Wine regressa ao Uganda “preparado para a luta”
A estrela da música ugandesa, Bobi Wine, que também é deputado, regressou já ao país depois de ter recebido tratamento médico nos Estados Unidos. À chegada foi escoltado pela Polícia até á casa, onde disse aos jornalistas estar “preparado para a luta”, ma
Depois de duas semanas nos Estados Unidos, onde se submeteu a tratamento médico na sequência das agressões de que diz ter sido vítima quando foi detido e acusado de ter apedrejado uma caravana automóvel onde seguia o Presidente Yoweri Museveni, o cantor e deputado Bobi Wine regressou ao Uganda.
No aeroporto, Bobi Wine era aguardado pela Polícia que o transportou para a sua residência, onde se encontra retido a aguardar por julgamento num tribunal militar depois de ter sido acusado de “traição” por, supostamente, ter participado em manifestações contra o Presidente Museveni.
Já na residência, o cantor e deputado teve oportunidade de dizer que estava satisfeito por regressar ao país, sublinhando que estava preparado para a luta descartando, “pelo menos para já”, a possibilidade de se candidatar à Presidência da República.
Aos 36 anos, Bobi Wine, cujo nome real é Robert Kyagulanyi, está a ser acusado, juntamente com mais 32 políticos, de crime de “traição” por ter alegadamente participado numa campanha de violência no período que se seguiu às eleições de Agosto.
A forma como está a ser tratado pelas autoridades ugandesas tem merecido críticas na Europa e nos Estados Unidos, tendo um numeroso grupo de cantores famosos assinado nas redes sociais uma petição exigindo que seja ilibado dos crimes pelos quais está a ser acusado e vai ser julgado.
Choque de gerações
Muita da popularidade de que Bobi Wine goza no Uganda tem a ver com o choque de gerações em relação aos apoiantes de Yoweri Museveni, que está no poder desde 1986.
Para Museveni, Bobi Wine representa cerca de três quartos da população do país, que tem idade inferior a 35 anos. Mais do que isso, Wine é também a voz da juventude emergente de uma classe social intelectualmente evoluída e sedenta de um maior desenvolvimento económico, que dizem estar a ser “travado” pelo aumento dos casos de corrupção.
Durante algum tempo chegou a pensar-se que Bobi Wine aproveitasse estar nos Estados Unidos para não voltar tão cedo ao Uganda, pelo que este seu regresso representa também uma contrariedade para o próprio Museveni que assim terá que continuar a lidar com o problema que ele representa e que o coloca sob uma forte pressão internacional.
Aos 74 anos de idade, Yoweri Museveni está já também refém de uma classe política que não lhe dá espaço de manobra para que possa fazer grandes cedências, mesmo que ele o quisesse.
A forma como os seus correligionários reagiram ao problema criado por Bobi Wine, deixam perceber que a estratégia da repressão ainda está a marcar a acção governativa.
Ainda agora, com o regresso de Wine, a Polícia criou um cordão de segurança alargado que impediu os seus aliados de lhe darem as boas vindas e de se acercarem também da sua residência.
Numa escala que fez no Quénia, visto não haver ligações aéreas directas entre os Estados Unidos e o Uganda, Bobi Wine reconheceu que os aliados de Yoweri Museveni estavam em “pânico” devido ao apoio popular de que desfruta no país.
Aos 36 anos e com todo o tempo para satisfazer algumas legítimas ambições políticas, Bobi Wine estabeleceu como prioridade pensar acerca da sua liberdade, como cidadão ugandês “atento ao que se passa” e pronto para “contribuir no que puder para que o futuro seja melhor.”
O que ele disse no Quénia foi o que fez o ano passado quando, como candidato independente, foi eleito deputado pela circunscrição de Kyadondo, no centro do Uganda dando assim início a uma carreira política que promete vir a dar o que falar.