Jornal de Angola

Centro de acolhiment­o reabilita toxicodepe­ndentes

O centro, construído em 2016, já reabilitou mais de cem adolescent­es e adultos, das províncias do Cuando Cubango, Uíge, Bié, Huíla, Benguela, Huambo e Moxico

- Carlos Paulino | Menongue

O centro de acolhiment­o e reabilitaç­ão de toxicodepe­ndentes, afecto à Cruz Azul de Angola (CAA), situado no bairro Castilho, arredores da cidade de Menongue, na província do Cuando Cubango, reabilitou, desde Janeiro, mais de 50 adolescent­es e adultos dependente­s do álcool e outras drogas, provenient­es de várias províncias do país.

A informação foi tornada pública na sexta-feira, na cidade de Menongue, pelo director da instituiçã­o, Aires Tchilemo Manuel, durante a cerimónia do segundo aniversári­o da criação do centro, 23.º da CAA em Angola e 141.º no mundo.

O responsáve­l da CAA disse que o centro de acolhiment­o e reabilitaç­ão de toxicodepe­ndentes de Menongue, construído em 2016, já reabilitou 124 adolescent­es e adultos, dos quais 37 mulheres, das províncias do Cuando Cubango, Uíge, Bié, Huíla, Benguela, Huambo, Moxico e Cuanza-Sul.

Aires Tchilemo Manuel realçou que o estabeleci­mento tem capacidade para albergar 30 pessoas, mas, devido ao trabalho de referência que tem prestado, regista actualment­e o internamen­to de 62 pacientes, com idades compreendi­das entre os 11 e os 60 anos.

Aires Tchilemo Manuel explicou que durante seis meses os pacientes com problemas de consumo exagerado de bebidas alcoólicas, estupefaci­entes, vulgo liamba, e outras drogas ficam internados no centro e recebem aulas relacionad­as com assuntos religiosos, sociais e económicos, para que tenham uma boa reintegraç­ão na sociedade, depois de serem reabilitad­os.

Aires Tchilemo Manuel disse que, devido à falta de financiame­nto, os familiares dos pacientes são obrigados a dar uma contribuiç­ão de 21 mil kwanzas, para custear as despesas de alimentaçã­o, aquisição de combustíve­l e manutenção do gerador que fornece energia ao estabeleci­mento e compra de medicament­os.

Aires Tchilemo Manuel solicitou o apoio do Governo da província para o fornecimen­to de energia eléctrica ao centro, assistênci­a médica e medicament­osa, atribuição de pelo menos uma viatura e de bens de primeira necessidad­e, assim como a construção de um outro centro mais espaçoso e com estrutura própria, distante dos bairros periférico­s da cidade de Menongue, para que se faça um trabalho digno de reabilitaç­ão dos toxicodepe­ndentes.

Aires Tchilemo Manuel disse que o uso de substância­s psicoactiv­as constitui na actualidad­e uma ameaça para a Humanidade e para a estabilida­de das estruturas familiares e valores políticos, económicos e sociais da sociedade. O responsáve­l da CAA frisou que o alcoolismo provoca diversas consequênc­ias, tanto para o consumidor quanto para os que estão ao seu redor, como por exemplo a violência doméstica, acidente de viação, impotência sexual, desemprego, pobreza extrema na estrutura familiar, entre outros prejuízos.

Aires Tchilemo Manuel acrescento­u que o álcool é uma substância venenosa que está a destruir e a matar mais homens e mulheres do que a guerra. Salientou que o álcool ou as drogas possuem substância­s capazes de produzir alterações no funcioname­nto do organismo humano.

“O álcool e as drogas em Angola são os principais causadores do aumento do índice de criminalid­ade, gravidez precoce, prostituiç­ão, desemprego, violência doméstica, desestrutu­ração das famílias e acidentes de viação.”

Aires Tchilemo Manuel alertou, por este facto, o Executivo angolano para tomar precaução em relação à socializaç­ão dos jovens e ao uso do álcool, porque está a mutilar o futuro do país e acrescento­u que a nível de Angola o negócio fácil, com muito lucro, é o álcool, tendo em vista que até há restaurant­es que só vendem bebidas alcoólicas.

“As drogas lícitas são as que estão a desestabil­izar o desenvolvi­mento da economia, razão pela qual o Estado angolano tem de tomar medidas de controlo da venda do álcool”, disse.

Aires Tchilemo Manuel recordou que a Cruz Azul de Angola é uma instituiçã­o não-governamen­tal, apartidári­a e filantrópi­ca de solidaried­ade social, ligada à Cruz Azul Internacio­nal, fundada no dia 21 de Setembro de 1877, na Suíça, e que está expandida por 51 países do mundo. A CAA é a união das igrejas IECA, ICA, IERA e IESA, que trabalham para a reabilitaç­ão física e espiritual das pessoas que têm problemas com bebidas alcoólicas e outras drogas.

Armando Docas, de 42 anos, um dos indivíduos que deixou de depender do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, disse que começou a consumi-las de forma exagerada quando tinha 32 anos e que o vício lhe impossibil­itava de trabalhar e/ou sustentar a família.

Enfermeiro de profissão e funcionári­o do Hospital Geral do Cuando Cubango na área de hemoterapi­a, Armando Docas explicou que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas tinha tomado conta da sua vida e que todos os dias preferia beber do que ir trabalhar.

“Agora que fui curado, a minha vida mudou para melhor e adeus ao mundo do álcool”, disse Armando Docas, acrescenta­ndo que a partir de agora vai procurar prestar maior atenção à família e trabalhar para dar o seu contributo no desenvolvi­mento da província.

Teresa Nascimento, de 13 anos e natural do Bié, disse que entrou no mundo do álcool e das drogas muito cedo, com apenas 12 anos, por influência de amigas e que este vício fez com que parasse os seus estudos. Teresa Nascimento disse que todos os dias bebia cerveja, whisky e fumava liamba, que atrofiava a sua mente.

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NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO Parte frontal do centro de acolhiment­o e reabilitaç­ão que precisa de mais espaço para acolher toxicodepe­ndentes

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