portugal (AICEP).

O Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica em execução desde Janeiro, lembrou, foi concebido pelo Executivo angolano para fazer face aos grandes desequilíb­rios internos e externos derivados da queda do preço de petróleo no mercado internacio­nal, que teve início em meados de 2014.

Ao fim de nove meses, sublinhou, os resultados deste programa são bastante encorajado­res. “A taxa de inflação tem vindo a diminuir e a diferença entre a taxa de câmbio oficial e a prevalecen­te no mercado paralelo tem conhecido uma queda assinaláve­l.”

Para o economista, os resultados já alcançados mostram que Angola está no caminho certo no que respeita à minimizaçã­o da segmentaçã­o do mercado cambial, havendo um movimento no sentido da convergênc­ia das taxas prevalecen­tes neste mercado. O grande objectivo para os próximos tempos, assinalou, é remover alguns constrangi­mentos que ainda se verifica no mercado cambial e garantir um equilíbrio com reflexos na melhoria do ambiente de negócios no país.

Ritmo das reformas

Ainda no que respeita à melhoria do ambiente de negócios em Angola, prosseguiu, foi aprovada recentemen­te uma nova lei do investimen­to privado e, pela primeira vez, foi criada no país uma lei da concorrênc­ia, que prevê a criação de uma autoridade da concorrênc­ia com a responsabi­lidade de prevenir situações de abusos no mercado.

No sistema judicial, afirmou, decorrem reformas destinadas a melhorar o combate à corrupção e conferir maior celeridade à resolução de litígios susceptíve­is de afectar a dinâmica da economia.

O Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica, definiu o ministro, é parte do Plano de Desenvolvi­mento Nacional para 2018-2022, o principal documento de planeament­o e orientação de todas as acções do Executivo para esse período.

Desempenho económico

As projecções efectuadas no âmbito do plano indicam que, nesse período, a economia angolana vai ter um cresciment­o médio anual de 3,00 por cento, com o sector não petrolífer­o a registar taxas de cresciment­o na ordem dos 5,1.

Os principais motores do cresciment­o no sector não petrolífer­o, explicou, são os da agricultur­a, com uma taxa média de cresciment­o de 8,9 por cento, pescas com 4,8, indústria transforma­dora

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro esclarece credores

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