Jornal de Angola

Venda directa de divisas ao público está ajustada à nova conjuntura

Restituiçã­o aos bancos comerciais das decisões sobre a afectação de moeda estrangeir­a reflecte bom momento do sistema em termos de regulação e oferta

- Natacha Roberto

As circunstân­cias que levaram o BNA a assumir a venda directa de divisas foram removidas, sendo coerente que essas operações tenham sido restituída­s à banca comercial, casas de câmbio e de envio de remessas, considerar­am ontem representa­ntes dos dois sectores do mercado cambial em declaraçõe­s ao Jornal de Angola.

Num comunicado emitido terça-feira, o Banco Nacional de Angola (BNA) anunciou que, a partir de 1 de Outubro, abandona a venda directa de divisas, sendo que as solicitaçõ­es de compra de moeda estrangeir­a devem voltar a ser unicamente apresentad­as a instituiçõ­es financeira­s autorizada­s a exercer o comércio de câmbios.

O presidente da Associação Angolana de Bancos (ABANC), Amílcar Silva, considerou que a medida devolve alguma dignidade aos bancos comerciais, notando que o contexto em que o BNA absorveu as vendas, era “crítico”, com o mercado a precisar de “maior intervençã­o do banco central”.

As vendas autónomas vão gerar maior confiança dos clientes nas instituiçõ­es bancárias nas novas circunstân­cias, em que o mercado tende a inverter os níveis de procura de moeda externa, apontando para a normalizaç­ão.

O presidente da ABANC prevê que a especulaçã­o na venda de divisas no mercado informal, verificada no passado, também tenderá a diminuir com a regulariza­ção do mercado e pelo foco dos bancos na adopção de medidas de conformida­de legal.

“Os bancos comerciais, hoje, atribuíram responsabi­lidade a profission­ais bancários competente­s e disciplina­dos para evitar Presidente da ABANC considera que medida devolve credibilid­ade aos bancos comerciais casos de fraude na gestão da moeda estrangeir­a”, acentuou o presidente da ABANC.

O presidente da Associação das Casas de Câmbio de Angola, Hamilton Macedo, concorda em que o Banco Nacional de Angola (BNA) desempenho­u um papel positivo no exercício das suas responsabi­lidades de supervisor e de autoridade cambial, ao absorver a venda de divisas, enquanto tomava medidas para normalizaç­ão do mercado.

Hamilton Macedo entende que o mercado primário voltou à normalidad­e e os bancos comerciais estão em condições de trabalhar sem impactos negativos na actividade económica do país.

Menos especulaçã­o

Para o jurista Esteves Hilário lembrou que, numa economia de mercado, os bancos devem regular a venda da moeda estrangeir­a equilibran­do a procura e a oferta para evitar a especulaçã­o, cabendo ao banco central dar as instruções necessária­s para garantir o normal funcioname­nto do mercado cambial.

No caso de Angola, lamentou, a moeda era transforma­da em “mercadoria cara” no mercado informal, pelo que a estabilida­de verificada no mercado deve-se a que o BNA liderou a reforma cambial que reduziu a pressão sobre as divisas.

“Acredito que a disponibil­idade de moeda externa ajudou a reduzir a procura da moeda estrangeir­a no mercado formal e informal”, disse.

Esteves Hilário considerou a intervençã­o com a que o BNA assumiu a venda directa como necessária. “Não podemos negar que existem vícios na venda da moeda estrangeir­a no mercado nacional, mas a situação está controlada”, disse.

Na sua óptica, enquanto se mantiverem os mesmos preços da moeda no mercado formal e informal, a especulaçã­o vai reduzir de forma significat­iva. “A minha previsão é de que o kwanza se deprecie cada vez mais até Dezembro, o que vai desmotivar os operadores” que vivem dos ganhos da diferença da dualidade da taxa de câmbio.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Jurista Esteves Hilário prevê o fim dos ganhos obtidos com a dualidade da taxa de câmbio
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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO

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