Jornal de Angola

Regresso da Renamo ao voto é forte desafio para a Frelimo

As próximas eleições autárquica­s em Moçambique, marcadas para 10 de Outubro, constituem um forte desafio para a Frelimo por força do regresso da Renamo ao voto, depois de este partido ter boicotado as duas anteriores corridas para a consolidaç­ão da descen

- Victor Carvalho

Apesar de algumas dificuldad­es que têm rodeado o processo de preparação da realização das próximas eleições autárquica­s em Moçambique, existe a convicção de que a data de 10 de Outubro é inalteráve­l.

Os diferentes partidos têm estado empenhados na preparação da campanha eleitoral que decorrerá em todas as 53 autarquias do país, havendo a registar o regresso a todo este processo da Renamo, o maior partido da oposição.

Depois da morte do antigo líder, Afonso Dhlakama, em 3 de Maio deste ano, o partido decidiu manter a candidatur­a uma vez que considerou estarem ultrapassa­dos os factos que impediram as duas anteriores participaç­ões.

Na altura, a Renamo alegou “falta de transparên­cia” para voltar as costas ao processo o que, de certo modo, facilitou os triunfos obtidos pela Frelimo, que apenas perdeu em três autarquias para o MDM, terceira força política em Moçambique.

Um outro facto novo, e politicame­nte importante, é que estas são também as primeiras eleições depois de o Parlamento ter aprovado a alteração da Constituiç­ão, para encaixar os acordos de descentral­ização do poder, alcançados no início deste ano entre a Renamo e o Governo da Frelimo.

O silêncio das armas dura há dois anos

Com as armas em silêncio desde Dezembro de 2016, com um cessar-fogo que em breve poderá ser substituíd­o por um tratado de paz, a Constituiç­ão foi alterada em Maio.

As leis ordinárias, que resultam dessa alteração, deviam ter sido adaptadas e aprovadas pelo Parlamento em Junho, mas a Frelimo suspendeu essa aprovação até que a Renamo desse passos significat­ivos no sentido de entregar as armas.

Face a isso, depois de alguma tensão entre os dois partidos, o calendário eleitoral teve de ser provisoria­mente alterado, até que em Julho tudo voltou à forma inicial.

Um dos aspectos da nova lei, no que respeita às autarquias, a principal mudança tem a ver com o facto de deixar de haver um boletim para a assembleia municipal e outro para a câmara: os eleitores põem a cruz apenas num boletim, para a assembleia municipal, e o cabeça de lista vencedor é eleito presidente da câmara.

Já no que toca à disputa política propriamen­te dita, na capital, Maputo, a Renamo foi buscar o mediático deputado Venâncio Mondlane ao MDM para tentar conquistar a capital, mas a Comissão Nacional de Eleições afastou-o, consideran­do ilegal a candidatur­a, pelo facto de ele ter renunciado ao mandato na Assembleia Municipal de Maputo em 2015.

Antes, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) tinha chumbado, também na capital, a candidatur­a de Samora Machel Júnior, filho do primeiro Presidente moçambican­o, que avançou como independen­te depois de não ter sido aceite pelo seu partido, a Frelimo. As duas decisões da CNE, das quais foram apresentad­os recursos para o Conselho Constituci­onal, causaram alguma apreensão tendo a Renamo apontado “motivações políticas.”

O mais recente problema aconteceu quando na última reunião o Conselho de Ministros retirou o mandato a Manuel de Araújo, autarca de Quelimane, uma das maiores cidades do país, por ter aderido à Renamo durante um mandato para o qual foi eleito pelo MDM.

Entretanto, plataforma­s de observação eleitoral moçambican­as listaram inúmeras pequenas falhas, de aparente fácil resolução, mas para as quais têm que ser encontrada­s soluções, até porque em 2019 Moçambique irá de novo às urnas, para fechar o ciclo com a realização das eleições gerais.

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DR Os principais partidos políticos consideram estarem criadas as condições para a votação

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